
Simp�tica, delicada, gentil e com uma apar�ncia quase fr�gil. Essa pode ser a impress�o que se tem da m�dica ginecologista e obstetra Norma Moraes Silva, ou apenas Norma Salvador. Sim, ela � extremamente simp�tica, delicada e gentil, mas nada fr�gil, ao contr�rio, sempre foi uma mulher forte, decidida, trabalhadora, empreendedora e, acima de tudo, m�e exemplar. Decidiu fazer medicina em uma �poca em que os pais n�o permitiam, porque “mulher n�o pode ser inteligente, tem que ser professora, se casar e ter filhos”. Conseguiu apoio na for�a de sua m�e. Venceu dois c�nceres, sem nunca alardear o problema e nem mesmo se fazer de v�tima. Ao lado do marido, o m�dico e empres�rio Jos� Salvador Silva, constru�ram quatro hospitais em Belo Horizonte, est�o construindo o quinto em Salvador, e criou uma fam�lia unida, com quatro filhos, 10 netos e oito bisnetos. Norma � o exemplo de mulher que queremos homenagear no Dia Internacional da Mulher.
"Minha m�e � o esteio do meu pai. Esposa, m�e, m�dica, av�, sempre se dedicando plenamente. Sem a dra. Norma, o dr. Salvador n�o teria alcan�ado sucesso completo"
Renato Salvador
Como � essa hist�ria de ser meio mineira e meio baiana?
Nasci em Feira de Santana, a porta de entrada do sert�o, chamada a Princesinha do Sert�o, que fica a 108 quil�metros de Salvador. Depois de Salvador, � a maior cidade do estado, e recebeu esse nome por causa de uma feira de gado muito concorrida que tinha l�. Quando se vai para qualquer estado do Nordeste tem que passar por Feira. Sou baianeira, porque minha m�e era mineira, apaixonada por Minas, e meu pai, Armando Moraes, baiano. Maria Julieta Moraes, que faleceu em 2000, foi minha grande companheira, minha amiga, uma grande mulher. Gostava muito de ler, gosto que passou para todos os seus filhos, e nos criou com muito amor e carinho. Meu pai era caixeiro-viajante e fazia a rota Juazeiro-Janu�ria. Minha m�e era de Janu�ria, mas tem uma hist�ria: minha m�e biol�gica era Maria Pia, irm� de Julieta. Maria Pia faleceu 45 dias depois de eu ter nascido, porque teve febre puerperal, e meus av�s paternos e minha tia me assumiram. Talvez seja por isso que virei obstetra, para nunca mais deixar uma mulher morrer de parto. Quando eu tinha 2 anos, meu pai foi visitar minha av�, em Janu�ria, e me levou. Minha av� ficou louca comigo. L� ele perguntou para a minha tia Maria Julieta – que era amic�ssima de minha m�e biol�gica, com dois anos de diferen�a –, se ela queria se casar com ele. Ela ficou em d�vida, mas minha av� disse para ela que nunca mais me veria, porque meu pai me levaria embora. E ela respondeu que veria sim, porque se casaria com ele. Acho que foi nessa hora que ela decidiu se casar. Casaram-se em Janu�ria e foram morar em Feira de Santana. Tiveram quatro filhos homens. Por 26 anos, fui a �nica mulher na fam�lia: �nica neta, filha, sobrinha, at� nascer minha prima. Eu era endeusada na fam�lia, mimad�ssima. Tudo que eu queria, eles deixavam. Era uma rainha. Toda segunda-feira, meu av� chegava com um presente para mim. Mam�e falava que ele ia me colocar perdida. Ele respondia que n�o sabia at� quando ia viver, e morreu cedo, aos 64 anos. Mas quem eu considero minha m�e, que eu amo e admiro, que me educou e ensinou tudo, foi Julieta.

Cresceu em Feira de Santana?
Meu pai tinha uma loja em Feira de Santana, mor�vamos l�, e �amos sempre para a fazenda do meu av� Manoel. Mas ele morreu cedo e nos mudamos para a fazenda, porque meu pai assumiu os neg�cios. Fui criada na fazenda, que era como um arraialzinho, tinha muitos festejos, tinha uma igrejinha com missa uma vez por m�s. Na idade de estudar, minha m�e me mandou para casa da minha av� materna, em Janu�ria, para fazer o prim�rio no Grupo Escolar Bias Fortes, onde minhas tias davam aula, onde fiquei por tr�s anos. Eles nos visitavam sempre. Meu av� materno tamb�m era um grande fazendeiro na regi�o. Acho que por isso gosto tanto de fazenda.
