
Amargo a�ucarado
O Enem divulgou as notas. Ops! A meninada, que testou tim-tim por tim-tim cada quest�o, questionou o resultado. Com raz�o. O Inep trocou os gabaritos. Ao anunciar o fato, disse tratar-se de “inconsist�ncia”. Recorreu ao eufemismo. Erro ganhou nome mais leve – inconsist�ncia. Ele adocicou o termo. Em vez de usar palavra que choca, causa dor ou provoca imagens desagrad�veis, apelou para outra, mais branda.
Eufemismos � solta
H� exemplos pra dar, vender e emprestar. Bolsonaro, quando baixou o decreto que libera a posse de arma, deu li��o de eufemismo. No pronunciamento, cumprimentou deputados da Bancada da Bala. S�o parlamentares que defendem o direito de o cidad�o ter em casa rev�lver & cia. Sua Excel�ncia, em vez de Bancada da Bala, chamou-a de Bancada da Leg�tima Defesa.
Muitos sentem medo da palavra morte. O que fazem? Pedem ajuda aos eufemismos. Manuel Bandeira chamou-a de “a indesejada das gentes”. Outros dizem passamento, falecimento, viagem, ida para a companhia do Senhor, passagem desta pra melhor, espichar a canela, vestir palet� de madeira, bater as botas. E por a� vai.
Diabo n�o fica atr�s. A l�ngua oferece mil artimanhas para fugir do coitadinho: demo, bicho, anjo rebelde, anhang�, bei�udo, canhoto, c�o, coxo, coisa ruim. Vade retro, satan�s!
Balb�rdia
Na corre��o, o Enem trocou as cores. Misturou as provas cinza com os gabaritos amarelos. Deu no que deu – o samba das notas doidas. A balb�rdia deixa uma li��o: o adjetivo cinza � invari�vel. Por qu�? Porque deixa subentendida a express�o (cor da): terno (da cor da) cinza, ternos (da cor da) cinza, prova (da cor da) cinza, provas (da cor da) cinza.
Claro e escuro
Os parezinhos cinza-claro e cinza-escuro tamb�m s�o invari�veis: terno cinza-claro, ternos cinza-claro, terno cinza-escuro, ternos cinza-escuro, bolsa cinza-claro, bolsas cinza-claro, bolsa cinza-escuro, bolsas cinza-escuro.
Vem, Mobral
Em 1968, o governo militar quis acabar com o analfabetismo de adultos. Criou o Movimento Brasileiro de Alfabetiza��o, mais conhecido por Mobral. A hist�ria durou 15 anos. Fracassou. Muitos pensam ressuscit�-la com apoio das novas tecnologias. Dar� certo? Antes de lan�ar o Novo Mobral, o m�todo ser� testado. As cobaias ser�o o ministro da Educa��o e o presidente do Inep. Ambos trope�am nos primeiros passos da alfabetiza��o. Trocam s por z. O chef�o, Abraham Weintraub, escreveu paralisa��o com z. O chefinho, Alexandre Lopes, visualiza��o com dois z�s.
Eles se esqueceram que as palavras t�m pai e m�e. As derivadas conservam a letra da primitiva, que funciona como sobrenome do cl�. Casa, por exemplo, se grafa com s. Casinha, casebre, casar�o v�o atr�s. Vis�o se escreve com s. Os filhotes tamb�m: vis�vel, visibilidade, visualiza��o. Paralisia nasceu com s. Paralisar e paralisa��o idem.
Pl�gio fatal
O secret�rio da Cultura plagiou a turma do Hitler. Disse que a arte brasileira seria “heroica”. Rapidinho virou ex. Mas deixou uma quest�o no ar: por que her�i tem acento e heroico n�o tem? A resposta tem tudo a ver com a reforma ortogr�fica. Antes da mudan�a, o ditongo aberto oi se escrevia com grampinho sempre. A reforma alterou a regra s� das parox�tonas. Ox�tonas, proparox�tonas e monoss�labos t�nicos mantiveram-se como sempre foram. Da� por que a grafia nota 10 � d�i, her�i, len��is, heroico, joia, jiboia, paranoico.
Sem diferen�a
O mesmo ocorreu com o ditongo aberto ei. S� as parox�tonas perderam o acento: pap�is, pinc�is, ideia, assembleia.
%u201CAgora, mais do que nunca, � importante ler livros. Com eles, e s� com eles, atravessaremos as piores tempestades.%u201D
Jaime Pinsky
Leitor pergunta
Com a fala do secret�rio da Cultura, o nazismo voltou ao notici�rio. A forma reduzida n�zi tem acento. Por qu�?
. Cleber Nobre, Santos
N�zi joga no time de t�xi. S�o parox�tonas terminadas em i. Da� o grampinho.