
Assim como � in�cuo dizer a um bolsonarista “eu avisei”, nada quer dizer o fato de o analista ter dito o que disse. Ainda assim, se me permite o raro leitor, sim, eu avisei. E eu tamb�m disse, conforme o �ltimo par�grafo da enc�clica �ltima da Igreja Universal do Reino do Galo: “Como um Pai Dinah, afirmo: seremos campe�es. O S�o Paulo desandar� a partir da desclassifica��o para o Gr�mio na Copa do Brasil. O Flamengo ficar� no cheirinho. Tardelli far� o gol do t�tulo – aquele que s� ganharemos assim, aos 50 do segundo tempo, na �ltima rodada, depois de a bola bater no travess�o e em ambas as traves, rolar pela linha e oferecer-se a Dom Diego”.
O atleticano, homo atleticanus, � uma criatura bastante peculiar. Entre suas idiossincrasias est� um certo otimismo pessimista, ou um pessimismo sempre otimista. S�o ateus plenos da f� mais poderosa que se pode ter. E, quando crentes, aprendem a dizer: “Eu n�o acredito que isso possa estar acontecendo”. Junta, essa massa disforme � capaz de remover montanhas. N�o � milagre, � Atl�tico Mineiro.
Confio no t�tulo, eu juro, e acho mesmo que ele vir�. E confio nisso justamente por ter passado a desconfiar. O atleticano n�o ganha de v�spera. A gente ganha quando a derrota parece inevit�vel. “Treino � treino, jogo � jogo.” A gente � o Leo Silva e a par�bola improv�vel que aquela bola preenche, aos 42 do segundo tempo. N�s somos o Guilherme, desacreditado, depois daquele apag�o. O Cuca teve a coragem de tirar o Tardelli pra colocar o Guilherme. Ningu�m acreditou, ainda que tenhamos inventado, minutos antes, no escuro do est�dio, o nosso melhor mantra: “EU A-CRE-DI-TO! EU A-CRE-DI-TO!”. Claro que ele faria o gol. Aos 52 do segundo tempo. � muito n�is.
H� algumas semanas, j� incorporado o Pai Dinah, eu disse que o Galo seria campe�o apenas se perdesse para o S�o Paulo. Aqueles que tinham o duelo como final de campeonato n�o conhecem o Atl�tico. A gente tinha que perder, e do jeito que foi, para que o t�tulo ficasse imposs�vel – e, sendo imposs�vel, se tornasse poss�vel. Era �bvio e ululante, n�o precisa ser conhecedor de futebol nem Pai Dinah.
C� estamos, pois, a sete pontos do S�o Paulo e um jogo a menos. Chegou a nossa hora. Daqui pra frente, toda a sorte de estranhezas nos favorecer�. N�o conte com o juiz. Confie nos gols esp�ritas, nas par�bolas improv�veis, no Deus desligando o disjuntor. O Flamengo j� foi. O Inter parece apenas um penetra entre os tr�s primeiros, embora tenha vencido as quatro �ltimas. No S�o Paulo, um l� se atrasou para o treino, o outro � “ingrato” e “mascaradinho”. S� n�o vamos soltar foguetes porque houve o primeiro caso de COVID entre os s�o-paulinos. Soltemos um traque.
Para fazer justi�a ao otimismo pessimista do atleticano, recorro a uma imagem recebida em meu WhatsApp, vinda de outro atleticano: trata-se de um queijo, uma faca e uma m�o. O Atl�tico estaria com a faca e o queijo na m�o. A faca, contudo, est� partida ao meio – o cabo na m�o e a serra enterrada naquele reluzente canastra. � muito n�is, n�o se pode negar. De modo que todo o cuidado � pouco. Devagar com o andor, e pau na m�quina.
Quando entrar em campo na segunda-feira, contra o Bragantino, o Atl�tico estar� iniciando uma nova era. Saiu Alexandre Mattos e chegou Rodrigo Caetano. Saiu Sette C�mara e chegou S�rgio Coelho. Saiu o que restava da turma do Kalil, e sentaram pra�a os 4R, Rubens e Rafael Menin, Ricardo Guimar�es e Renato Salvador. Sampaoli fica. Ao analisar o novo time, um amigo atleticano me diz que o Galo est� preso no Dia da Marmota. Um outro est� convicto de que seremos o maior time do mundo. A qualquer momento, o primeiro pode passar a pensar como o segundo, e o segundo como o primeiro. � n�is.
Boa sorte a quem chega, obrigado a quem vai. Galo sempre!