
“Dai, pois, a C�sar o que � de C�sar, e a Deus o que � de Deus”. Com tal dizer b�blico, inicio este artigo sobre a cansativa e desnecess�ria briga existente entre professores de portugu�s e sociolinguistas. Se voc� n�o sabe, leitor, existe um grupo de pessoas que, h� tempos, luta para levar, �s salas de aula das escolas, teorias segundo as quais dizer “n�s pesca o peixe”, por exemplo, estaria correto, corret�ssimo. Um absurdo que tentarei, em poucas linhas, explicar.
J� imaginou? O seu filho volta da escola e diz: “Papai, n�s vai jogar bola?”. Voc�, boquiaberto, questiona onde ele aprendeu a falar assim. E ouve, perplexo, a resposta: “Na escola, na aula de portugu�s”. Pois �... De acordo com a sociolingu�stica, disciplina estudada nas faculdades de Letras, n�o haveria o certo e o errado no portugu�s. Existiria, na realidade, o adequado e o inadequado, a partir do contexto. Um verdadeiro samba do crioulo doido! E ai de voc� quando disser que “menas” est� errado. Imediatamente, os sociolinguistas, inquisit�rios, redarguir�o: “Seu preconceituoso! Isso � preconceito lingu�stico!”
Ora, quanta bobagem! Tentam diminuir o valor da norma culta em nome dos desassistidos, dos que n�o tiveram acesso a ela. Todavia, o aprendizado da norma padr�o consiste na �nica sa�da para os que querem, por meio do intelecto, vencer na vida. Como interpretar e elaborar pensamentos mais sofisticados sem dominar as regras da pr�pria l�ngua? Como compreender Machado de Assis, Arist�teles e afins? A linguagem do povo simplesmente n�o carrega envergadura gramatical para isso. Ali�s, retirar das pessoas o ensino profundo e sistem�tico da norma culta � o mesmo que as excluir, que retirar delas a chance de progresso.
Mais uma vez, leitor, as quest�es ideol�gicas insistem em esbofetear a gram�tica, que, na realidade, nunca foi a vil�, mas a salvadora. Seria, ent�o, mais inteligente se os sociolinguistas investissem o tempo gasto em mestrados e em doutorados (que, na maioria das vezes, s� servem para eles mesmos, como uma esp�cie de masturba��o intelectual encontrada em diversas �reas) na solu��o da desigualdade escolar. Indubitavelmente, ter�amos bastantes ganhos. Mas, como isso n�o acontecer�, seria mais saud�vel se cada um ficasse no seu quadrado, sem atritos, como Jesus sugeriu em “Dai, pois, a C�sar o que � de C�sar, e a Deus o que � de Deus”. Ou seja: os sociolinguistas, juntamente �s suas respectivas teorias, deveriam permanecer onde est�o, nas faculdades; n�s, meros professores de portugu�s, onde fazemos substancial diferen�a, nas escolas. E ponto final.