Recado
“Foi sempre pelos olhos dos nossos poetas que o portugu�s viu mais longe e mais fundo.”
Eug�nio de Andrade
Bem-vinda, primavera
Oba! Chegou a primavera. A natureza se enfeitou pra receb�-la. As plantas florescem. Cores e odores invadem o ar. Roupas leves e alegres circulam por ruas, pra�as e shoppings. No meio da festa dos sentidos, vale a pergunta. Qual a etimologia da esta��o das flores? Primavera vem do latim. Tem duas partes. Uma: prima. Quer dizer antes, no come�o. A outra: vere. Significa ver�o. Em bom portugu�s: primavera � a esta��o que antecede o ver�o. Bem-vinda!
Etapas
Em tempos idos e vividos, s� havia duas esta��es – o inverno e o ver�o. O frio durava tr�s meses. O calor, nove. Ora, h� calor e calor. Em 270 dias, a temperatura varia: sobe, sobe mais, desce. A natureza tamb�m se mexe. As flores se v�o, abrem caminho para as frutas, que explodem no fim no per�odo. E da�? A primavera � o primeiro ver�o; o ver�o, o alto ver�o; o outono, o baixo ver�o.
Met�fora
Primavera � esta��o do ano. A palavra tamb�m se usa em sentido figurado. Metaforicamente, designa a fase da vida de uma pessoa jovem: Completou 18 primaveras.
Literatura
Escritores se inspiraram nas esta��es do ano pra falar das fases da vida. O escritor maranhense Arthur Azevedo escreveu: “Os meus 39 outonos est�o, como sempre, �s ordens das tuas 25 primaveras”. O franc�s Victor Hugo foi atr�s: “O inverno cobre minha cabe�a, mas uma eterna primavera vive em meu cora��o”. O liban�s Kalil Gibran completou: “Se o inverno dissesse � primavera est� no meu cora��o, quem acreditaria no inverno?”
Sem pedigree
As esta��es do ano jogam no time dos vira-latas. Escrevem-se com a inicial min�scula: primavera, ver�o, outono, inverno.
Trope�o

Ana Maria Braga dava entrevista � TV Cultura. Segura, simp�tica e sorridente, falou de c�ncer, fam�lia, carreira, amores. Ao opinar sobre a pol�tica cultural, disse: “Acho que houveram excessos na �rea”. O verbo haver, coitado, apanhou. Est� gemendo at� agora. Ele joga em dois times:
Pessoal = conjuga-se em todas as pessoas: hei de estudar, h�s de estudar, h� de estudar, havemos de estudar, haveis de estudar, h�o de estudar.
Impessoal = na acep��o de existir e ocorrer, s� se flexiona na 3ª pessoa do singular: N�o haver� perguntas. H� cinco alunos na sala. Houve dist�rbios durante as manifesta��es. Houve tempos de paz no Oriente M�dio? Houve excessos na �rea.
Por qu�?
No caso, o verbo haver n�o tem sujeito. Perguntas, alunos, dist�rbios, tempos e excessos funcionam como objeto direto. Muitos pensam que s�o sujeito. E l� vem o plural. Valha-nos, Deus!
Por falar em haver...
Haver ou a ver? A pron�ncia � a mesma. Mas a grafia e o significado de um n�o t�m nada a ver com o outro:
A ver = ter rela��o com: Minha hist�ria tem tudo a ver com a de Paulo. Este fato n�o tem nada a ver com aquele. O que uma coisa tem a ver com a outra?
Haver = verbo: Vai haver dist�rbios na volta �s aulas? Pode haver manifesta��es durante a visita de Bolsonaro? No Brasil, costuma-se empregar o verbo ter no lugar do haver.
Superdica
Como n�o confundir as duas formas? Fa�a o jogo do troca-troca. Se o a for substitu�vel por que, d� a vez ao a ver. Caso contr�rio, o haver pede passagem: Este caso n�o tem nada a (que) ver com aquele. Minha hist�ria tem tudo a (que) ver com a de Paulo. Vai haver festa aqui?
Leitor pergunta
Li no jornal: “Ida de idosos � urnas”. A crase est� correta?
>> Alberto Barduco, Santos
Crase � casamento de dois aa. Um � sempre a preposi��o. O outro pode ser o artigo ou pronome. No caso, seria o artigo que acompanha o substantivo urnas. Como urnas est� no plural, o artigo deve ser as. A crase, �s. H�, pois, duas formas de corrigir o texto: Ida dos idosos a urnas (sem artigo). Ida de idosos �s urnas (com artigo).