"Minha m�e, sempre muito afinada com meu pai, nos demonstrava em toda oportunidade a preocupa��o com a harmonia de nossa fam�lia, a import�ncia de estarmos juntos, de saber que, maior do que o interesse individual, � nossa uni�o"
Henrique Salvador
O que gostava de fazer quando era crian�a?
Toda semana, meu av� Manoel me dava uma boneca que eu acabava abrindo para operar. Brincava de m�dico com elas, do nada, porque na fam�lia s� tinha um m�dico. O irm�o da minha av� Zuzu, dr. Ramos, era famoso, e foi embora morar em Paris. Fui a primeira m�dica da fam�lia. Minha m�e falava com meu av�: “Seu Moraes, n�o d� mais boneca para ela porque ela abre todas”. N�o adiantava nada. Eu era levada, andava a cavalo, e as brincadeiras eram de menino, porque s� tinha irm�os. Acordava �s 5h para ir com meu pai para o curral tirar leite da vaca, e tomava o leite ali mesmo. Meu pai criava de tudo na fazenda, n�o compr�vamos quase nada. E eu gostava muito de estudar.
"Um exemplo da minha m�e que me norteou muito foi de como ela conseguia equilibrar todos os seus compromissos como m�dica com as necessidades da casa, o atendimento aos quatro filhos e ao marido. Dava conta de tudo, sempre bem disposta, com gosto e alegria"
Maria Norma Salvador Lig�rio
Quando voltou para a Bahia?
Voltei para me preparar para o curso de admiss�o. O padre Hamilton sugeriu de mandarem para o col�gio interno Nossa Senhora das Merc�s, das irm�s ursulinas, em Salvador. Fiquei sete anos l�. Fiz admiss�o, gin�sio e segundo grau. Sai decidida a fazer medicina. Imagina, naquela �poca, 1950, uma mulher querer fazer medicina. A fam�lia do meu pai se reuniu para n�o deixar. A minha m�e foi a �nica que brigou por mim, bateu o p�, e meu pai concordou porque ela era uma mulher muito forte. Mam�e peitou a fam�lia toda, disse que ningu�m tinha que se intro- meter. A op��o era eu fazer a faculdade em Belo Horizonte, porque minha av� materna estava morando aqui com minhas tias, porque eu tinha 18 anos e meu pai n�o me deixaria morar em rep�blica em Salvador. O medo deles era eu vir para c�, me casar e n�o voltar. Meu pai imp�s uma condi��o: eu faria o vestibular, e se n�o passasse de primeira voltaria e estudaria para professora. Concordei, mas fiquei em uma ang�stia enorme.

E como foi no vestibular?
Cheguei a Belo Horizonte atordoada, porque n�o conhecia nada daqui, e tinha a obriga��o de passar. Uns amigos me indicaram um professor de f�sica para me dar aulas particulares, Get�lio Juarez Ferreira – marido de L�gia Mattos –, disciplina na qual era mais fraca. Fiquei com tanto medo de ver o resultado do vestibular que mam�e e tia Nori foram ver o resultado e acabaram tomando o trote no meu lugar. Passei.
Foi na faculdade de conheceu o Salvador?
Foi, mas tem uma coincid�ncia a�. Faz�amos vestibular no Instituto de Educa��o. Salvador resolveu ir com alguns amigos ver quem estava prestando prova – ele entrou no curso um ano antes –, e foi na sala onde tinha feito a prova e eu estava sentada na carteira em que ele tinha sentado. Me achou bonita e disse aos amigos que se casaria comigo. Como n�o sabia meu nome, quando as aulas come�aram ficava na porta da sala para me ver, mas eu tinha ido para a Bahia comemorar em fam�lia, e cheguei uns dias atrasada. Ele achou que eu n�o tinha passado. Depois ele me viu. Um dia, algumas amigas me apontaram ele na escola, e disseram que uma delas era apaixonada por ele.

Quando se aproximaram?
Eu nunca pensei em namorar com ele. Quando estava no terceiro ano e ele no quarto, fomos nos aproximando. Sabia que eu gostava muito de poesia e foi assim que ele chegou. Ficamos amigos. Eu sempre gostei muito de ler, e ele mais ainda. S� come�amos a namorar quando eu estava no quarto ano. Tivemos umas briguinhas por causa da diferen�a de g�nios, somos muito diferentes, mas deu certo por isso, eletricidades contr�rias se atraem. Minha formatura foi em 8 de dezembro de 1957, e nos casamos no dia 14, para aproveitar que toda a minha fam�lia e amigos estavam aqui. Naquela �poca, era tudo muito diferente. Era proibido entrar no carro de um rapaz sozinha, e Salvador tinha carro. Minha m�e me escrevia cartas pedindo para eu tomar cuidado. Como o mundo mudou. Tenho 63 anos de casada, e dois anos e 9 meses de namoro e noivado.
