
Enquanto a sociedade mineira florescia, as festas promovidas em resid�ncias e clubes eram bem elaboradas, alinhad�ssimas. As decora��es dos ambientes eram entregues �s melhores floristas da cidade, que produziam efeitos invej�veis com flores naturais. Os convites eram disputados e as mulheres convidadas tinham uma proposta principal: n�o repetir vestidos e joias. Foi uma �poca gloriosa de luxo e eleg�ncia. Ser escolhida nas listas das dez mais elegantes, criadas pelos colunistas sociais da �poca, Wilson Frade e Eduardo Couri, significava reconhecimento nacional. E era uma responsabilidade sem tamanho. O estilo ditado por Paris e reproduzido com bom gosto e requinte pelas �timas modistas que existiam em Belo Horizonte, que costuravam com perfei��o, n�o tinha a fama de dois estilistas brasileiros: Dener Pamplona de Abreu e Clodovil Hernandes. Eles eram respons�veis pela cria��o de modelos exclusivos que marcaram �poca. Ambos fizeram nome e sucesso na alta sociedade mineira.

Clodovil Hernandes foi estilista, apresentador de televis�o e pol�tico brasileiro. Nasceu em 17 de junho 1937, em Elisi�rio, no interior de S�o Paulo. Desde jovem, demonstrava interesse pela moda e pelo mundo das celebridades. Come�ou sua carreira como estilista em 1959, quando inaugurou sua primeira loja em S�o Paulo. Seu estilo extravagante e suas cria��es �nicas logo chamaram a aten��o do p�blico e de personalidades famosas.
"Ao longo dos anos 1970, dener pamplona disputou com Clodovil Hernandes o t�tulo de "Papa da alta-costura brasileira". ambos deixaram um legado duradouro na moda do pa�s"
Ao longo de sua carreira, Clodovil conquistou fama nacional e internacional. Ele vestiu diversas celebridades brasileiras e at� mesmo a rainha Elizabeth II, da Inglaterra. Seus desfiles eram sempre marcados pela originalidade e pelo luxo. Clodovil tamb�m se destacou como apresentador de televis�o, comandando programas de moda e entrevistas com personalidades.

Al�m de sua carreira na moda e na televis�o, Clodovil teve uma breve incurs�o na pol�tica. Em 2006, foi eleito deputado federal pelo estado de S�o Paulo. Sua atua��o pol�tica foi marcada por pol�micas e declara��es controversas, mas ele tamb�m se dedicou a causas sociais, como a luta pelos direitos dos homossexuais.

