
Hoje � o dia nacional do amor. Dia dos Namorados e tamb�m dos crushes, ou para os mais antigos, dos enamorados. Existe todo um ritual: encontrar, sair para jantar, trocar presentes e depois... cada um faz o que quer. Aqui no Brasil, essa data � comemorada em 12 de junho, mas em outros pa�ses a comemora��o � em 14 de fevereiro, Dia de S�o Valentim, e por isso se chama Valentine’s Day.
A comemora��o da data remonta ao Imp�rio Romano. Um bispo da Igreja Cat�lica, S�o Valentim, foi proibido de realizar casamentos pelo imperador romano Claudius II. Por�m, o bispo desrespeitou a ordem imperial e continuou com as celebra��es de forma secreta. Foi preso e condenado � morte. Enquanto estava na pris�o, recebeu v�rios bilhetes e cart�es, de jovens apaixonados, valorizando o amor, a paix�o e o casamento. O bispo Valentim foi decapitado em 14 de fevereiro do ano 270. Aqui no Brasil, a data est� relacionada ao frei portugu�s Fernando de Bulh�es (Santo Ant�nio), conhecido como o santo casamenteiro.
Mas como � o amor no s�culo 21? O que tenho visto s�o casais se separando com meses de casados por falta de paci�ncia e intoler�ncia. Ningu�m quer renunciar a nada pelo bem-estar do casal. Todo mundo � muito si pr�prio. Outros casamentos acabam, pasmem, ainda hoje, porque o rapaz se casou para manter uma fachada, mas, na verdade, sua prefer�ncia � outra, por�m n�o consegue assumir para a fam�lia. Isso era muito comum no s�culo passado, mas atualmente chega a surpreender.
E ainda tem aqueles que optam pelo amor virtual. Contato a dist�ncia, conex�o sem proximidade. Isso pode ser amor ou seria apenas desejo e sexo? O fil�sofo socialista polon�s Zygmunt Bauman (1925-2017) criou o termo “amor l�quido”. Segundo o site amenteemaravilhosa.com.br, em sua l�pide est� escrito: “Os celulares ajudam a se conectar com os que est�o distantes. Os celulares permitem que aqueles que se conectam… mantenham dist�ncia”. Creio que esses termos definam bem nossa realidade.
De acordo com Bauman, nos tempos atuais, as rela��es entre os indiv�duos nas sociedades tendem a ser menos frequentes e menos duradouras, "as rela��es escorrem pelo v�o dos dedos". Segundo o seu conceito, as rela��es amorosas deixam de ter aspecto de uni�o e passam a ser mero ac�mulo de experi�ncias, e a inseguran�a seria parte estrutural da constitui��o do sujeito p�s-moderno.
Para o soci�logo, a fragilidade do v�nculo � a realidade em nossos relacionamentos. Por isso, l�quido, pela maleabilidade da forma e a facilidade de divis�o dos elementos em estado l�quido. Sua mente afiada estimava a sociedade atual como um mundo ocasional. Grande parte das pessoas procuram a satisfa��o moment�nea: aquele fato pontual que nos alegra durante um minuto. No seguinte, j� acabou e, segundos depois, j� est� esquecido.
Isso ocorre porque o amor-pr�prio tamb�m � l�quido. Como podemos gostar de outra pessoa se antes n�o gostamos de n�s mesmos? O que ofereceremos se n�o temos nada valioso para oferecer? A nossa falta de autoestima nos leva a ter relacionamentos que se diluem em quest�o de segundos.
Por isso, o termo amor l�quido, e tudo que reflete na nossa atual realidade, escapa das m�os porque n�o somos capazes de solidific�-lo e agarr�-lo com a for�a necess�ria, nem sequer o amor para consigo mesmo. Para Bauman, os humanos modernos precisam de compromissos fortes. E o primeiro precisa ser consigo mesmo. Sem amor-pr�prio, raramente estaremos dispostos a assumir relacionamentos s�lidos.
O amor l�quido atual � cada dia mais irreal. Mas temos uma ferramenta poderosa para lutar contra a imaterialidade do amor l�quido: a educa��o. Mas para us�-la e obter resultados, � preciso come�ar desde a inf�ncia. Formar crian�as com seguran�a, com alta autoestima, conscientes de si mesmas e da necessidade de estabelecer relacionamentos reais e duradouros. Crian�as livres, com capacidade de pensar e seguran�a em cada projeto que empreendem.
(Isabela Teixeira da Costa/Interina)
