
Circula, na internet, um v�deo em que Chico Anysio cria teorias e faz piadas sobre o poder dos palavr�es. Em um stand-up comedy, ele pontua a sonoridade do “Vai se foder!”, comemora a efetividade do “Nem fodendo!” e enaltece a for�a do adv�rbio de intensidade “pra caralho”. Realmente, h� momentos em que s� o palavr�o resolve, brilhante Chico.Voc� h� de concordar comigo: os palavr�es ocupam, sim, um lugar sagrado no nosso dia a dia
Acalme-se, puritano leitor. Nunca fui a favor da utiliza��o de palavr�es em brigas e em atritos. Pelo contr�rio: acho chiqu�ssimo (chiqu�rrimo n�o existe, j� lhe falei?) quando tenho a oportunidade de abusar n�o somente do meu requintado vocabul�rio, mas tamb�m das minhas barrocas constru��es sint�ticas para, indiretamente, mandar a pessoa �quele lugar.
Entretanto, voc� h� de concordar comigo: os palavr�es ocupam, sim, um lugar sagrado no nosso dia a dia. Ou vai me dizer que, ao esfolar o ded�o do p� no ch�o, voc� prefere gritar “carambola!” a gritar “c@r+%#o!”? Fora os momentos de felicidade. Imagine-se recebendo a not�cia de que acabou de ganhar na loteria. Voc� vai berrar um sonoro e estrondoso “PQP!!!!!” ou um insosso e ins�pido “Que legal!!!!”? Talvez voc� prefira as interjei��es religiosas, como “Meu Deus!” e “Jesus!”, o.k. Mas isso � assunto para outro artigo.
“Ah, acho palavr�o uma coisa muito feia. Evito ao m�ximo.” Justamente. Se voc� evita, meu pseudopudico leitor, � sinal de que proferir palavr�es lhe confere uma esp�cie de al�vio, de refresco, de consolo. “Aqui em casa n�o deixo ningu�m falar”, vocifera a m�e de fam�lia. Ora, enquanto os seus herdeiros forem crian�as, n�o lhe faltar� o controle do vern�culo filial, mas adianto-lhe: o seu tempo de censura est� contado. Quanto ao seu marido, se voc� det�m o controle do linguajar do pobre coitado, eu apenas posso lamentar. Por voc� e por ele.
Bem, o que eu quis dizer, leitor, � que os palavr�es est�o � nossa disposi��o, para que fa�amos um bom uso deles. E, muitas vezes, despender for�as herc�leas com autocensuras torna-se tarefa ingl�ria, enfadonha e contraproducente. Afinal de contas, um “PQP” bem falado pode aliviar mais do que uma sess�o de terapia. Ent�o, sim, este texto tem o objetivo defender os palavr�es. Algu�m, al�m do fod�stico Chico Anysio, precisava fazer isso.