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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

O Galo, ao estilo Maradona, � a Argentina do futebol brasileiro

Para o Atl�tico � uma honra hastear suas bandeiras junto a uma figura que sempre esteve do lado certo da hist�ria


28/11/2020 04:00 - atualizado 28/11/2020 08:00

Homenagem do Atlético a um gênio que nos ajudou a sonhar com um futebol e um mundo também mágico(foto: ATLÉTICO/DIVULGAÇÃO)
Homenagem do Atl�tico a um g�nio que nos ajudou a sonhar com um futebol e um mundo tamb�m m�gico (foto: ATL�TICO/DIVULGA��O)


A Argentina � o Galo do futebol mundial, ou, se preferir, o Galo � a Argentina do futebol brasileiro. Sempre enxerguei semelhan�as entre um e outro – injusti�ados ambos, perseguidos, dram�ticos, duas torcidas apaixonadas e apaixonantes. “O Atl�tico n�o � time de ta�a”, disse Kalil no filme ainda in�dito sobre a hist�ria do clube. “O Atl�tico � time de honra.” A Argentina tamb�m.

Quando venceu, o Galo fez vingar seu passado de trope�os variados, desdenhou os azares monumentais quando Victor pegou o p�nalti contra o Tijuana – La Canhota de Di�s. E aplicou sobre S�o Paulo, Flamengo e Corinthians, algozes de outras �pocas, as viradas (e goleadas) que constar�o entre as piores p�ginas das gloriosas hist�rias dos nossos rivais.

Quando a Argentina ganhou da Inglaterra em 1986, estava a vingar as Malvinas, Thatcher e o imperialismo ingl�s. Por isso aquele gol de m�o, La Mano de Di�s, n�o � roubo, mas restitui��o, � cr�dito resgatado pela Am�rica cat�lica. O gol de todas as Copas somos n�s – �ndios e padres e bichas, negros e mulheres fazendo o carnaval. Como os hermetismos pascoais, os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais, foi Maradona quem nos salvou das trevas e nada mais. Como Reinaldo e Ronaldinho – err�ticos, mas, ainda assim, deuses, bruxos e reis.

Em seu auge, Maradona poderia jogar onde quisesse. Foi jogar no Napoli, no Sul “pobre” da It�lia, onde virou esp�cie de santo, tendo agora tomado de San Paolo o nome do est�dio do time, desde a quinta-feira Diego Armando Maradona. Certa vez, como o Napoli se negara a um jogo beneficente em favor do filho de um pai torcedor, Maradona foi jogar com os amigos na cancha do bairro onde moravam, uma v�rzea apinhada de gente. Orgulhou-se sempre do menino pobre que fora, sa�do dos sub�rbios de Buenos Aires. Socialista, tinha Che e Fidel tatuados no bra�o e na panturrilha. Nunca esqueceu os seus. Jogava para a m�e.

O Galo tem um qu� de Maradona, algo que nos coloca sempre do lado certo da hist�ria. Fundado pela elite estudantil da cidade, nasceu um time de pretos e brancos, em 1908, apenas 20 anos depois da Lei �urea – o que, de certa forma, representava a utopia de um pa�s mais justo, menos desigual. Na campanha do Gelo, em 1950, n�o est�vamos apenas a excursionar pela Europa, mas a participar de um esfor�o de p�s-guerra. O marco zero das injusti�as que se perpetraram contra a gente � o punho cerrado do Rei, seu protesto contra a ditadura iniciado em 1977, quando Reinaldo passa ent�o a ser perseguido e difamado – e o Galo, descaradamente roubado pela CBF.

Maradona se indisp�s com a Fifa. Para o diretor de cinema Emir Kusturica, que sobre ele fez um filme sensacional, seu personagem equivalia-se a uma esp�cie de “Sex Pistols do futebol”, um punk a atacar Margaret Thatcher com seus modos abusados e sua arte arrebatadora. Seus principais inimigos foram Jo�o Havelange e Joseph Blatter, os ex-presidentes da federa��o m�xima do futebol. Maradona morre um her�i de seu tempo, maior que Pel� porque maior que o futebol. Joga no time de Mandela, Bob Marley e John Lennon. Blatter e Havelange est�o inscritos na hist�ria como criminosos sem nenhum proceder, mafiosos sem nenhuma �tica.

Se Maradona n�o tivesse ido para o Napoli, poderia ter vindo para o Atl�tico, porque somos mais pobres do que o Sul da It�lia e mais perseguidos pelo poder do que qualquer comunista. Nossa linha de frente seria ent�o formada por Maradona, Reinaldo e �der. A�, sim, ter�amos os Sex Pistols do futebol. Melhor, os Garotos Podres, os Ratos de Por�o (os punks daqui, por coer�ncia, s�o ainda mais sujos e agressivos). Ter�amos derrubado o Flamengo e a ditadura. E estar�amos hoje rebatizando a Arena MRV – Arena Diego Armando Maradona, muito melhor.

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