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Estado de Minas CARLOS STARLING

A volta do chicote e a poeira que nos cega os olhos

Imposs�vel n�o lembrar de cenas de filme de terror. A m�mia do Saara veio morar no Brasil


09/10/2021 06:56

Cidade de Franca é coberta por nuvem de poeira
Nuvem de poeira cobriu Franca (SP) (foto: Redes sociais)


Uma das cenas que n�o me saem da mem�ria � a dos tufos de poeira que sa�am da traseira dos carros nas estradas de terra entre Ibi� e Arax�.

Estradas de terra poeirentas e esburacadas.

A poeira vinha pela frente, por tr�s e penetrava nas frestas mal vedadas das portas. Os carros chegavam completamente empoeirados, e n�s tamb�m.

Escrever e desenhar na poeira encrustada na lataria e vidros dos carros era uma divers�o certa. Valia tudo, at� desenhos e frases obscenas.

Outra divers�o era lavar o carro e deix�-lo brilhando.

Melhor ainda era o bombom Sonho de Valsa pelo trabalho de lava-jato.

Assim, a poeira era fasc�nio infantil, divers�o e um saboroso lucro. Tudo resolvido com �gua, sab�o e imagina��o.

Esta semana uma nuvem gigante de poeira cobriu cidades em diferentes regi�es do Brasil.

Imposs�vel n�o lembrar de cenas de filme de terror. A m�mia do Saara veio morar no Brasil.

O planeta febril derrete geleiras, inunda cidades e faz um mundo cada vez mais seco. A poeira de hoje exp�e a cegueira de nossa consci�ncia ecol�gica.

O que vem pela frente � doen�a, mis�ria e guerras por recursos h�dricos, b�sico para nossa sobreviv�ncia.

A�o, frango, boi e nossos chuveiros secam nossas vidas e tornam o futuro um deserto sombrio.

Afundamos na lama de nossa pr�pria irresponsabilidade ambiental. Somos uma trag�dia esterilizante e autodestrutiva. Suic�dio coletivo por inconsci�ncia.

A poeira de hoje, nada tem haver com aquela da minha inf�ncia.

A cegueira do p� que invade nossas entranhas � a p� de cal no futuro coletivo.
 Sepulcro cavado pelas nossas pr�prias m�os.

Mais uma vez, n�s, v�timas de n�s mesmos.

A�oitamos a natureza com a vol�pia de colonizadores extrativistas. A volta do chicote em nossas costas � inevit�vel. Gera��es futuras, se houver futuro, saber�o quem foram os lamb�es que destru�ram a pr�pria moradia.

A poeira que cega olhos e consci�ncias deixa um rastro hist�rico marcado pela gan�ncia e irresponsabilidade de toda uma gera��o.

O ar falta aos pulm�es. A poeira obscurece o destino e os sonhos.

A feminina natureza sangra, assim como as meninas na menarca, cujo absorvente lhes foi sonegado pela insensibilidade de um troglodita travestido de Messias.

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