(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Esgoto nas praias faz do litoral um mar de coliformes fecais

No conjunto do litoral, em 2019, 35% das praias s�o classificadas como ruins ou p�ssimas e 27% como regulares


postado em 28/12/2019 04:00 / atualizado em 28/12/2019 09:46

Manchas de óleo atingiram as praias no Nordeste neste ano, mas com só 45% dos efluentes tratados no país, poluição escoa pelos rios até o mar(foto: Simone Santos/Projeto Praia Limpa - 12/10/19)
Manchas de �leo atingiram as praias no Nordeste neste ano, mas com s� 45% dos efluentes tratados no pa�s, polui��o escoa pelos rios at� o mar (foto: Simone Santos/Projeto Praia Limpa - 12/10/19)

A Austr�lia tem um mar de coral, pura poesia. Os atlas argentinos nomeiam o Atl�ntico Sul como mar Argentino, pura imagina��o geopol�tica. Numa deriva��o conceitual equivocada, os militares deram de chamar nosso mar territorial “Amaz�nia Azul”. Sugiro o realismo: mar dos Coliformes Fecais.

De norte a sul, os 7.367 quil�metros do litoral brasileiro formam a mais extensa faixa de polui��o oce�nica por �guas de esgoto do mundo. � como se os Bolsonaros – o pai, os filhos e o esp�rito santo, que mora na Virg�nia – tivessem discursado sequencialmente, do Oiapoque ao Chu�, envenenando um mar sem fim. Mas, de fato, a culpa (ainda) n�o � deles: o estado de nossas praias reflete os valores da pol�tica nacional.

As praias queridas da minha inf�ncia (Gonzaguinha, em S�o Vicente, Perequ�-Mirim, em Ubatuba) est�o imundas, assim como as dos meus 20 anos (Trindade, em Paraty, Farol da Barra, em Salvador, Lagoa da Concei��o, em Florian�polis). As dos meus 40 (Porto de Galinhas, em Pernambuco, Morro de S�o Paulo, na Bahia) j� rumam ao mesmo destino.

No Brasil, apenas 45% dos efluentes coletados s�o tratados. Grande parte do restante segue, pelos rios, at� o mar. O cen�rio deprimente deteriora-se cada vez mais. No conjunto do litoral, em 2019, 35% das praias s�o classificadas como ruins ou p�ssimas e 27% como regulares. Nos 31 munic�pios definidos como priorit�rios pelo Minist�rio do Turismo, aqueles com maior visita��o, 42% das praias est�o ruins ou p�ssimas. Boas, 28%. O retrato decorre de um padr�o de urbaniza��o costeira linear e predat�ria com o despejo generalizado de esgotos nos cursos d'�gua.

As aten��es, nos �ltimos meses, concentraram-se no "inimigo externo”: as manchas vis�veis, pretas, do �leo misterioso derramado em alto-mar. Ricardo Salles acusou os “comunistas” (ONGs, Venezuela) pelo ataque bioqu�mico. Nesse passo, nos esquecemos do “inimigo interno”: os invis�veis micro-organismos patog�nicos que contaminam �guas azuis como o c�rculo interno da bandeira nacional. Limpamos as manchas, pintamos a fachada.

Duas quadras atr�s da Boa Viagem, �guas de esgoto correm numa vala fedorenta a c�u aberto. Quase inexistem praias limpas em Fortaleza, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, as maiores metr�poles costeiras. Mas os coliformes espalham-se tamb�m no entorno litor�neo de cidades m�dias e povoados, especialmente junto � foz dos rios e c�rregos. Os efluentes avan�am por Ilhabela, pela Costa do Descobrimento, pela Restinga da Marambaia. Que tal, na bandeira, trocarmos as estrelas pelos desenhos da Escherichia coli, da Enterobacter cloacae, da Klebsiella pneumoniae?

Segundo a Constitui��o, o saneamento b�sico � responsabilidade compartilhada da Uni�o, dos estados e munic�pios. A Lei 11.445, de 2007, que estabelece as diretrizes nacionais de saneamento b�sico, prev� a obriga��o de fornecimento universal de esgotamento sanit�rio. � letra-morta, afogada nas fezes. No longo ciclo de expans�o, do in�cio do s�culo a 2014, sob a euforia do pr�-sal e dos preparativos da Copa, o esgoto correu solto para os rios, em condom�nios litor�neos dos ricos e periferias pobres que se alastravam. Pela esquerda e pela direita.

H� algo a� que vai muito al�m do meio ambiente. Nosso Estado organiza o conflito pela distribui��o de benesses, privil�gios, subs�dios e rendas privadas, mas n�o cuida dos bens e direitos p�blicos. A degrada��o das praias acompanha o roteiro da apropria��o particular de v�rzeas, mangues e morros, � sombra da lei da guerra de todos contra todos, no nosso perene faroeste caboclo. Brasil acima de tudo: que se pro�ba o controle de balneabilidade, essa coisa de comunista.

Milh�es de brasileiros passar�o o ano-novo no Mar dos Coliformes Fecais. A erisipela, a diarreia, a disenteria, a c�lera e a febre tifoide v�m depois.
 

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)