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Estado de Minas CARLOS STARLING

Pandemia n�o � carta branca para se violar princ�pios �ticos e cient�ficos

Vendedores de sonhos est�o travestidos de cientistas salvadores da p�tria, fique atento!


Imagem de protesto contra mortes por COVID-19 em Brasília(foto: Sergio LIMA / AFP)
Imagem de protesto contra mortes por COVID-19 em Bras�lia (foto: Sergio LIMA / AFP)

Tempos dif�ceis esses. Se j� n�o bastasse o ineditismo do v�rus e da pandemia, agora temos que lidar com os ilusionistas. 

Ontem recebi uma mensagem de um grande amigo me solicitando uma receita de Ivermectina para ele e a esposa. Ele definiu a posologia e o n�mero de comprimidos a serem formulados. Pediu que eu prescrevesse uma quantidade maior para fornecer tamb�m aos seus funcion�rios. Por se tratar de um lombrigueiro, mal faria apenas para as lombrigas.

Por se tratar de uma daquelas pessoas pelas quais voc� tem o maior apre�o, carinho e respeito, como dizer n�o?! Dizendo n�o! Exatamente por todo apre�o que lhe tenho, n�o posso coloc�-lo em risco e �queles pelos quais voc� ama e quer t�o bem. 

Consci�ncia e juramento hipocr�tico podem contrariar um amigo, mas prefiro contraria-lo do que perd�-lo definitivamente para o barqueiro, em fun��o dos efeitos colaterais de uma droga.

� comum em nossa pr�tica m�dica este tipo de situa��o, que vez por outra, nos constrange ao extremo. Quanto mais pr�ximas s�o as rela��es, mais frequentes s�o as solicita��es. � o seu sobrinho querido, que lhe pede uma receita para a namorada do irm�o do amigo da tia da av� do vizinho dele. Um simples Rivotril! N�o custa nada!
 
Sim, custa! Custa muito! Pode me custar o CRM pelo qual lutei boa parte da minha vida. Por�m, mais caro do que isto, � a consci�ncia do prescritor.

N�o faz muito tempo, que as fam�lias tradicionais faziam quest�o de ter um filho m�dico e um padre como forma de garantia e seguran�a na perenidade e na eternidade.

Colegas dermatologistas j� me confessaram terem sido for�ados a ver manchinhas na av� da namorada em banheiro de sal�o de festas. Claro, por uma namorada nova, dependendo da situa��o, at� valeria o sacrif�cio e constrangimento. Fico imaginando os proctologistas com a hemorroida do sogro... 

Bem antes desta epidemia, j� existiam estudos que mostravam que os infectologistas, depois dos dermatologistas, eram os especialistas mais submetidos a consultas informais pelos seus pr�prios colegas. A famosa consulta de corredor, atualmente substitu�da pelo WhatsApp. Com a chegada do corona, superamos de longe os dermatologistas.

Nesta epidemia, Hip�crates tem sido confundido com hip�crita

N�o faltam vendedores de sonhos para uma popula��o desesperada e havida por um milagre da ci�ncia que lhe restaure o para�so perdido. Mesmo que o para�so seja polu�do, corrido, corrupto, repleto de esgoto correndo pela cal�ada e com bala perdida por todo lado. 
Neste contexto, os vendedores de sonhos travestidos e maquiados de cientistas e salvadores da P�tria Amada Brasil, aparecem com a solu��o perfeita tirada da cartola da pseudoci�ncia.

Interessante, a cada hora � um coelho diferente. De vez em quando, o coelho catal�ptico ressurge das cinzas com uma nova roupagem e miss�o. Tudo bem se o coelho fosse in�cuo. Mas, n�o �!

O coelho mata de v�rias maneiras. Mata pelos seus efeitos colaterais diretos, pela falsa ilus�o de seguran�a e pelo desvio das medidas reais de prote��o das pessoas. 
 
Ao exalar a cortina de fuma�a, os ilusionistas atropelam os princ�pios b�sicos que norteiam as condutas m�dicas e exaltam o xamanismo.
 
Pandemia n�o � carta branca para se violar princ�pios �ticos e cient�ficos

O problema mais s�rio do momento que vivemos no Brasil � que o ilusionismo � oficial. Promovendo tratamentos que se mostraram ineficazes, ou ainda em estudos cl�nicos, o governo e seus fi�is seguidores, exp�em a popula��o ao v�rus como se o problema tivesse sido resolvido. 

Al�m de terap�uticas fakes que desaparecem das prateleiras das farm�cias do dia para noite, acena-se com vacinas em desenvolvimento como se elas j� estivessem prontas e dispon�veis para adentrar no m�sculo deltoide de cada cidad�o deste planeta.

Com isto, banaliza-se o conhecimento cient�fico e a seguran�a com que estes f�rmacos s�o produzidos, abrindo espa�o para os terraplanistas e anti-vacin�logos espalharem suas teorias. 

J� n�o sabendo mais em quem confiar, vale o cada um por si!
 
