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Estado de Minas DA QUEBRADA PARA O MUNDO

Com Baile de favela, Rebeca Andrade projeta o perseguido funk mundialmente

Para al�m de garantir lazer e divertimento, o funk permite a jovens negros e mesti�os das periferias e favelas do pa�s se olharem como produtores de cultura


31/07/2021 06:00 - atualizado 31/07/2021 10:20

(foto: Lionel BONAVENTURE / AFP)


O funk, g�nero musical brasileiro criado e popularizado nas favelas e sub�rbios do Rio de Janeiro, ocupa, no in�cio do s�culo 21 o lugar que, um s�culo antes, foi ocupado pelo samba. Assim como ocorreu com o samba no per�odo p�s-aboli��o, o funk � severamente criticado e perseguido. Os bailes funk s�o frequentemente alvos de abordagens policiais violentas, injustamente associados ao tr�fico e � criminalidade e seguem imersos em controv�rsias sobre sua import�ncia cultural. Al�m disso, alguns de seus expoentes, como o DJ Renan da Penha, s�o perseguidos e presos com base em alega��es fr�geis ou inver�dicas. 

Mas a hist�ria e trajet�ria do funk s�o riqu�ssimas e tem muito a revelar sobre o Brasil. A origem do funk carioca remonta aos anos 1970. Nesse per�odo, clubes noturnos da zona sul do Rio de Janeiro passaram a contratar DJs que tocavam funk e soul norte-americanos.
 
Ao mesmo tempo, nas periferias da cidade eclodia o Movimento Black Rio capitaneado por jovens negros que, influenciados pelos movimentos da contracultura e pelo Black is Beautiful, organizavam bailes soul com a participa��o de diversas equipes de som. Esses bailes, como os que ocorriam no Renascen�a, tradicional clube negro da zona norte carioca, eram marcados por uma forte afirma��o da identidade negra. Durante os bailes eram projetados trechos traduzidos das letras das m�sicas norte-americanas, imagens de lideran�as negras e de personagens ficcionais. Trechos do filme Shaft e de outras produ��es blaksplotation, bastante populares no per�odo, tamb�m eram projetados.
 

'O funk carioca j� nasceu cosmopolita e internacionalizado a partir dessa mescla de ritmos e culturas. As equipes de som, como a Furac�o 2000, ganharam ainda mais popularidade nos anos 1980 e a presen�a dos MCs, que improvisavam letras sobre a realidade vivida enquanto os DJs tocavam samples de g�neros musicais diversos mas, em especial, do Miami bass, tamb�m se tornou um elemento central dos bailes.'

 
 
O funk carioca j� nasceu cosmopolita e internacionalizado a partir dessa mescla de ritmos e culturas. As equipes de som, como a Furac�o 2000, ganharam ainda mais popularidade nos anos 1980 e a presen�a dos MCs, que improvisavam letras sobre a realidade vivida  enquanto os DJs tocavam samples de g�neros musicais diversos mas, em especial, do Miami bass, tamb�m se tornou um elemento central dos bailes. Os primeiros trabalhos acad�micos sobre o funk, como a disserta��o de mestrado do antrop�logo Hermano Vianna, foram realizados no per�odo. Vianna afirma em sua pesquisa que, nos anos 1980, o funk carioca j� reunia cerca de um milh�o de pessoas nos 700 bailes que existiam na cidade.

Nos anos 1990 o funk carioca se popularizou Brasil afora e m�sicas que versavam sobre temas relacionados � pobreza, viol�ncia policial e injusti�a social, como o Rap da Felicidade e o Rap do Silva, foram tocadas intensamente em r�dios de todo o pa�s.  Entretanto, as estrat�gias de criminaliza��o e vilaniza��o do funk tamb�m se intensificaram. V�rias reportagens e mat�rias produzidas na �poca passaram a associar o funk ao tr�fico de drogas, � permissividade sexual e aos arrast�es que se tornaram frequentes na zona sul carioca. Isso fez com que a populariza��o do funk tivesse vida curta.

Nos anos 2000 o funk carioca se diversificou. A ascens�o de funkeiras mulheres, tais como Tati Quebra Barraco, Deize Tigrona e dos bondes femininos, que falavam abertamente sobre prazer feminino e liberdade sexual causou grande furor e contribuiu, juntamente com a maior presen�a de fun keiros em programas televisivos, para uma repopulariza��o do g�nero. E tamb�m para o in�cio de sua internacionaliza��o.  O document�rio “sou feia mais t� na moda”, dirigido por Denise Garcia, lan�ado em 2005, retrata com cuidado a realidade dessas “feministas sem panfleto e sem cartilha”. O document�rio teve boa repercuss�o internacional e, no mesmo ano, foi lan�ada a m�sica Bucky Done Gun, da artista inglesa M.I.A, que continha um sample do funk “Inje��o” da Deize Tigrona e popularizou o g�nero internacionalmente. 

Essa repopulariza��o do funk foi acompanhada de forte cr�tica. O lan�amento do filme Tropa de Elite, que trazia em sua trilha sonora a m�sica Rap das Armas, lan�ada originalmente em 1995, reacendeu os debates que associavam o funk ao tr�fico de drogas e � criminalidade. Al�m disso, durante o governo S�rgio Cabral no Rio de Janeiro foram criadas as UPPs (Unidades de Pol�cia Pacificadora) em algumas favelas da capital. As UPPs proibiram a realiza��o dos bailes e o funk carioca viveu um momento de decl�nio, enquanto algumas de suas deriva��es, em especial o funk ostenta��o de S�o Paulo, ganharam maior visibilidade. Nesse per�odo o canal do diretor de funk Kondzilla tornou-se o mais popular do Youtube brasileiro, com mais de 50 milh�es de inscritos e o funk passou a ser o segundo g�nero musical mais escutado no pa�s, atr�s apenas do sertanejo. 

Apesar de continuar perseguido o funk segue se fortalecendo e mostrando a vivacidade e criatividade das culturas juvenis das periferias do Brasil. Al�m de contar com cantoras de popularidade nacional e internacional, como Ludmilla e Anitta, novas deriva��es do funk, tais como o 150bpm e o brega funk, promovem uma renova��o constante do g�nero.
 

'Apesar de continuar perseguido o funk segue se fortalecendo e mostrando a vivacidade e criatividade das culturas juvenis das periferias do Brasil. Al�m de contar com cantoras de popularidade nacional e internacional, como Ludmilla e Anitta, novas deriva��es do funk, tais como o 150bpm e o brega funk, promovem uma renova��o constante do g�nero.'

 
 
O funk, para al�m de garantir lazer e divertimento, permite que jovens negros e mesti�os das periferias e favelas do pa�s olhem para si como produtores de cultura, que reconhe�am e valorizem seus lugares de origem e queiram se propalar de l� para o mundo, por�m sem negar suas ra�zes. Rebeca Andrade, que se tornou a primeira brasileira a conquistar uma medalha na gin�stica art�stica dos Jogos Ol�mpicos, exemplifica como poucos o impacto pol�tico e cultural do funk. A ginasta, que iniciou sua carreira em um projeto social da Prefeitura de Guarulhos, conquistou sua medalha ao som de “Baile de Favela”, m�sica do Mc Jo�o que lista e celebra as favelas e os bailes de S�o Paulo. Rebeca levou sua quebrada e o baile funk pro mundo e com isso nos fez acreditar que o funk pode sim ser a cola da cidade partida.

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