'O presidente pode indicar e desindicar ministros.' Ops!

Amanh� os sinos v�o badalar com entusiasmo. Homenagear�o S�o Pedro. Ele � o menos festejado dos santos juninos. Por qu�? Os outros dois t�m mais apelo. Santo Ant�nio � casamenteiro. S�o Jo�o, festeiro. S�o Pedro mora muito longe, l� no c�u. Tem tantos poderes que assusta. Quando troveja, os pais dizem pros filhos que S�o Pedro est� mudando os m�veis de lugar. Quando chove canivetes, algu�m murmura que S�o Pedro est� de mau humor. Quando morremos, dependemos dele pra abrir a porta do c�u. Contam que o porteiro da morada eterna, antes de autorizar a entrada na casa do Senhor, pergunta s�rio: “Voc� foi feliz?” Se a resposta for sim, ele escancara o sorriso e a passagem. Se for n�o, para pra pensar. Manuel Bandeira ouviu essa hist�ria. “Que injusti�a!”, exclamou ele. E p�s m�os � obra. Escreveu um poema doce como o mel.

Irene no c�u

Irene preta.

Irene boa.

Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no c�u:

 – Licen�a, meu branco!.

E S�o Pedro bonach�o:

– Entra, Irene. Voc� n�o precisa pedir licen�a.

� pedra

Pedro n�o se chamava Pedro. Chamava-se Sim�o. Cristo mudou-lhe o nome: “Tamb�m eu te digo que tu �s Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e te darei as chaves do reino dos c�us”. Pedro significa rocha. Em aramaico, a l�ngua de Jesus, rocha � pedra.

Sai ministro, entra ministro. Ufa! Parece jogo de domin�. A imprensa comenta. Alguns criticam. Outros aplaudem. H� tamb�m os que n�o est�o nem a�. N�o � o caso do deputado que, para fazer agrados a Bolsonaro, soltou esta: “O presidente pode indicar e desindicar ministros”. O colega que estava pertinho aproveitou a oportunidade para alfinetar. Fez duas observa��es. Uma: “Presidente n�o indica. Nomeia”. A outra: “Presidente algum, em bom portugu�s, “desindica” algu�m. Ele exonera”.

Pol�ticos discutem o adiamento das elei��es municipais. Pra justificar a urg�ncia da vota��o, adotaram a contagem regressiva. Recorrem, ent�o, a palavra pra l� de trai�oeira. Trata-se do verbo faltar. Quando o sujeito vem posposto, n�o d� outra. Desatentos pisam a concord�ncia.

Aparecem horrores como “falta tr�s meses, falta cinco, falta quatro” e por a� vai. Vale lembrar: o diss�labo n�o goza de privil�gios. Concorda com o sujeito: faltam tr�s meses (tr�s meses faltam), faltam 10 dias (10 dias faltam), falta menos de uma semana (menos de uma semana falta).

E a R�ssia, hein? � o terceiro pa�s com maior n�mero de v�timas da covid-19. Mas ignorou a trag�dia. Pra comemorar o Dia da Vit�ria, promoveu parada militar com centenas de homens. O show tirou o f�lego. Rep�rteres disseram que o presidente p�s em risco a vida da popula��o para levantar "a moral” do povo. Ops! Trocaram o g�nero da palavra.

A juventude dificilmente fala em moral. Prefere dizer astral. H� pessoas que t�m alto-astral. Outras, baixo-astral. � o mesmo que o moral. No masculino, a diss�laba indica estado de esp�rito, disposi��o de �nimo: Vladimir Putin quis levantar o moral do povo. Com a vit�ria do time, o moral dos jogadores foi pras alturas. Os derrotados ficaram com o moral no ch�o.

A moral � norma de conduta, moralidade. Coisa de m�e. No caso, s� o feminino tem vez: A moral nacional depende da cultura de cada povo. Voc� sabe qual a moral da f�bula A raposa e as uvas? Qual a moral da hist�ria?

Voc� fala em astral? D� vez ao masculino (o moral). Voc� fala em li��o de moral? O feminino pede passagem (a moral).

Por que se diz “fui no Recife” e n�o fui ao Recife, como se diz fui ao Rio, fui a SP, fui � Europa.

>> Jos� Roberto Rezende Dutra, BH

Recife tem privil�gios com o artigo. Pode ou n�o vir acompanhada do pequenino. Mas precisa curvar-se � reg�ncia. Em bom portugu�s: Fui a Recife. Fui ao Recife. Fui a Bras�lia. Fui a S�o Paulo.