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Estado de Minas Padecendo

Carta para uma gestante

A dor da contra��o a gente esquece, a dor daquele desamparo moment�neo dura uma vida


11/07/2021 04:00 - atualizado 08/07/2021 14:56

(foto: Marianna Gonzaga)
(foto: Marianna Gonzaga)

Preciso te contar algumas coisas sobre gravidez e parto. S�o coisas que eu aprendi tarde demais e, se pudesse voltar para 2009, viveria uma experi�ncia muito diferente. Seria protagonista, e n�o expectadora.

Voc� est� indo muito bem, levando a gesta��o focada no lema “gravidez n�o � doen�a”. Est� conseguindo trabalhar, cuidar da sa�de, fazer atividade f�sica, se alimentar bem. Gravidez n�o � doen�a, mas quem vomita tanto estando com a sa�de em dia? Quem tem tanta azia? Quem fica com os p�s t�o inchados no fim do dia?

Imposs�vel viver como se n�o tivesse outro ser crescendo dentro de voc�. Lembre-se disso e fa�a pausas sempre que precisar. Gravidez n�o � doen�a, mas transforma seu corpo, mexe com seus horm�nios, te transforma.

Voc� est� certa em querer ter um parto normal. Embora as pessoas achem que cesariana � mais simples e o parto d�i demais, a verdade � que a cesariana d�i tanto que demanda uma anestesia bem mais potente para que voc� n�o sinta a dor da sua barriga sendo cortada. Voc� tamb�m est� certa em entender que cesariana pode vir a ser necess�ria, e tudo bem se voc� realmente precisar usar esse recurso. Acontece que n�o basta ter um parto normal.

N�o basta ter um parto normal. Voc� ainda n�o ouviu falar sobre parto humanizado, mas deveria. Quando voc� estiver no hospital, em trabalho de parto, voc� vai achar tudo normal, mas vai sentir falta da humaniza��o, mesmo sem saber do que se trata.

Na sala pr�-parto, separada das outras gestantes por uma cortina, voc� vai se sentir muito sozinha. Vai passar muito tempo deitada naquela maca, se sentindo desconfort�vel, sem posi��o, morrendo de dor a cada contra��o. Esperando seu marido preencher a papelada do hospital. Esperando sua m�dica, que est� presa no tr�nsito.

O que d�i mais? A contra��o ou n�o ter ningu�m com voc�, te dando a m�o e dizendo que vai ficar tudo bem?

A dor da contra��o a gente esquece, a dor daquele desamparo moment�neo dura uma vida.

O anestesista vai aparecer, vai aplicar a anestesia e sair para lanchar. Seu marido vai chegar, vai te dar a m�o, mas voc� precisava de colo, de abra�o. Todo mundo ali vai ter pressa, menos seu beb�, que quer nascer no tempo dele.

O ambiente da sala de parto � hospitalar, como se voc� fosse passar por uma cirurgia e n�o pelo nascimento do seu beb�. A �nica coisa que lembra que tem uma crian�a nascendo ali � aquela musiquinha suave de xilofone. Todas aquelas luzes. Tudo branco. Voc� deitada numa maca. Deitada.

Como ajudar o beb� a nascer se voc� nem pode ficar numa posi��o que ajude a fazer a for�a necess�ria? Todos aqueles exerc�cios do pilates que voc� passou meses fazendo, o treinamento na for�a da respira��o. Deitada na maca.

Voc� ainda n�o sabe o que � a Manobra de Kristeller, mas vai descobrir na pr�tica. Enquanto a m�dica faz a episiotomia, outro m�dico aperta sua barriga para pressionar a parte superior do �tero para acelerar a sa�da do beb�.

Todo mundo tem pressa.

Voc� � uma boneca inerte.

Voc� se sentir� aliviada quando vir aquele bumbum, eles v�o colocar seu filhote embrulhado no seu colo. N�o vai ter toque de pele com pele. Voc� queria coloc�-lo no seu peito, seu instinto pede. Mas n�o vai dar tempo nem de sentir o cheiro dele. Ir�o tir�-lo dos seus bra�os, com toda aquela pressa. Seu beb� saud�vel ser� levado para o ber��rio para tomar seu primeiro banho e passar os primeiros minutos de vida longe de voc�.

Ele l�, com estranhos, num lugar t�o assustador, t�o iluminado e frio, t�o diferente do quentinho do �tero. Voc� sozinha, esquecida, no escuro da madrugada, na sala de recupera��o. Os minutos v�o virando horas. As pessoas passam e n�o te veem. Ser� que voc� morreu no parto e est� ali vendo um corpo vazio? Por que ningu�m te olha?

Finalmente voc� ser� levada para o quarto, e o beb� ainda n�o est� l�. Quando ele chega, voc� o amamenta. Ele pega no peito instantaneamente. Ele tamb�m estava esperando por esse momento. A enfermeira passa e pergunta se pode lev�-lo para o ber��rio novamente.

Voc� n�o quer soltar mais, est� exausta, � madrugada, mas ele n�o vai sair do quarto. Faz muito bem. Voc�s precisam ficar coladinhos um no outro. � isso que seu cora��o manda, e o cora��o nunca est� errado. 

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