
Com o tempo, os n�meros s� pioram. De acordo com a Associa��o Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), entre janeiro e fevereiro de 2020, o Brasil apresentou aumento de 90% no n�mero de casos de assassinatos de pessoas trans quando comparado ao mesmo per�odo de 2019. Ainda assim, os dados n�o refletem exatamente a realidade, pois h� uma subnotifica��o sist�mica principalmente por se tratar de um grupo em que a sua pr�pria humanidade lhe � negada.
O que s�o pessoas trans?
Os sistemas de g�nero (portugu�s europeu) ou g�nero (portugu�s brasileiro) s�o as estruturas sociais que estabelecem o n�mero de g�neros e seus pap�is associados na cada sociedade. No nascimento, todos n�s sofremos uma determina��o de g�nero classificada pela genit�lia. Essa classifica��o � arbitr�ria e limitadora, pois identifica-se apenas os homens pelo p�nis e as mulheres pela vagina.
Uma pessoa trans � aquela cuja identidade de g�nero n�o coincide com a designa��o dada pelo sexo biol�gico. Por exemplo: uma pessoa que nasce com p�nis e se identifica socialmente como mulher, � uma mulher trans. Quando a identidade de g�nero de uma pessoa corresponde ao seu sexo biol�gico, ela � uma pessoa cis, ou cisg�nero.
Acontece que o ser humano possui uma multiplicidade de formas de exist�ncia e, consequentemente, de performar os seus g�neros. A identidade de g�nero � como a pessoa se reconhece enquanto homem cis, mulher cis, homens trans, mulher trans, g�nero fluido, intersexo, n�o bin�rio ou nenhum deles.
Sistemas de g�nero e o �dio a pessoas trans e travestis
Os sistemas de g�nero s�o as estruturas sociais que estabelecem o n�mero de g�neros e seus pap�is. Michel Foucault trata sobre concep��o moderna de sexualidade no segundo nos tr�s volumes de A hist�ria da sexualidade e aponta uma s�rie de fen�menos que s�o utilizados para controle das pr�ticas e comportamentos sexuais. Os mecanismos biol�gicos da reprodu��o humana, os costumes, a moral e as ideologias predominantes na sociedade s�o dispositivos para normatizar e reprimir toda express�o n�o bin�ria de g�nero.
A transfobia � toda forma de preconceito, discrimina��o ou viol�ncia contra pessoas trans e � estrutural. A nossa sociedade � pautada pela cisnormatividade e julga como adequado apenas as express�es de g�neros de pessoas cis. Pessoas transf�bicas encontram justificativa para o seu �dio no discurso de segmentos religiosos conservadores.
Pautada pela cren�a de que Deus fez o homem e a mulher, a sociedade nega �s pessoas trans a sua condi��o de exist�ncia, restando apenas o lugar de "aberra��o". "Em nome de Deus" e "pela fam�lia" pessoas trans s�o expulsas de suas casas, marginalizadas pela sociedade, v�timas de agress�es f�sicas e verbais, sofrem estupros coletivos e s�o assassinadas com requintes de crueldade.
Diferentemente do que se a maioria acredita, a binaridade de g�nero interessa mais ao capitalismo do que a Deus. Fundamentado na divis�o social do trabalho e na no��o de heran�a, sem binarismo e sem sexismo o capitalismo se desestruturaria. � exatamente por isso que somos socializados para aceitar pensamentos e a��es sexistas e reproduzir o controle dos comportamentos sexuais e das diversas express�es de g�nero.
Como apoiar as pessoas trans e travestis?
Al�m de serem expulsas das suas fam�lias e marginalizadas socialmente, as pessoas trans e travestis tamb�m s�o exclu�das das escolas e do mercado de trabalho. Segundo a ANTRA (2019), 90% das mulheres transexuais tem na prostitui��o a sua principal fonte de renda. J� parou para pensar quantas pessoas trans e travestis trabalham na mesma empresa que voc�?
� urgente reconhecer a humanidade de pessoas trans e travestis e criar oportunidades para que elas mostrem suas pot�ncias pessoais, profissionais e intelectuais. Precisamos desconstruir a cisnormatividade e celebrar a multiplicidade dos seres humanos.
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Para finalizar, � muito importante refor�ar que a luta antissexista passa, necessariamente, pela causa transexual. Mulheres, entendam, se o seu feminismo n�o inclui as mulheres trans e travestis, n�o h� feminismo.