
At� 2013, austeridade era algo d�mod�, uma boca de sino que remetia � pen�ria dos �ltimos anos do principado de FHC. S� voltou � voga quando ascendeu ao poder o vice decorativo Michel Temer, poeta bissexto amante das mes�clises e surfista no Porto de Santos havia d�cadas. N�o teve crucifixo nem r�stia de alho capaz de obrigar o Vampir�o a abrir as torneiras. E por mais que a vaca seguisse sua rota rumo ao brejo, fomos convencidos de que esse era o caminho. O rico ficou mais rico, o pobre ficou mais pobre, normal por estas pastagens. Austeridade � como a malaguetinha do Mercado Central, no olho do outro � refresco.
Nos anos em que a pol�tica brasileira se transformou numa vers�o mexicana de House of cards, conhecida tanto por House of Caraglio como House of M�e Joana, pode escolher, o Atl�tico demonstrou uma curiosa similaridade com a grotesca conjuntura nacional. Sen�o, vejamos. Como j� disse aqui (e sob protestos, mas reafirmo), Kalil foi o nosso Lula: diante da fal�ncia iminente, escolheu gastar os tubos, �s favas com a austeridade, que, afinal, estava completamente fora de moda. Ambos os presidentes levantaram a ta�a, ambos deixaram o cargo com alta popularidade, ambos fizeram seus sucessores, ambos erraram em suas escolhas.
Nepomuceno � a Dilma do Atl�tico. Em outro contexto, sem o mesmo carisma e capacidade de seus mentores, aceleraram a pol�tica da torneira aberta. Os planos de ambos fizeram �gua. S� n�o arrancaram o Nepo de sua cadeira porque n�o havia no Galo um Eduardo Cunha disposto ao trabalho sujo. Pedaladas, s� as do Robinho. Em todo caso, os dois foram substitu�dos pelos guerreiros da austeridade, Temer/Bolsonaro na Presid�ncia do Brasil, Sette Peles na presid�ncia que importa.
Eis que agora temos uma importante inflex�o. Diante de sua pior crise, Sette Peles rompe com a conjuntura nacional e decide que austeridade boa � austeridade morta. Gra�as a Deus, ao BMG, � MRV, e sabe-se l� a qual esquema! Ao trazer Sampaoli e Alexandre Mattos, tudo o que porcamente se economizou nos dois primeiros anos de mandato est� destinado ao saco. Bolsonaro devia copiar o Sette Peles, mas neste momento est� por demais ocupado com a suspeita de ter transmitido o coronga a Donald Trump no momento em que se agarrava �s suas bolas. Coitado de House of cards perto da gente.
Bem, com a austeridade indo para as cucuias, s� nos resta ganhar ou ganhar. E bastou um Sampaoli na arquibancada para botarmos 50 mil no Mineir�o domingo passado e ganhar do Cr�z�ir�. N�o foi um passeio, pelo contr�rio, foi uma saidinha de banco. Batemos a carteira deles do jeito que a gente gosta, aquele gol no final, o Otero correndo para o abra�o, o F�bio saindo na foto de costas; afinal, F�bio de Costas tem um nome a zelar.
O cruzeirense n�o entendeu a festa que o atleticano fez antes, durante e depois do cl�ssico. F�bio ficou B da vida com a gente. N�o � desd�m: o cruzeirense, de fato, n�o compreende os meandros do futebol, � t�o somente um levantador de ta�a, uma empilhadeira desalmada, um cart�rio registrador de t�tulos. Ali�s, era – o cart�rio faliu, a empilhadeira quebrou, o levantador caiu. E agora, Jos�? O atleticano, amigo cruzeirense, celebrou s�bado passado o troco que a vida d�, em d�lar e a cinco golpes! “Vou festejar o teu sofrer.” Capisce?
Hoje tem mais. Tem Sampaoli estreando daqui a pouco no Al�ap�o do Bonfim. Algu�m avisa ao professor que nessa pastagem desfilou Luizinho, o companheiro de Leonardo Silva na zaga de todos os tempos. Que na era da p�s-austeridade, a gente se inspire no filho de dona Lolita e n�o economize no bom futebol. Bora, meu Galo querido! Valeu a pena, vamos ser campe�es.