"Sonhava encontrar uma mulher especial, linda, com quem pudesse dividir meus projetos, minha vida. Tive sorte! Encontrei Norma na Faculdade de Medicina. Mais que tudo, fui encontrado por Norma. Minha grande companheira e parceira. Herdamos de nossos pais o gosto pelo trabalho, os h�bitos simples, o prazer de madrugar e caminhar, a coragem, o bom humor, a humildade diante dos erros, a solidariedade, a admira��o e o respeito pela natureza"
Jos� Salvador Silva
Sua gera��o vivenciou muitas mudan�as no mundo. Como foi acompanhar e se adequar a todas elas?
A medicina me ajudou muito, minhas clientes me ensinaram demais, mais do que eu a elas. Convers�vamos muito sobre casamento, namoros. A mulher era inferiorizada. L�amos muito, faz�amos muitas reuni�es com m�dicos, pol�ticos e fomos aprendendo. Sempre convivemos com um meio mais intelectualizado, que pensava mais � frente. Isso ajudou bastante. Tivemos um grande mestre, Henrique Horta, que nos ensinou muito sobre �tica e medicina.
Sofreu preconceito na faculdade por parte dos colegas e dos professores?
Na sala do vestibular, eles falavam que t�nhamos ido l� tomar o lugar deles, mas depois que entramos na faculdade, n�o. Eram 108 homens e quatro mulheres na sala de aula. Eu sou a �nica das minhas colegas que ainda est� viva.
Os filhos chegaram cedo?
Cedo at� demais. Henrique nasceu em outubro de 1958, adiantado. Como n�o existia p�lula, o controle era por tabela, eles vieram em escadinha, Renato, Maria Norma e M�rcia.
Salvador j� tinha o sonho de fazer um hospital?
Desde a faculdade ele tinha o sonho de crescer. Uma vez, me disse que depois que nos form�ssemos ir�amos construir um hospital. Eu sempre apoiei, era o ideal dele, e se tornou o meu tamb�m. Mas foi dif�cil, porque come�amos do nada.
Como foi come�ar a vida de m�dica com filhos pequenos?
Sempre tive um ideal e um desejo muito forte de cumprir uma miss�o. E pude contar com boas ajudantes. Cada filho que nascia, minha m�e vinha e ficava tr�s meses comigo. Quando era s� o Henrique, colocava ele no mois�s e levava para o Hospital Vera Cruz, para eu fazer os partos e l� tinha a irm� Maria J�lia que tomava conta dele para mim. Coloquei os meninos novinhos no Col�gio Alcinda Fernandes, que era dirigido por uma baiana, de quem fiquei muito amiga. Acabei me tornando m�dica de l�. Elas seguravam muito os meninos enquanto eu estava no consult�rio.
Trabalhava muito?
Muito. Trabalhei em quase todos os hospitais de Belo Horizonte, dava plant�o no Sindicato dos Empregados de Com�rcio, no Iapfesp, era m�dica do Col�gio Alcinda Fernandes, fundei o ambulat�rio da Igreja Nossa Senhora do Carmo e outro no Belvedere, atendia por cerca de duas horas na Igreja do Carmo. Tem horas em que olho para tr�s e me pergunto como dava conta tendo quatro filhos. Parei de atender clinicamente no ano passado.
Trabalhando tanto foi aprendendo o que dava certo e errado para implantar no hospital?
Claro, aprend�amos vendo os erros dos hospitais onde trabalh�vamos. Quando n�s pensamos em construir um hospital, primeiro tentamos fazer um, junto com Henrique Horta, mas ele era muito novo e ningu�m quis entrar. Ent�o, fomos para o Vera Cruz, que era �timo. Depois fundamos o Hospital Santa M�nica, com um grupo de colegas, vendemos participa��o do hospital para nossas clientes. Mas foi um fracasso, por m� administra��o.
N�o desanimaram depois de duas tentativas fracassadas?
N�o, aprendemos com os erros. O Mater Dei come�ou com um monte de s�cios minorit�rios. Jos� Marinho, Marc�lio, Wilson Eust�quio, Wilson Batista, Helv�cio, Danilo Marinho, eram os principais. Quando precis�vamos injetar mais dinheiro eles n�o quiseram, preferiram ganhar dinheiro no overnight, e foram saindo, vendendo as cotas para n�s.