Neste contexto, meu amigo, vou lhe contrariar. N�o lhe darei a receita deste medicamento, originalmente utilizado em bovinos e equinos, cuja dose e efic�cia para tratar COVID-19, jamais foi definida para humanos. Eu correria o risco de lhe dar uma dose cavalar e perder a oportunidade de abra��-lo novamente. Pelo apre�o que lhe tenho, pe�o-lhe encarecidamente que fique em casa, saia somente com m�scara para o absolutamente necess�rio. Fuja de qualquer aglomera��o, particularmente daquelas frequentadas pelos ilusionistas de plant�o do planalto central.

Tempos dif�ceis passam, mas demora n�?!
 
Informe da Sociedade Brasileira de Infectologia
No dia 30 de junho, a Sociedade Brasileira de Infectologia publicou documento informando que "nos �ltimos dias, muito tem se divulgado nas redes sociais a respeito do uso de medicamentos para a COVID-19. V�rias destas divulga��es que circulam nas m�dias sociais s�o inadequadas, sem evid�ncia cient�fica e desinformam o p�blico".

Por isso, a entidade decidiu "fazer esclarecimentos sobre os diferentes tratamentos farmacol�gicos j� avaliados at� a presente data ou em pesquisa cl�nica.

1. Cloroquina/hidroxicloroquina:
At� o momento, os principais estudos cl�nicos, que s�o os randomizados com grupo controle, n�o demonstraram benef�cio do uso da cloroquina, nem da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes hospitalizados com COVID-19 grave. Efeitos colaterais foram relatados. Seu uso em profilaxia p�s-exposi��o, at� o momento, tamb�m n�o demonstrou benef�cio.
Seu uso no tratamento da COVID-19 nos primeiros dias de doen�a, em casos de COVID-19 leve e moderada, est� sendo avaliado e se aguardam os resultados.
A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), a FDA (ag�ncia reguladora de medicamentos dos EUA), a Sociedade Americana de Infectologia (IDSA) e o Instituto Nacional de Sa�de Norte-Americano (NIH) recentemente recomendaram que n�o seja usado cloroquina, nem hidroxicloroquina para pacientes com COVID-19, exceto em pesquisas cl�nicas, devido � falta de benef�cio comprovado e potencial de toxicidade. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) tamb�m segue e recomenda tais decis�es.
De acordo com um relat�rio preliminar, cuja publica��o � aguardada para os pr�ximos dias, de um grande estudo randomizado com grupo controle (Estudo RECOVERY), coordenado pela Universidade de Oxford na Inglaterra, que avalia v�rias terapias em potencial para o COVID-19, a hidroxicloroquina n�o teve benef�cio para pacientes hospitalizados .
A associa��o da hidroxicloroquina com o antibi�tico azitromicina foi descrita em estudos observacionais e n�o trouxe benef�cios cl�nicos. Al�m disso, os dois medicamentos est�o associados ao prolongamento do intervalo QTc no eletrocardiograma, que predisp�e � arritmia card�aca. O uso combinado pode potencializar esse efeito adverso, com eventual desfecho cl�nico fatal, especialmente em pacientes com doen�as card�acas, uma vez que a pr�pria infec��o pela COVID-19 pode causar dano ao �rg�o. Tamb�m se deve levar em considera��o que antibi�ticos n�o t�m indica��o em infec��es virais; seu uso indiscriminado e inadequado favorece a resist�ncia bacteriana. O potencial benef�cio cl�nico do efeito “antiinflamat�rio ou imunomodulador¨ da azitromicina em pacientes com COVID-19 ainda est� por ser comprovado.

2. Corticoides:
De acordo com um relat�rio preliminar, cuja publica��o � aguardada para os pr�ximos dias, de um grande estudo randomizado com grupo controle (Estudo RECOVERY), coordenado pela Universidade de Oxford na Inglaterra, que avalia v�rias terapias em potencial para o COVID-19, demonstrou que o corticoide dexametasona aumenta a sobrevida em pacientes com COVID-19 grave que necessitam de oxig�nio suplementar ou ventila��o mec�nica, na dose de 6 mg/dia, com dura��o de at� 10 dias.
N�o h� evid�ncias de benef�cio do uso de corticoides para as formas leves ou moderadas da doen�a, nas quais n�o h� indica��o de oxigenioterapia, nem para preven��o. Logo, n�o devem ser usados nestas situa��es.
Pacientes com broncoespasmo, como em crise asm�tica, desencadeada por qualquer virose respirat�ria, incluindo a COVID-19, podem necessitar de corticoide. Tal necessidade, qual corticoide usar e por qual via administr�-lo devem ser avaliados individualmente pelo m�dico.
A automedica��o e o uso preventivo de corticoides para COVID-19 n�o devem ser utilizados e podem causar efeitos colaterais.

3. Medicamentos antivirais:
A associa��o dos antirretrovirais lopinavir/ritonavir, usadas no passado por pessoas vivendo com HIV, foi avaliada em estudo randomizado com grupo controle, publicada em maio/2020, e n�o demonstrou benef�cio.

