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Estado de Minas Risco de ruptura?

Povo e Ex�rcito aproximam Bolsonaro do chavismo

Presidente inspira-se na Venezuela para ensaiar uma ruptura institucional no Brasil


29/02/2020 06:00 - atualizado 01/06/2021 15:24

 Exército nas ruas de Fortaleza e policiais amotinados nos quartéis: movimento insuflado por vereador bolsonarista de Sobral (foto: Jarbas de Oliveira/AFP)
Ex�rcito nas ruas de Fortaleza e policiais amotinados nos quart�is: movimento insuflado por vereador bolsonarista de Sobral (foto: Jarbas de Oliveira/AFP)

Engana-se quem interpretou a militariza��o do n�cleo pol�tico do governo como sinal de marginaliza��o dos extremistas do bolsonaro-olavismo. Depois de recolher suas bravatas vazias contra a ditadura de Maduro, Jair Bolsonaro inspira-se no chavismo para ensaiar uma ruptura institucional. “O Povo e o Ex�rcito” – a f�rmula chavista orienta os dois motins paralelos estimulados pelo presidente contra a democracia. A estrat�gia avan�a � sombra do temor dos l�deres parlamentares e dos comandantes militares, que se curvam diante do espectro disforme das redes sociais.
 
O motim da PM do Cear� distingue-se de tantos tumultos policiais anteriores porque brotou no terreno da pol�tica, apenas tomando carona em reivindica��es corporativas. H� meses, as redes virtuais olavistas operam nos quart�is das PMs. Um vereador-sargento de Sobral ligado �s hostes de Bolsonaro insuflou os amotinados. O cl� presidencial mal esconde seu apoio � baderna.
 
A letra da lei n�o assusta os arruaceiros que copiam os m�todos das fac��es. Quando Cid Gomes avan�ou, irresponsavelmente, com uma escavadeira, exprimia uma justa indigna��o. Aceitaremos, de bra�os cruzados, a transmuta��o da PM em mil�cia politizada? Sim, claro, respondeu Sergio Moro: “o governo federal veio para serenar os �nimos, n�o para acirrar”.
 
No lugar de cercar os quart�is invadidos, cortar luz e �gua, exigir a rendi��o dos amotinados, as for�as federais limitaram-se a substituir a pol�cia no patrulhamento das ruas, oferecendo aos bandidos em uniforme um tempo extra para o exerc�cio da chantagem. “Serenar os �nimos”: o governo estadual, desarmado, deve enfrentar sozinho os milicianos armados. A novela ruma �s conclus�es previs�veis: negocia��o e, l� adiante, anistia. O crime compensa.
 
O 15 de mar�o nasceu da divis�o no entorno militar de Bolsonaro. A ades�o de Augusto Heleno ao extremismo abriu caminho para a convoca��o de marchas contra o Congresso, que t�m o respaldo expl�cito do presidente. N�o se trata, ainda, de consumar a ruptura, mas de testar a espinha dorsal das institui��es democr�ticas. A meta � acuar, intimidar. Os alvos expl�citos s�o os parlamentares e o STF. Mas, paralelamente, investe-se na agita��o da oficialidade: o Povo e o Ex�rcito.
 
As declara��es evasivas de Hamilton Mour�o evidenciam uma rendi��o. Protestos contra o Congresso certamente “fazem parte da democracia”, mas n�o uma convoca��o a eles oriunda do chefe do Executivo. Os paralelos apropriados s�o com a “marcha sobre Roma” de Mussolini ou os cercos � Assembleia Nacional promovidos por Maduro. Celso de Mello foi ao ponto quando disse que Bolsonaro “desconhece o valor da ordem constitucional” e, portanto, “n�o est� � altura do cargo que exerce”.
 
No in�cio, o cord�o de generais do Planalto definia limites � ret�rica presidencial. Desde a demiss�o de Santos Cruz e o bombardeio virtual contra Mour�o, os homens estrelados baixaram a cabe�a. Como no caso das PMs, as redes extremistas engajam-se na coopta��o de oficiais da ativa de escal�o intermedi�rio, amea�ando a disciplina militar. Santos Cruz tem raz�o ao alertar para o risco de “confundir o Ex�rcito com assuntos tempor�rios de governo, partidos pol�ticos e pessoas”.
 
Bolsonaro imagina que � capaz de mobilizar incont�veis milh�es pois enxerga nas suas redes sociais a imagem do “Povo”. Os l�deres do Congresso e os comandos das For�as Armadas compartilham a ilus�o presidencial. Da�, o temor geral de pronunciar a palavra "Basta!".
 
Os chefes militares renunciam a prestar contin�ncia � Constitui��o e repelir a politiza��o dos quart�is. Os pol�ticos vacilam diante do imperativo de deflagrar um processo de impeachment. A op��o pelo apaziguamento encorajar� os extremistas a avan�ar mais um passo, testando uma nova fronteira. �s vezes, as democracias morrem de uma enfermidade chamada medo.

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