“Judiar”, “denegrir”, “a situa��o est� preta”. O que essas palavras e express�es t�m em comum? Na vis�o de alguns, leitor, os voc�bulos em quest�o seriam uns dos respons�veis pela manuten��o de preconceitos. Contudo, � luz de um conhecimento lingu�stico razo�vel e de um pensamento n�o t�o imbu�do de paix�es ideol�gicas, qualquer um � capaz de perceber a tolice de tal patrulhamento vocabular.
Os argumentos dos vigilantes politicamente corretos se baseiam na ideia de que essas express�es perpetuariam preconceitos na medida em que “judiar” (palavra formada por “judeu” mais “iar”), cujo significado inicial estava relacionado a “tratar como os judeus foram tratados”, seria uma afronta ao povo judeu. Os guardi�es do novo modo de se falar tamb�m afirmam que “denegrir” e que “a situa��o est� preta” deveriam sumir da boca dos falantes na medida em que esses termos estariam associados ao preconceito contra a ra�a negra.
Ora... Honestamente, fico em d�vida se as pessoas defendem essas ideias por falta de conhecimento ou por oportunismo. Em primeiro lugar, deve-se entender que a l�ngua � viva, ou seja, quem utiliza, hoje em dia, “judiar” n�o faz nenhuma rela��o desse uso com os judeus. E afirmo isso na condi��o de quem possui sangue judeu nas veias, o.k.? O tempo passou e a palavra perdeu o significado inicial, pronto. Mas vamos aos outros dois casos, que s�o mais esdr�xulos. Tanto “denegrir” quanto “a situa��o est� preta” fazem refer�ncia, hoje, � cor preta, n�o ao negro. Se digo que a imagem de algu�m foi denegrida, eu apenas quero dizer que esse indiv�duo n�o possui mais uma imagem clara, transparente, vis�vel. Ou os brasileiros se esqueceram de que preto e negro, ant�teses de branco, remetem � aus�ncia de cor, � obscuridade? Se a situa��o est� preta, leitor, � sinal de que eu n�o consigo enxergar solu��o para ela. E s�.
Enfim, tenho um d� danado das palavras. As coitadas (lexia que nada tem a ver com “coito”, como muitos defendem) acabam pagando por del�rios pol�ticos e ideol�gicos. Agora s� falta alguma associa��o de veleiros exigir o fim do uso da palavra “embarcar” se esta n�o for utilizada para denotar a entrada de algo ou de algu�m em um barco. Ora... Continuaremos a embarcar em trens, em �nibus e em avi�es. Mas sempre haver� pessoas que, por quest�es ideol�gicas, teimar�o em denegrir a l�ngua portuguesa. Uma judia��o! �... Realmente, a situa��o est� preta.