Tenho uma inveja danada do banqueiro Aloyzio de Faria. N�o por ele ter uma fortuna pessoal avaliada em R$ 9 bilh�es, n�o por ter uma fazenda em Jaguari�na (SP), constru�da com pedras que vieram da Inglaterra, n�o por completar em novembro 100 anos, sem aparecer nunca em lugar nenhum, mas dirigindo com m�o de ferro seus neg�cios, n�o por honrar sua forma��o como m�dico, doando uma boa grana para hospitais (como a Santa Casa de Miseric�rdia).
Tenho uma inveja danada do banqueiro mineiro por ele adorar sorvete. Tanto que mandou buscar nos Estados Unidos alguns especialistas na del�cia e criar uma sorveteria sua, a La Basque, onde sugere com cuidado os sabores de que mais gosta – e que n�o deixa de consumir durante toda a semana. Aloyzio Faria foi casado durante sete d�cadas com a linda Cl�a Dalva Faria, que frequentava com sucesso a sociedade mineira e a paulista, mas nunca foi de aparecer. Durante o tempo em que morava em BH, s� era visto pelos amigos fi�is – e assim continua at� hoje. Mas a sua sorveteria, que tinha alguns pontos de venda na capital e na Savassi, sumiu do mapa.
E como adoro sorvete, mas n�o tenho seu poderio financeiro, vivo correndo atr�s de um bom sorvete – que fica cada vez mais dif�cil de ser encontrado. Costumo experimentar sorvete por onde andava atrav�s do mundo e descobri, em Paris, o Berthillon, que fica em Saint-Louis-en-ille, ou, melhor dizendo, na Ilha de Saint Louis. O sorvete � divino, feito realmente com as frutas, sem levar nenhuma ess�ncia. Nos dias de calor, � preciso ter tempo, longas filas se formam na porta. Mas a especialidade tem outros pontos de venda, sendo anunciados nos card�pios.
Mas como os italianos n�o s�o de brincadeiras, o sorvete que � feito na pequena San Gimignano, na Toscana, � promovido com o melhor de tudo no mundo. E a respons�vel � a Gelateria Dondoli, cujo rei � o castagnaccio, preparado com castanha triturada. Outras especialidades s�o as feitas com a�afr�o e nozes, o de toranja com espumante e at� um com azeitona preta.
A tradi��o conta muito, uma das primeiras embaixadoras do sorvete foi Catarina de M�dici, que – imaginem s� – levou a iguaria gelada para a Fran�a. Mas, na realidade, o gelato italiano nasceu mesmo foi em Floren�a e os primeiros registros de sua exist�ncia aparecem no s�culo 1, quando o imperador romano Nero mandou que trouxessem neve das montanhas para que ele pudesse misturar com frutas frescas. Mas foi na festa de casamento de Maria de M�dici, depois do s�culo 16, que o sorvete italiano ficou conhecido como gelato.
Viajar e descobrir sorvetes � uma boa. E foi em Bel�m do Par�, onde fui algumas vezes, que descobri a Sorveteria Cairu, que fica em uma pra�a, perto de uma igreja e que produz v�rios sabores feitos com frutas da regi�o. O melhor deles, para mim, � o de cupua�u, seguido de perto pelo de bacuri, que tem um leve sabor de ma��. E depois da descoberta da sorveteria, com o calor da cidade, os passeios do dia terminavam sempre l�, renovando a energias para a noite.
Em Belo Horizonte, a tradi��o do sorvete come�ou h� 90 anos, quando um garimpeiro criou a S�o Domingos, que continua funcionando no mesmo lugar, na Avenida Get�lio Vargas. A casa mant�m a tradi��o italiana, de produzir o “gelado” com leite e mais de 30 sabores, sendo o mais apreciado o de coco. � tamb�m das poucas sorveterias que t�m algumas variedades diet, cuidado que n�o � muito comum. A Easy Ice apareceu para balan�ar a especialidade e continua sempre em alta, mas seu sucesso criou uma s�rie de concorrentes, e o Bacio di Latte � sem d�vida um competidor e tanto. Cresceu e se espalhou por v�rios pontos de venda, usando o delivery como atra��o extra. E para quem est� com vontade de provar um sorvete bem especial, comece com um de manga, cuja temporada est� ficando boa. Explica��o: 23 de setembro � considerado o Dia Nacional do Sorvete.
* A coluna desta quarta-feira (16) foi escrita antes de o banqueiro Aloyzio de Faria falecer, aos 99 anos, de causas naturais.