
A lembran�a diz que nunca ningu�m conseguiu repetir o que era feito naquela �poca. N�o sei se esse reconhecimento vinha do maravilhamento da inf�ncia, da pureza do olhar que nunca tinha visto nada igual. Cada casa continha um tesouro perfumado por um fruto nativo que ningu�m mais conhece, a cabacinha, ou das ma��s, que eram importadas e que vinham enroladas em um papel de seda azul, uma a uma, que conservavam seu perfume por v�rios dias. S� esses aromas j� era um acontecimento raro. Havia tamb�m o perfume do musgo fresco, colhido nas fazendas, sem nenhuma polui��o, que forravam caminhos e cobriam morros imagin�rios. Houve �poca em que caixinhas desse musgo eram vendidas na Savassi, mas, como a clientela acabou, a oferta sumiu.
As figuras importadas, brinquedos movido a molas, eram um espanto, a meninada n�o entendia aquele funcionamento. E o que dizer das figuras que encantavam, mas que s� anos e anos depois conseguimos avaliar o valor e a raridade? Santos barrocos, animais que repetiam a natureza com maestria, anjos que levavam � mais pura contempla��o. Alguns adere�os eram totalmente desconhecidos, como as conchas, os caramujos, alguns t�o grande que, encostados na orelha, repetiam o barulho do mar?
Os anjos da gra�a carregando faixas de louvor a Cristo eram simplesmente maravilhosos, "pousavam" no ar sobre a gruta e o panejamento das t�nicas era t�o leve que eles pareciam mesmo voar. Pena que crian�a de hoje n�o sabe o que � isso, mal olha para um pres�pio quando consegue ver um. O que atrai, o que encanta, o que maravilha, � a tecnologia. Como a rapidez da modernidade transforma tudo em lixo em pouco tempo, o que ter�o para lembrar?