Para Ferreira Gullar, o melhor movimento feminista � o dos dois aa

 

Hoje � o Dia Internacional da Mulher. Trata-se de homenagem justa. T�o justa que se torna desnecess�ria. A mitologia explica. Ela � a origem de tudo. Sem princ�pio masculino, criou o c�u, as montanhas e o mar. Uniu-se ao c�u e teve descendentes. S�mbolo da fecundidade, � a m�e do universo e dos deuses. Engloba as qualidades e defeitos humanos e divinos. Da� ser conhecida como a Grande M�e. Os gregos a chamam de Gaia. Os romanos, de Terra.

“As mulheres s�o seres humanos exatamente como os homens – iguais na capacidade de julgar e de cometer erros se lhes derdes a mesma experi�ncia do mundo e os mesmos contatos com ele; na capacidade de realizar trabalho eficaz, de conservar a cabe�a fresca se lhes derdes o mesmo treino nos neg�cios; no descortino social, se n�o as trancardes em casa; e, finalmente, na capacidade de governar, pois, se as mulheres governassem o mundo, n�o poderiam talvez estabelecer maior confus�o nele do que o fizeram os homens na Europa atual.”

Lin Yutang

Mulher tem plural. � mulheres. Tem diminutivo. � mulherzinha. E tem requintes. � o plural do diminutivo. Pra chegar a ele, temos de vencer tr�s etapas. Uma: p�r o nome no plural. A outra: apagar o s. A �ltima: acrescentar o sufixo – zinhas. Assim: mulher – mulhere(s) – mulherezinhas

O requinte contagia outros diminutivos. Al�m das palavras terminadas em r como mulher, entram na roda os terminados em l, �o, m:

colher – colhere(s) – colherezinhas

flor – flore(s) – florezinhas

bot�o – bot�e(s) – bot�ezinhos

animal – animai(s) – animaizinhos

p�o – p�e(s) – p�ezinhos

professor – professore(s) – professo-       rezinhos

papel – pap�i(s) – papeizinhos

homem – homen(s) – homenzinhos

Feminino ou masculino? H� palavras que t�m o g�nero bem definido. Mas nem todos o conhecem. Na d�vida, chutam. T�m 50% de possibilidade de acertar e 50% de cair numa esparrela. Em geral, a Lei de Murphy pede passagem. O que pode dar errado d�. Pra n�o dar chance ao azar, guarde esta dica. Ela se refere a duas del�cias. Alface e musse s�o femininas sim, senhores – a alface e a musse. Mudar-lhes o g�nero tem consequ�ncia. � indigest�o.

“O melhor movimento feminista � o dos quadris”, repetia Mill�r Fernandes. Ferreira Gullar discordava. Pra ele, o melhor movimento feminista � o dos dois aa. Trata-se de um caso de amor. Um a encontra outro a. Olham-se. Sorriem. E caem de paix�o. Decidem, ent�o, juntar os trapinhos. Viram a crase, que, vale frisar, n�o foi feita pra humilhar ningu�m. O cas�rio ocorre quando a preposi��o a encontra o artigo feminino a ou o a inicial dos demonstrativos, aquele, aquela, aquilo. O acento indica que a dupla p�s a alian�a no anular esquerdo: O �xito � obst�culo � liberdade. Entreguei o relat�rio �quele homem.

A d�vida pintou? Apele para o troca-troca. Substitua a palavra feminina por uma masculina (n�o precisa ser sin�nima). Apareceu ao? Sinal de crase. N�o apareceu? Deixe o acento grave pra l�:

Maria vai � escola. (Maria vai ao clube.)

Estudar vale a pena. (Estudar vale o  sacrif�cio.)

Fruta faz bem � sa�de. (Fruta faz bem ao  cora��o.)

A crase muda tudo

O amor bate � porta

E tudo � festa.

O amor bate a porta

E nada resta.

(Cineas Santos)

Costumo dizer “entre mim e Deus”. Por quest�o de respeito, posso dizer “entre Deus e mim”? 

As pessoas do discurso s�o tr�s. A primeira fala (eu, n�s). A segunda escuta (tu, v�s, voc�). A terceira serve de assunto (ele, ela). Qual a mais importante? A primeira. Por isso o mim, pronome de 1ª pessoa, tem prioridade sobre as demais pessoas: acordo firmado entre mim e Deus, acordo firmado entre mim e ti, acordo firmado entre mim e eles, acordo firmado entre mim, ti e eles. Antigamente, os professores diziam “o burrinho vai sempre na frente”. Jeito deles de ajudar na fixa��o da prioridade das pessoas.