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Estado de Minas

Como as revolu��es deram lugar �s revoltas

Os governos nascem das urnas; as revoltas, das ruas


postado em 26/10/2019 04:00 / atualizado em 25/10/2019 22:03

Protestos como no Chile ganham força em várias partes do mundo e pressionam governos (foto: Martin Bernetti/AFP)
Protestos como no Chile ganham for�a em v�rias partes do mundo e pressionam governos (foto: Martin Bernetti/AFP)

Vladimir Putin atribuiu a revolu��o ucraniana de 2014 a um compl� americano. O governo chin�s menciona a “m�o negra” da Casa Branca quando fala das manifesta��es em Hong Kong. Segundo Filipe Martins, o s�bio assessor internacional do Planalto, “os recentes movimentos de desestabiliza��o de pa�ses sul-americanos” derivam de “uma estrat�gia definida pela ditadura cubana, por sua proxy venezuelana e pela rede de solidariedade que as sustenta”. Quando o tem�vel Foro de S�o Paulo estala os dedos, milhares erguem barricadas em Quito e Santiago...

A raz�o conspirat�ria � o lar compartilhado por regimes ditatoriais e ide�logos primitivos. A agita��o social n�o se restringe � Am�rica do Sul. No L�bano e no Iraque, protestos de massas coincidiram com as mobiliza��es chilenas. Bem antes do Equador, os “coletes amarelos” conflagraram as cidades francesas, motivados tamb�m por aumentos nos combust�veis. H� algo a�, al�m da coincid�ncia temporal.

S�o hist�rias singulares, pa�ses diferentes, modelos distintos. Numa ponta, a Fran�a social-democrata, com desigualdades moderadas e taxas let�rgicas de crescimento econ�mico. Na outra, o Chile liberal, com r�pida expans�o econ�mica e fortes contrastes sociais. Por�m, em todos os casos, a centelha da revolta s�o cortes de subs�dios de transportes, eleva��es de pre�os da gasolina, tributos sobre produtos ou servi�os de consumo geral. No L�bano, a fa�sca foi uma taxa sobre liga��es por WhatsApp.

A primeira d�cada do s�culo, um longo ciclo de expans�o mundial, deixou um rastro de gastos p�blicos insustent�veis. Os ajustes em curso, que refletem a redu��o do crescimento global e se destinam a reequilibrar as contas p�blicas, s�o os alvos das manifesta��es. N�o � pelos 20 centavos: o conflito organiza-se em torno de contratos sociais em muta��o. Como repartir a conta da austeridade? A pergunta, cedo ou tarde, chegar� ao Brasil, como uma mancha de �leo. Tomem nota, Bolsonaro e Guedes.

Os governos nascem das urnas, sob a l�gica da din�mica pol�tico-partid�ria. As revoltas nascem das ruas, na moldura da desintermedia��o pol�tica generalizada. Os partidos declinam, as redes sociais tomam o lugar que foi deles. Nas margens, minorias radicalizadas explodem coquet�is molotov, enfrentam a pol�cia, desafiam at� mesmo soldados. O quebra-quebra carece de respaldo majorit�rio. Contudo, que ningu�m se iluda: os manifestantes contam com extenso apoio popular.

N�o s�o levantes “espont�neos”, algo inexistente no planeta da pol�tica. Nas ruas, destacam-se as bandeiras de sindicatos, entidades estudantis, grupos organizados. Mas a desintermedia��o tem um pre�o, expresso pela aus�ncia de lideran�as definidas e de agendas n�tidas de reivindica��es.

As redes sociais operam como m�quinas de replica��o. O recuo de Emmanuel Macron, que anulou o tributo sobre a gasolina, animou mobiliza��es em terras distantes. A retirada do equatoriano Len�n Moreno ajudou a acender o pavio em Santiago. No fim, sitiado, o chileno Sebasti�n Pi�era desistiu do discurso da “guerra”, ofereceu desculpas ao povo e improvisou um pacote social. Sem um Pinochet (ou um Xi Jinping), o programa ultraliberal converte-se em utopia: uma ideia fora do tempo.

Derrubar o governo – a meta extrema emergiu em todos os lugares, logo depois da conquista inicial. Os “coletes amarelos” pedem nada menos que a ren�ncia de Macron. A mesma exig�ncia surgiu no Equador e, nesses dias, ecoa no Chile. A revolu��o, vener�vel senhora, o maior dos mitos modernos, levantou-se da cadeira de balan�o?

Revolu��o, s� com intermedia��o pol�tica. N�o basta clamar pela queda do governo: � preciso definir os contornos de um poder alternativo e o desenho de um novo contrato social. A era das redes sociais, esse outono dos partidos, assinala um retrocesso. A revolu��o pol�tica cede � revolta social.

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