
A champanhe ou o champanhe? Em tempos de discuss�es vol�veis e irrespons�veis sobre os g�neros das palavras, esperto � aquele que se at�m ao substancial. Pensando nisso, discorrerei hoje, para o deleite dos borbulhosos amantes da bebida em quest�o, sobre a pergunta que n�o quer calar: afinal, devo falar a champanhe ou o champanhe?
Champanhe diz respeito a um vinho espumante produzido na regi�o de Champagne, na Fran�a. E, exatamente por se tratar de um vinho, encontramos, nos dicion�rios de renome, apenas uma quase indiscut�vel classifica��o: substantivo masculino. Entretanto, o Vocabul�rio Ortogr�fico da L�ngua Portuguesa (VOLP), uma esp�cie de Pai dos Burros dos Pais dos burros, afirma que o termo champanhe det�m os dois g�neros. E agora, Jos�?
Se champanhe � um tipo de vinho e, exatamente por isso, um voc�bulo masculino, de onde saiu essa est�ria de a champanhe? Da boca do povo, leitor. Colocou-se tanto, mas tanto o maldito a diante dessa palavra que o VOLP, embriagado pela ideia da inexor�vel metamorfose da l�ngua, trope�ou e aceitou. O pior: sem ressaca nenhuma, sem uma dorzinha de cabe�a sequer. Com isso, ocorreu uma ruptura lingu�stica. De um lado, segurando cartazes com o dizer “A l�ngua � viva”, permanecem os estudiosos pouco afeitos � norma culta, � tradi��o, �s regras. Do outro... bem, do outro, est� a minha turma, a dos apaixonados pela l�ngua portuguesa, pela gram�tica normativa, pelas conven��es.
Ali�s, os que falam a champanhe cometem n�o apenas uma heresia lingu�stica, mas et�lica. Onde j� se viu isso? Dizer a champanhe � o mesmo que negar a origem da bebida, meu Deus. Estamos falando de um tipo de vinho, n�o estamos? E vinho � o qu�? Mas-cu-li-no! Agora, pecado mortal mesmo, com direito a passagem direta para o inferno, merecem os que, n�o satisfeitos em usar champanhe como termo feminino, ainda dizem “Vamos tomar uma champanhe francesa?”. Se � champanhe, meu filho, � franc�s. N�o existe champanhe brasileiro, espanhol ou italiano. N�s, brasileiros, temos, no m�ximo, espumantes. E olhe l�! Bem, � isso. Mais uma vez, preciso dizer que tenho um d� danado das palavras. Sim, d� � masculino. Mas isso fica para outro artigo, que essa conversa me deixou tensa. Preciso, neste momento, de um senhor champanhe.