Um comunicado de imprensa da Universidade de Oxford, Inglaterra, divulgado ontem (29/junho/2020), demonstrou n�o haver benef�cio da associa��o lopinavir/ritonavir em pacientes hospitalizados com COVID-19, avaliados pelo estudo cl�nico RECOVERY. A SBI n�o recomenda seu uso em pacientes com COVID-19.

Resultados de estudo randomizado com grupo controle com placebo, demonstrou que o remdisivir demonstrou redu��o no tempo de recupera��o em pacientes com formas moderadas e graves da COVID-19. Este medicamento ainda n�o tem registro no Brasil e seu uso foi autorizado no Brasil pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (ANVISA) somente para estudos cl�nicos.

4. Medicamentos antiparasit�rios:
Os antiparasit�rios ivermectina e nitazoxanida parecem ter atividade in vitro contra a SARS-CoV-2, por�m ainda n�o h� comprova��o de efic�cia in vivo, isto �, em seres humanos. Muitos dos medicamentos que demonstraram a��o antiviral in vitro (no laborat�rio) n�o tiveram o mesmo benef�cio in vivo (em seres humanos). S� estudos cl�nicos permitir�o definir seu benef�cio e seguran�a na COVID-19.

5. Tocilizumabe:
O uso do imunomodulador tocilizumabe foi descrito em s�ries de casos e estudos observacionais de pacientes com COVID-19 com alguns resultados positivos. At� o momento n�o h� dados de ensaios cl�nicos randomizados com grupo controle que comprovem seu benef�cio e seguran�a. O Estudo RECOVERY, coordenado pela Universidade de Oxford na Inglaterra, que avalia v�rias terapias em potencial para o COVID-19, dever� divulgar os resultados dos pacientes que receberam tocilizumabe nos pr�ximos dias.

6. Anticoagula��o:
Pacientes hospitalizados com COVID-19 apresentam maior risco de complica��es tromb�ticas, sendo indicado para a maioria deles, na aus�ncia de contraindica��o, o uso profil�tico de anticoagulantes, como heparina e seus derivados.
N�o h� indica��o do uso de anticoagulante em dose terap�utica de rotina em pacientes hospitalizados com COVID-19, tampouco seu uso de rotina em pacientes em atendimento ambulatorial com as formas menos graves da doen�a.

7. Plasma convalescente:
O uso de plasma de pacientes recuperados de COVID-19 (plasma convalescente ou plasma hiperimune) pode proporcionar benef�cio na infec��o pelo SARS-CoV-2, mas estudos cl�nicos randomizados com grupo controle que comprovem seu benef�cio e seguran�a est�o em andamento. O Estudo RECOVERY, coordenado pela Universidade de Oxford na Inglaterra, que avalia v�rias terapias em potencial para o COVID-19, dever� divulgar os resultados dos pacientes que receberam plasma de convalescentes nos pr�ximos dias.

8. Vitaminas e suplementos alimentares:
N�o h� comprova��o de benef�cio do uso de vitaminas C ou D, nem de suplementos alimentares, como zinco, exceto em pacientes que apresentam hipovitaminose ou car�ncia mineral. 
  
Especialistas brasileiros de servi�os de ponta avaliar�o op��es de tratamento para COVID-19, em um estudo denominado 'Coaliz�o COVID Brasil', que incluir� cinco projetos de pesquisa: tr�s avaliando pacientes hospitalizados em alas hospitalares e unidades de terapia intensiva, um avaliando seguimento um ano ap�s alta hospitalar e um avaliando pacientes n�o hospitalizados com diagn�stico da doen�a.

Vivemos uma s�ria crise de sa�de p�blica. N�o podemos colocar em risco a sa�de da popula��o brasileira com orienta��es sem evid�ncia cient�fica. A avalia��o do uso de qualquer medicamento fora de sua indica��o aprovada (off-label) deve ser uma decis�o individual do m�dico, analisando caso a caso e compartilhando os poss�veis benef�cios e riscos com o paciente, por�m � vedado a publicidade sobre tal conduta. De acordo com o CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no C�DIGO DE �TICA M�DICA, Resolu��o CFM n° 2.217, de 27 de setembro de 2018, modificada pelas Resolu��es CFM nº 2.222/2018 e 2.226/2019, Cap�tulo XIII, sobre PUBLICIDADE M�DICA: '� vedado ao m�dico: Art. 113. Divulgar, fora do meio cient�fico, processo de tratamento ou descoberta cujo valor ainda n�o esteja expressamente reconhecido cientificamente por �rg�o competente'.

Lembramos que no Brasil, a institui��o que regulamenta o uso de novos medicamentos para todas as doen�as e o uso de medicamentos antigos para novas doen�as ou novas indica��es, avaliando seu benef�cio e seguran�a, � a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (ANVISA), que tem feito um trabalho exemplar desde sua cria��o em 26 de janeiro de 1999 (Lei nº 9.782)."  






 
 
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