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Estado de Minas DIA DO ESTUDANTE

Del�rios do ministro refletem quadro desolador da educa��o no Brasil

Em entrevista � TV Brasil em 10 de agosto, o ministro da Educa��o, Milton Ribeiro, disse que 'a universidade deveria, na verdade, ser para poucos'


16/08/2021 04:00 - atualizado 16/08/2021 07:16

O ministro Milton Ribeiro defende que
O ministro Milton Ribeiro defende que "a universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser �til � sociedade" (foto: Isac N�brega/PR - 16/7/20)

 

Anualmente celebramos, em 11 de agosto, o Dia do Estudante. A data � boa para lembrar � sociedade brasileira que o seu futuro, e grande parte do presente, residem no estudo, na pesquisa, na ci�ncia e na cultura, e homenagear, assim, os que acreditam e se engajam nessa tarefa. Serve, tamb�m, para lembrar a todos a nossa condi��o de “eternos aprendizes”, da import�ncia da atualiza��o e da forma��o continuada durante toda a vida. Isso que deram por chamar, de forma sofisticada, de “long-life-learning”. Afinal, trata-se de levar � pr�tica o artigo 26 da Declara��o Universal dos Direitos Humanos (10 de dezembro de 1948).

 

Posto isto, e como consequ�ncia, os investimentos no campo da educa��o devem ser protegidos e, na medida do poss�vel, incrementados. Num pa�s como o Brasil, onde a educa��o e a cultura est�o na rabeira das prioridades pol�ticas do governo de Jair Bolsonaro, isso vai, tragicamente, na contram�o. A pol�tica governamental atual � uma pol�tica (mal) intencionada e com claros sinais de retrocesso, com o desmantelamento da qualidade do ensino, mormente do j� prec�rio ensino p�blico, e da desconstru��o do pensamento cr�tico e cient�fico, dos bens culturais e das suas institui��es no pa�s. Como diz Demerval Saviani, fil�sofo e pedagogo brasileiro, “o governo atual fez retroceder a educa��o para 1940”.

 

� nesse contexto que devemos entender as declara��es do ministro da Educa��o, Milton Ribeiro, em entrevista concedida � TV Brasil no passado dia 10 de agosto, afirmando que “a universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser �til � sociedade”. Ele defende que as verdadeiras “vedetes” do futuro ser�o os institutos federais, capazes de formar t�cnicos. Voc�s, para l�, os poucos, para c�!

 

As rea��es do mundo acad�mico e pol�tico n�o se fizeram esperar, dada a infelicidade das afirma��es e o intuito autorit�rio e excludente. Do meu ponto de vista devemos entender essas afirma��es num contexto maior, que aponta para um quadro desolador para o futuro da educa��o no Brasil. Vejamos, sen�o, alguns dados:

 

– O atual ministro da Educa��o, Milton Ribeiro, � o quinto a ocupar essa carteira em menos de tr�s anos de governo Bolsonaro. Tanto ele quanto os anteriores, personagens sem destaque no mundo da educa��o brasileira e subservientes a um projeto pol�tico negacionista, excludente e de atraso. Nenhum tipo de projeto coerente, confi�vel e necess�rio para os problemas atuais da educa��o brasileira.

 

– A PEC do Fim do Mundo (241), aprovada em 2016 pelo governo Temer e implementada pelo governo atual, congelou os gastos (investimentos) em sa�de e educa��o por 20 anos, inviabilizando o Plano Nacional de Educa��o cuja meta determinava 10% do PIB em 10 anos, at� 2024.

 

– A promo��o da invas�o de fake news nos meios de comunica��o social de massa, como uma aut�ntica ind�stria da mentira, da desinforma��o e da manipula��o da sociedade, base de um projeto sociopol�tico voltado para as chamadas “classes privilegiadas”. Devem ser “os poucos”, aos quais o ministrose refere nas suas declara��es.

 

– Pesquisas recentes apontam que 50% dos jovens estudantes veem o seu futuro profissional fora do Brasil, o que, somado � fuga de intelectuais, pesquisadores e cientistas do pa�s, desenha um quadro de futuro bem complicado e dif�cil no que se refere � pesquisa, � educa��o, � ci�ncia, � cultura e seus agentes.

 

– O n�mero de inscritos para o Enem vem caindo drasticamente. Do seu pico em 2014, com 9,4 milh�es de inscritos, aos 4 milh�es para o Enem de 2021. Isso pode diagnosticar uma juventude cansada, desestimulada e sem perspectivas de futuro. No Brasil de hoje, milhares de alunos est�o sendo for�ados a trocar a sala de aula pelas ruas e sem�foros do pa�s, para ajudar no sustento familiar.

 

– O desinteresse e descaso do atual governo com os bens culturais do pa�s � assustador: inc�ndio do Museu Nacional, idem da Cinemateca Nacional, nos computadores do CNPQ. Isso para n�o falar da destrui��o sistem�tica e programada dos bens naturais como a Amaz�nia e outras florestas e reservas m�dio ambientais.

 

– O ataque e exterm�nio sistem�tico dos povos origin�rios, seus rituais e habitats, costumes e cren�as, assim como contra �s manifesta��es folcl�ricas e religiosas dos descentes dos povos afro.

 

– A desqualifica��o e a interven��o, sistem�tica e ideol�gica, em organismos como o Incra, Funai, IBGE, CNPQ, Funda��o Palmares, Secretaria Nacional de Cultura, Funarte, leis de incentivo � Cultura e outras medidas, que apontam para um cen�rio catastr�fico no que se refere � cultura e � educa��o no pa�s sob o pretexto de pretensa “guerra ao marxismo cultural”.

 

– Isso para n�o falar na inger�ncia na nomea��o de reitores das universidades p�blicas, extenua��o da pol�tica de quotas, etc�tera.

 

– O ataque sistem�tico a pedagogos e estudiosos de reconhecimento universal, como Paulo Freire e outros, e a promo��o de “intelectuais de terceira”, al�ados a iluminadores de um pensamento covarde, retr�grado e fundamentado no �dio.

 

Infelizmente temos que reconhecer que h� uma “mortal coer�ncia” (a “Necropol�tica”, de Achille Mbembe) do atual governo no que se refere ao modelo pol�tico, social, cultural e ambiental e o seu projeto de morte e exclus�o, que est� sendo seguido � risca.

 

O ministro da Educa��o, como servidor p�blico que �, deveria estar a servi�o do povo brasileiro, principalmente daqueles que mais precisam dos seus pr�stimos na �rea sob o seu comando. Lutar para promover uma educa��o universal, gratuita e de qualidade para todos, tanto no ensino fundamental quanto no superior; brigar por investimentos pesados na educa��o p�blica, que possibilitem o acesso de todos a instala��es adequadas, materiais e programas de ponta, incluindo o mundo digital, profissionais bem remunerados e com carreiras valorizadas, forma��o permanente e uma longa lista. E retirar do debate esse entulho de “homeschooling”, “escola sem partido” e outros assuntos menores que pouco ou nada interessam � grande maioria do povo brasileiro.

 

Aconselho ao senhor ministro e os seus subordinados a trabalharem a criatividade, muita banda larga e vontade de inovar como formas de acelerar o acesso ao ensino de qualidade e gratuito para todos. Recursos existem, mas falta vontade pol�tica de que a educa��o atinja a todos e n�o aos poucos de sempre. Essa � a educa��o com a que sonhamos! Mais sonhos e menos del�rios, senhor ministro!

 

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