Os filhos n�o cobravam sua presen�a?
Quando fal�vamos que �amos trabalhar eles n�o achavam ruim, quando fal�vamos que �amos para o cinema eles choravam. Mas eles iam muito com a gente para o hospital.
"Minha m�e sempre foi um exemplo � parte: n�o apenas como m�dica devotada e reconhecida, tamb�m como m�e e companheira de seu marido em todas as dificuldades e obst�culos. Sempre trabalhou muito, deu plant�es, fez partos a qualquer hora do dia ou da noite, participou de congressos, sem deixar de lado sua casa, seus filhos e seu marido. At� hoje fico admirada com a m�gica que ela fazia para conseguir tudo isso"
M�rcia Salvador Geo
Seus filhos s�o muito unidos. Como foi essa cria��o?
Criamos os meninos com muito amor e muita disciplina. E ensinamos atrav�s do exemplo, com muita liberdade de conversa. Para estimular a leitura, nosso presente de anivers�rio era que cada um lesse um livro, e no almo�o do anivers�rio tinham que contar a hist�ria e fazer uma cr�tica. Com isso, aprenderam a tomar gosto pela leitura, e treinaram a falar em p�blico. Come�aram cedo, e os livros eram de acordo com a faixa et�ria. Henrique e Renato come�aram a trabalhar com 14 e 13 anos, quando o Salvador deu um caminh�o para eles tomarem conta. Quando alguma cliente ligava para casa e eu n�o estava, o Henrique receitava pelo telefone. Tem febre? Novalgina. Tem dor? Baralgin. Foram criados em um ambiente de medicina e vendo que n�s am�vamos o que faz�amos, porque sempre cheg�vamos felizes em casa. Como todo irm�o, �s vezes brigavam, e podiam brigar, mas depois tinham que pedir desculpas e abra�ar um ao outro. Nas f�rias, �amos para Feira de Santana. Salvador nos levava de carro, porque a passagem era muito cara, ficava um dia e voltava para traba- lhar. Era uma viagem de 16/18 horas. S� par�vamos para colocar gasolina. Lev�vamos tudo, at� peniquinho para os meninos. Faz�amos uma din�mica de grupo na viagem, quando todo mundo falava o que pensava um do outro, o que algu�m tinha feito, que o outro n�o gostou, inclusive sobre Salvador e eu. E depois ningu�m podia ficar com raiva um do outro. Era para corrigirmos e ficar mais amigos. Demorava umas quatro horas. Podia at� me xingar e xingar o pai, mas n�o podiam ficar com raiva e n�s n�o castigar�amos.
Como voc� recebia isso?
Nos prepar�vamos para isso, mas �s vezes eu me assustava. E servia para eu corrigir algumas atitudes que tinha. Isso tamb�m nos uniu muito. E fazemos isso at� hoje, no Conselho de Fam�lia, do qual sou presidente, e nos reunimos uma vez por m�s, com a presen�a tamb�m dos netos.
Por que acha que escolheram medicina?
Foi uma escolha natural de cada um. Nunca falamos com nenhum deles para fazer medicina, mas quando estavam no gin�sio lev�vamos para ver um parto, uma cesariana. O Renato, quando viu sangue, desmaiou, e disse que n�o dava mesmo para trabalhar com isso. Como o Salvador j� tinha trabalhado muito com constru��o, o Renato escolheu engenharia. Nossa vida com os meninos foi com o bin�mio: amor e disciplina. A casa vivia cheia de amigos, jogando bola. A vida era muito saud�vel, �amos muito na fazenda.
Voc� ama fazenda. Vai toda semana e faz quest�o de cuidar das coisas?
A primeira fazenda foi heran�a do pai de Salvador, em Baldim, terra natal dele, Fazenda Serra Verde. � mais distante, mas �amos l� com frequ�ncia. Deixava os meninos l� passando as f�rias com o irm�o de Salvador, e voltava para trabalhar. Hoje, o Salvador � quem vai l�. Depois de muito tempo compramos a fazenda de Confins. Vou quase toda semana e fa�o quest�o de cuidar da horta, colocar a m�o na terra. Tenho um grande pra- zer. Aprendi muito com meu av� e meu pai, para mim n�o � trabalho, � prazer. E os meus meninos gostam tanto que hoje cada um j� tem a sua pr�pria fazenda. Na vida a gente gosta do que a gente conhece.
Em fevereiro de 2022, ser� inaugurado o Hospital Mater Dei de Salvador. A escolha da cidade foi por ser seu estado de nascimento?