H�bito de desenhar
Clodovil Hernandes, como seu nome ficou registrado na certid�o de nascimento por um equ�voco do cart�rio, foi adotado por Domingos Hern�ndez e Isabel S�nchez Hern�ndez, um casal de imigrantes espanh�is. Desde ent�o, ele n�o teve mais nenhuma rela��o com os seus pais biol�gicos. Segundo Clodovil, a m�e, a princ�pio, o rejeitou, tendo apenas, com o tempo, sentido por ele um amor genu�no e forte. Com o pai, a rela��o era mais complicada. Tendo dele recebido duras cr�ticas sobre o seu h�bito de desenhar e o seu “jeito fresco”, o estilista contava ter vivido o trauma de quando pequeno ter visto o seu pai adotivo na cama com outro homem.
Sua paix�o pela costura foi despertada logo cedo, quando seus pais abriram um com�rcio de tecidos. Apesar do or�amento ainda limitado, ao longo de toda a sua inf�ncia e juventude, seus pais investiram em uma educa��o de qualidade. Ele estudou em um col�gio extremamente cat�lico. Posteriormente, admitiu ter sido v�tima de abusos por um padre nessa mesma escola.
Aos 16 anos, fez seus primeiros desenhos: 11 vestidos. Levou-os a uma loja no Centro de S�o Paulo e a gerente comprou seis das cria��es. Foi a� que come�ou a trabalhar com moda. Em 1960, aos 23 anos, seu talento conquistou mais notoriedade: ganhou seu primeiro pr�mio, nomeado “Agulha de Ouro”, na �poca, um prestigiado t�tulo no meio fashion. Logo no come�o da d�cada de 1970, Clodovil j� era um dos designers mais reconhecidos do pa�s. Al�m de assinar pe�as feitas sob medida para grandes mulheres, como Hebe Camargo e Elis Regina, ele se dedicou aos figurinos de cinema e a cole��es no estilo pr�t-�-porter, que se tornaram bastante populares pela sofistica��o e cores alegres.
alfinetar um ao outro
Cl�, para os �ntimos, foi uma figura bem contradit�ria, n�o tinha papas na l�ngua. Por esse motivo, criou rixas com v�rios famosos, inclusive com o tamb�m estilista Dener Pamplona. Nunca ficou claro se os dois de fato tinham uma inimizade ou se era apenas um simples teatro para chamar a aten��o da imprensa, mas � certo que adoravam alfinetar um ao outro.
O estilista brasileiro Dener Pamplona de Abreu nasceu em 1937, em Soure (PA). Foi um dos precursores da moda brasileira e um dos respons�veis por colocar o pa�s no mapa da moda internacional. Dener era conhecido por suas cria��es inovadoras e vanguardistas. Ele introduziu no Brasil o conceito de moda jeanswear, trazendo para o pa�s as tend�ncias internacionais desse segmento. Sua marca se destacava pelas modelagens diferenciadas, pelos tecidos de qualidade e pelos detalhes �nicos.
criatividade e ousadia
Contempor�neo a Clodovil – com o qual mantinha rivalidade, Dener, embora alheio � pol�tica, teve como uma de suas primeiras clientes importantes justamente Sarah Kubitschek, esposa do presidente JK, um dos principais nomes a conceber looks inspirados em elementos totalmente brasileiros. Foi por sua criatividade e ousadia que algumas mo�as e senhoras da alta sociedade e do mundo art�stico deixaram de cobi�ar apenas a moda parisiense e passaram a usar algo realmente brasileiro. Pode-se dizer que o estilista foi um dos maiores precursores da moda nacional. Por�m, sua grande inspira��o era a moda de Balenciaga, uma esp�cie de mestre para Dener. Foi dele a concep��o do vestido de casamento da cantora Elis Regina, al�m de ter vestido figuras importantes como Hebe Camargo e Sarah Kubitschek.
Durante muitos anos, a moda europeia, principalmente, ditava as regras tamb�m por aqui, tendo como destaque a moda francesa. Os lan�amentos aconteciam por l� e aqui eram copiados. Dener iniciou a mudan�a dessa hist�ria. As suas cria��es eram voltadas para a mulher brasileira, vivendo em um clima tropical. Ao ouvir suas clientes brasileiras, o que gostavam, idade e tamanho, ele come�ava a desenhar e a criar a moda visando fugir das c�pias internacionais.
Foi Dener, por exemplo, que determinava o que era “um luxo” e o que era “um lixo” no programa de Fl�vio Cavalcanti, no come�o dos anos 1970, na extinta TV Tupi. Ele tamb�m foi o primeiro costureiro a vestir uma primeira-dama, Maria Thereza Goulart, de quem ficou amigo �ntimo. Ao longo dos anos 1970, disputou com Clodovil Hernandes o t�tulo de “papa da alta-costura brasileira”. Infelizmente, a carreira de Dener foi interrompida precocemente. Ele faleceu em 1978, aos 41 anos. Sua morte deixou um vazio na moda brasileira, mas seu legado continua vivo at� hoje.
Tanto Clodovil Hernandes quanto Dener Pamplona de Abreu s�o figuras importantes na hist�ria da moda brasileira. Suas contribui��es para o setor foram significativas e seus estilos �nicos continuam influenciando estilistas e designers at� os dias de hoje. Clodovil e Dener s�o exemplos de talento, criatividade e ousadia, deixando um legado duradouro na moda brasileira.