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Interseccionalidade: pessoas trans negras sofrem viol�ncias f�sica e verbal

O Brasil � o pa�s que mais mata pessoas transexuais. Na grande maioria das vezes, os assassinatos s�o em locais p�blicos"


11/12/2021 04:00 - atualizado 11/12/2021 07:37

Como o Brasil trata corpos negros e transexuais? Posso dizer que de formas muito desumanas. O pa�s segue pelo 13º ano consecutivo como o lugar mais perigoso para uma pessoa transexual viver. A informa��o � do projeto Transrespect versus Transphobia Worldwide, da ONG Transgender Europe (TGEU).

Segundo o projeto, desde 2008, 4.042 assassinatos de pessoas trans foram registrados no mundo, sendo que 1.645 ocorreram no Brasil, ou seja, 40% de todos os casos. Ainda segundo a TGEU, em territ�rio brasileiro, a transfobia tamb�m � potencializada pelo fator ra�a: travestis e mulheres trans negras correspondem a 78% dos casos.

Em 2020, foram assassinadas 175 pessoas transexuais no Brasil. O dado foi divulgado pela Associa��o Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). A m�dia � de um assassinato de transexual a cada 48 horas no Brasil.

Em n�meros absolutos, S�o Paulo foi o estado com mais casos em 2020, com 29 mortes, seguido pelo Cear�, com 22 assassinatos, e a Bahia, com 19. Al�m disso, em 2020, 71% dos assassinatos aconteceram em espa�os p�blicos e a maioria das pessoas transexuais mortas no ano passado no Brasil eram negras.

Esses dados s�o extremamente alarmantes! Sobretudo, porque n�o s�o n�meros frios, s�o pessoas, seres humanos com hist�ria, origem, identidade, sonhos e planos, que perderam sua vida por serem quem s�o.

E, se voc� observar bem, alguns padr�es se repetem nesses dados. Vai perceber que mais da metade dessas pessoas trans mortas s�o negras e a maioria desses assassinatos ocorrem em lugares p�blicos. Esses dados dizem muito como o Brasil lida com corpos negros dissidentes.

A pr�tica da viol�ncia f�sica infelizmente ainda � muito presente na vida da popula��o trans negra no pa�s. A forma como a sociedade encara a interseccionalidade (intersec��o de identidades sociais) dessas pessoas � mergulhada na transfobia e no racismo, entre outros preconceitos e discrimina��es.

Algumas pessoas chegam at� a dizer: “Que pouca vergonha esse neg�o vestido de mulher, ele est� pedindo para apanhar”. � importante ressaltar que quase sempre os xingamentos e as ofensas contra pessoas trans negras “preparam” caminho para a “naturaliza��o” da agress�o f�sica contra essa popula��o. Sem medo, me arrisco a dizer que n�o existe uma pessoa trans negra no Brasil que n�o tenha sido alvo de xingamentos ou amea�as por ser quem �.

S� para voc� ter uma ideia, h� algumas semanas, a vereadora Benny Briolly (Psol), de Niter�i (RJ), que � uma mulher trans e negra, foi alvo de um novo ataque transf�bico promovido em plena sess�o na C�mara da cidade: “Durante minha fala, quando apresentava dados sobre a transfobia brasileira, os gritos e xingamentos dos bolsonaristas me interrompiam. Fui chamada de ‘traveco’, ‘viadinho’ e ‘piranha’. Foi muito violento!”, relatou a vereadora.

Vale lembrar que, em maio de 2021, Benny precisou sair do pa�s para se proteger devido a amea�as � sua integridade f�sica. Ela ficou cerca de 15 dias acompanhando as sess�es plen�rias de forma virtual. Uma das amea�as mais graves envolveu um e-mail citando o endere�o da vereadora enquanto exigia sua ren�ncia ao cargo e a amea�ava de morte caso n�o o fizesse.

As viol�ncias que se manifestam por meio de xingamentos e amea�as contra pessoas trans s�o as mesmas que colocam por mais de uma d�cada o Brasil no infeliz posto de pa�s que mais mata pessoas trans no mundo!

Faltam pol�ticas p�blicas exclusivas que efetivamente contemplem as complexidades e demandas da popula��o trans negra no pa�s. N�o � poss�vel mudar essa situa��o sem saber ler os contextos sociais que cercam essas pessoas.

E talvez voc� que est� lendo este artigo possa pensar: “Eu n�o tenho a pr�tica de ofender ou xingar pessoas trans, muito menos fa�o amea�as a essas pessoas”. Mas tem algo que tamb�m precede as frases abertamente ofensivas: as “piadas” transf�bicas.

O que para algumas pessoas � apenas uma “brincadeira”, algo apenas para “descontrair”, acaba ferindo, magoando, ofendendo e abre caminho para a desumaniza��o da nossa vida e nossos corpos. Ou seja, tamb�m abre caminho para ofensas e viol�ncia f�sica.

Como j� disse, n�s tamb�m temos hist�ria, fam�lia, sonhos, deveres, direitos e planos. Sou um homem negro e trans, e minha vida n�o � entretenimento, n�o � lazer para as pessoas se acharem no direito de fazer piadas sobre ela. Um corpo negro e dissidente tem o direito de existir e ocupar os espa�os p�blicos. N�s n�o queremos apenas sobreviver, n�s tamb�m temos o direito a ter uma vida digna.

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