Pode ter contado um pouco, mas n�o foi por isso. Fizemos um estudo aprofundado para ver onde dever�amos implantar o novo hospital. Salvador � a terceira capital do pa�s, passou Belo Horizonte. � a entrada para o Nordeste, e faltavam leitos na regi�o. Diante de toda essa falta de fluxo e necessidade, tornava-se importante e vi�vel ter um hospital de porte ali. Mas n�o posso esconder minha felicidade e orgulho de ser na Bahia. Muitas pessoas de l� ligam para mim dizendo que escolhemos por minha causa, n�o foi, mas deixe que pensem.
Quando olha para tr�s e v� o que conseguiram fazer e ainda est�o fazendo, desde que entrou na medicina em uma �poca que era dominada por homens, o que sente?
Orgulho, mas nos preocupamos por causa da situa��o do pa�s e do mundo, das mudan�as todas, mas confiamos e vamos pra frente. Pergunto a Deus “ser� que fui capaz disso?”. Mas tenho que tirar o chap�u para os meninos (Henrique, Maria Norma e M�rcia), n�o porque s�o meus filhos, mas o que eles est�o fazendo... O que o Henrique est� fazendo � admir�vel. Outro dia, Maria Norma disse que n�o conhece uma amiga que trabalha o tanto que eles trabalham. � verdade, � de segunda a segunda. Tem dias que Henrique chega �s 5h para ope- rar. Fico impressionada com a resist�ncia deles. Mas gra�as a Deus conseguem conciliar e ter tempo para a fam�lia e para o lazer, como eu sempre fiz. Eu trabalhava muito, mas sempre coloquei em primeiro lugar minha fam�lia, meus filhos. M�dica tem muitas, mas m�e � s� uma para meus fi- lhos. Se um deles precisasse de mim, eu largava tudo e ia atend�-lo.
Voc� preside o Conselho da Fam�lia. Qual a finalidade?
Faz parte da Rede Mater Dei de Sa�de, � um �rg�o de governan�a corporativa que objetiva a longevidade das empresas fami- liares. � mais uma ferramenta nos esfor�os de que a institui��o perdura, mantendo os valores e preceitos que a criaram e que a fazem coesa e �nica. As reuni�es visam equilibrar os interesses da fam�lia, definir limites entre esses interesses familiares e empresariais. Promover um ambiente familiar saud�vel e prop�cio para a administra��o de conflitos e assim preservar nosso legado e valores familiares. � o Conselho de Fam�lia que planeja a sucess�o familiar, a transmiss�o de bens e heran�a, desenvolvimento dos membros, etc. Quem nos ajudou nesse processo foi a professora e consultora Elismar �lvares, da Funda��o Dom Cabral. Sou a presidente e tenho J�lia e Fl�via, minhas netas, como vice-presidentes, me ajudando nessa tarefa.
Voc� venceu duas doen�as graves. Como foi isso, principalmente sendo m�dica?
Quando os meninos estavam no exterior, na faixa entre 18 e 15 anos, eu descobri um c�ncer no est�mago. N�o me contaram, Salvador falou que era �lcera, mas precisava operar. Mas eu sabia. Tentei protelar para quando eles voltassem, mas n�o podia. Gra�as a Deus a cirurgia foi um sucesso t�o grande que tirou tudo, n�o precisei fazer quimioterapia. Fa�o muitas endoscopias, e est� tudo bem. Depois de d�cadas, tive um c�ncer de mama. Percebi um n�dulo, fizemos a bi�psia e deu que era benigno, mas uma assistente do Henrique pediu para estudar um pouco mais o meu caso, e duas horas depois voltou e pediu para eu fazer outra bi�psia, e a� sim, deu o resultado correto. Para falar a verdade, n�o me assustei, encarei o problema com tranquilidade. O Henrique queria me levar para operar com um professor dele, mas eu n�o aceitei, pedi que ele fizesse a cirurgia. Confio demais nele, mas depois que passou eu pensei no que eu tinha feito com ele, coitado.
Apesar de tudo que j� constru�ram, acha que ainda falta alguma coisa?
Falta o hospital crescer mais, sair de Minas, incentivar os meninos para a perenidade do nosso legado. Isso me preocupa. Voc� sabe que s� 10% das empresas familiares sobrevivem � terceira gera��o, e nossa terceira gera��o, eu tenho certeza, est� imbu�da desse legado. Porque mesmo os que n�o fazem parte da dire��o e da gest�o do hospital tem entusiasmo e amor por ele.