Um riacho de �guas que correm mansas e recebem em seu curso pelo arvoredo o toque leve de folhas de galhos mais baixos. A cena pr�pria de matas ciliares � o que os dicion�rios descrevem como sarandis. O cen�rio id�lico, contudo, n�o poderia ser mais distante da realidade do C�rrego Sarandi, apontado por especialistas como o principal poluidor da Lagoa da Pampulha. Suas nascentes, no Bairro Cinco, em Contagem, na Grande BH, j� brotam sujas de dejetos dom�sticos e lixo de canaliza��es cinzentas que mais parecem esgotos do que minas.
As �guas turvas e malcheirosas que mais poluem a Lagoa da Pampulha correm por 16,7 quil�metros recebendo jatos de esgoto clandestino, sacos de lixo dom�stico, pilhas de entulho e at� animais dom�sticos mortos. Em sua jornada di�ria at� a lagoa, o Sarandi despeja diariamente centenas de quilos de poluentes. Em seu encontro com o C�rrego da Ressaca, em frente ao Parque Ecol�gico da Pampulha, os dois levam 4,1 toneladas de polui��o a cada m�s, segundo medi��es deste ano.
A contribui��o anual dos dois ribeir�es para a degrada��o da lagoa chega a 50,52 toneladas de poluentes. S�o 92,05% de todos os dejetos que chegam � lagoa e que totalizam 54,88 toneladas. � como se todos os dias os dois c�rregos despejassem 138 quilos de poluentes concentrados na lagoa. As informa��es s�o do Atlas da Qualidade da �gua do Reservat�rio da Pampulha, reunidas pelo Laborat�rio de Gest�o Ambiental de Reservat�rios (LGAR) da UFMG. “O esgoto e o lixo no Sarandi s�o um problema grav�ssimo. Os detergentes e restos jogados t�m f�sforo. Esse elemento qu�mico favorece o crescimento de algas e cianobact�rias que cobrem a lagoa e reduzem sua oxigena��o”, aponta o coordenador do LGAR, o bi�logo Ricardo Motta Pinto Coelho.
O afloramento da primeira nascente ocorre no chamado “hortinho florestal” do Bairro Cinco. Das ruas movimentadas, onde carretas circulam carregadas entre ind�strias e f�bricas, a mata de eucaliptos parece ser um santu�rio verde cercado por asfalto e concreto. Mas a primeira sensa��o de quem entra no bosque � do cheiro forte de esgoto nas narinas. O local se tornou bota-fora clandestino, com lixo de todos os tipos: sacos com restos de alimentos, embalagens de latic�nios, produtos de limpeza, cosm�ticos, cal�ados velhos, um vaso sanit�rio e at� um sof�.
CHUVA � impressionante tudo isso ser atirado no mato, quando a apenas 50 metros dali funciona um posto de recolhimento de lixo da Prefeitura de Contagem. “Falta educa��o. Custa andar mais um pouco e jogar as coisas num lugar certo? J� vi gente jogar tudo fora. A�, a chuva ainda traz o lixo que fica na rua”, conta Ant�nio Ribeiro Viana, de 49 anos, um dos funcion�rios do posto de coleta.
A 500 metros dali, sob a Avenida S�crates Mariani Bittencourt, a mina d’�gua aterrada sai por tubul�es de concreto j� escura e malcheirosa pelo esgoto lan�ado no Bairro Monte Castelo. O curso contaminado com lixo encontra o degradado pelo esgoto quase sob o trevo entre a BR-040 e a Via Expressa de Contagem.
No meio do caminho, mais esgoto � lan�ado pelas casas de bairros do entorno do C�rrego Sarandi e dos cursos d’�gua que o alimentam. “N�o tenho rede de esgoto na rua. O jeito � jogar a �gua suja toda no c�rrego”, lamenta a aposentada Maria Maura de Jesus, de 53 anos. A fam�lia dela e de outras dezenas de casas do Bairro Morada Nova, em Contagem, despejam seu esgoto diretamente num riacho que des�gua no Sarandi. Ela diz que, se tivesse rede de esgoto, faria o lan�amento dom�stico nela. “No fim dos tempos, vamos ficar sem �gua. Lembro-me de quando esse c�rrego era limpo. A gente vinha apanhar �gua, tomava banho nele. � uma pena ver o jeito em que ficou”, disse.
Mais � frente, j� em Belo Horizonte, onde o ribeir�o corre em canaliza��o aberta na Avenida Cl�vis Salgado, o EM contou 17 pontos de ac�mulo de entulho nas margens do Sarandi. “� gente que passa aqui � noite e despeja os restos de constru��o e lixo de carro�as, de carrinhos de m�o e carros. A�, vem a chuva e leva tudo para o c�rrego”, conta o telhadeiro Lucas Ferreira, de 21 anos.
Rep�rter registrou os problemas. Veja: