As perip�cias de um sabi� visitante

Passei uns bons dias me divertindo com um visitante inquieto e absolutamente irrespons�vel: um sabi�, cuja parceira era totalmente diferente, tinha listas brancas entre as penas. Como todas as minhas janelas ficam abertas, ele rodava toda a �rea social com a maior intimidade, pousava nas cadeiras, deixava um cocozinho aqui, outro ali. Descobri que sua intimidade e const�ncia vinha de um problema familiar: estava construindo um ninho numa parede que tenho junto � janela da sala de jantar, que � coberta por mudas de orqu�deas. Quando ia ao jardim, via o danadinho voando de c� pra l�. Quando n�o carregava algum item construtor no bico, piava fortemente e ia se esconder nuns p�s de pinheiros. Custei a descobrir onde � que o ninho estava localizado, mas, quando descobri, achei a maior gra�a: estava entre a orqu�dea e a parede. E como tem uma janela junto, ela era fechada na hora em que o jardim era molhado, o ninho n�o ficava livre da �gua. Mas o ninho estava l�, firme, e ele voando por toda a �rea.

Um belo dia come�aram os estragos: errou a dire��o do voo e quebrou uma pe�a de cristal maravilhosa, que ganhei de uma amiga. Feita em Mil�o, era parte de v�rios objetos do mesmo tipo vendidos em antiqu�rio, valendo uma nota, pela antiguidade e qualidade: o cristal verde, lindamente modelado em objetos variados de decora��o e uso, � decorado a ouro. Fiquei t�o encantada com a cole��o quando foi exibida para compradores que uma das minhas amigas, que j� n�o mora mais aqui, abonada, comprou tudo e me mandou uma esp�cie de fruteira, com p�, que ficava sobre a mesa da minha sala. Pois n�o � que o danado do sabi� conseguiu quebrar a fruteira? Como dava para colar, tentei bancar a restauradora, mas n�o dei conta. Minha irm� vai lev�-la a um profissional que restaura vidro e cristal quebrado com o melhor resultado do mundo. Se � que sua oficina ainda existe, funcionava na Avenida Brasil, no Bairro Santa Efig�nia.

N�o satisfeito com o estrago, o sabi� intrometido meteu seu voo em uma manga de vidro de um casti�al e pronto: quebrou a pe�a sem fazer for�a. S� no voo. Para quem gosta dessas coisas antigas, que ningu�m compra mais, esse tipo de manga desapareceu do mercado, ningu�m mais tem, porque n�o existe demanda. Uma loja na Curitiba, perto da Avenida Amazonas, costumava ter, j� n�o tem mais. Como meu caminho para o trabalho passa todo dia pela Avenida do Contorno, tenho observado que, quase na esquina com a Rua Leopoldina, tem uma esp�cie de dep�sito de pe�as antigas. A porta de entrada � pequena, vitrine n�o existe, mas olhando bem d� pra ver que l� dentro tem mercadoria diferente. Logo na entrada d� pra ver um daqueles vasos grandes de cer�mica chinesa colorida.

Fui l� e ca� de quatro: o espa�o � imenso, tem de tudo um pouco. Esculturas antigas de metal lindas, lustres preciosos, m�veis de todas as �pocas e tudo mais que uma casa de bom gosto comportava antigamente – e que os novos est�o deixando de lado. Al�m de pe�as e m�veis decorativos, h� tamb�m lou�as, xicrinhas antigas de caf�, espelhos, e, imaginem, pe�as para cozinhar. A propriet�ria, Am�lia Alves, trabalha muito com consigna��o e, portanto, o estoque � mais do que variado. � claro que n�o t�m manga de casti�al para vender, a propriet�ria conta que um cliente havia comprado todas que estavam l�, na semana anterior. Estou � espera de que outras apare�am. Enquanto isso, o ninho do sabi� est� l�, no mesmo lugar. Mas parece que ele se cansou do movimento e mudou sua moradia para outro lugar. Danado...