Crase tim-tim por tim-tim. Ufa! Chegamos ao fim da linha

Ufa! Chegamos ao fim da linha. No percurso, desvendamos tim-tim por tim-tim os mist�rios da crase. Mostramos que a escola comete senhora injusti�a com a preposi��o ao responsabiliz�-la pelos trope�os sem fim.

No duro, no duro, o algoz do grampinho � o artigo. Ele se esconde manhosamente. Como quem n�o quer nada, causa estragos. Rouba a clareza. Desclassifica concurseiros. Mata amores. Agora, o reinado dele bate ponto final. Adeus!

No duro, no duro, a norma � uma s�. O acento grave indica o casamento de dois aa. Mas nem tudo s�o flores. No reino da uni�o, um dos noivos gosta de pregar pe�as. � o artigo. Ele nem sempre est� claro. Ao se esconder, d� n� em fuma�a e, de quebra, em miolos de quem quer acertar sempre. As dicas t�m um s� prop�sito – abrir o jogo do farsante. Uma vez descoberto, fica uma certeza. O diabo n�o � t�o feio quanto o pintam.

Crase antes de nome de pessoa? � facultativa. Depende do artigo. H� regi�es que o usam e regi�es que o dispensam (a Lia, Lia):

Referiu-se � Maria. Referiu-se a Maria.

Dirijo-me � Paula? Dirijo-me a Paula?

Ambas est�o corretas. Na primeira, usa-se o artigo. Na segunda, n�o. � quest�o regional.

Guarde isto: em express�es com palavras repetidas, o grampinho n�o tem vez: cara a cara, gota a gota, uma a uma, ponta a ponta, frente a frente.

Com crase ou sem crase: � zero hora ou a zero hora? A locu��o adverbial formada de palavra feminina pede o acento grave: � zero hora, �s claras, �s escuras, �s apalpadelas, � meia-noite.

Quer um macete? Substitua hora por meio-dia. Se na troca der ao, n�o duvide. Ponha o grampinho: O avi�o decola � 0h (ao meio-dia). A aula come�a �s 14h (ao meio dia). Estou no aeroporto desde as 4h (desde o meio-dia).

Escrever � m�o? Escrever a m�o? No troca-troca, temos escrever a l�pis. Sem artigo, n�o h� crase. Mas use o acento. Pela clareza.

Bater � m�quina? Bater a m�quina? N�o h� crase. Mas, sem o acento, o leitor pode entender que a m�quina levou pancada. � a clareza.

Pagar � vista? Pagar a vista? No troca-troca, temos pagar a prazo. Sem artigo, n�o h� crase. Mas a clareza pede o acento.

Resumo da opereta: em escrever � m�o, bater � m�quina, pagar � vista, n�o ocorre a fus�o de dois aa. Mas a clareza pede o acento. � a falsa crase.

Ensino a dist�ncia? Ensino � dist�ncia? Trata-se de locu��o adverbial. Mas os autores se dividem. � que dist�ncia ora pede artigo, ora n�o pede.

Se a dist�ncia for determinada, pede o artigo. A�, haver� o encontro de dois aa. Se n�o, nada de artigo ou crase.

Compare: Vigie-a a dist�ncia. Vigie-a � dist�ncia de 100m. Vi o ator a dist�ncia. Vi o ator � dist�ncia de  50m. As universidades oferecem ensino a dist�ncia.

Crase antes de casa? Depende do artigo. A casa onde moramos rejeita o pequenino: Logo, n�o admite o acento grave: Sa� de casa. Trabalho em casa.

Sem artigo, o a que antecede a casa onde moramos � preposi��o purinha. N�o admite acento de crase: Dirigi-me a casa cedo.

A casa dos outros pede artigo – a casa da vov�, a casa da esquina, a casa dos pais: Foi � casa da av�. Vai � casa do Jo�o. Dirigiu-se � casa da esquina. Dirigiu-se � casa dos pais. Vai � casa de parentes distantes.

Viu? Antes da casa dos outros aparece artigo. A crase tem vez.

Terra firme, em oposi��o a mar, n�o admite artigo. Por isso os marinheiros gritam “terra � vista”. Sem artigo, nada de crase: O navio chegou a terra ao amanhecer.

Nos demais significados de terra, usa-se a crase: Maria voltou � terra natal. Os astronautas regressaram � Terra.

�quele? �quilo? O a n�o � problema. Est� presente no pronome. Vem, preposi��o: Luiz se dirigiu �quele vendedor que sorria.

Viu? A gente se dirige a algu�m. O a exigido pelo verbo se encontra com o a do pronome aquele. � casamento na certa. Em rela��o �quilo, nada sei. O a da locu��o em rela��o a d� de cara com o a de aquilo. Resultado: os trapinhos se juntam.

A abreviatura de apartamento � ap. ou aptº?

>>  Vilma Santos, Olinda

� ap.