Eu sou um estrangeiro no Brasil doid�o. Por mais que leia, busque me informar e me manter aberto para a complexidade da vida, cada vez compreendo menos como pessoas queridas podem ter escolhido um entusiasta da tortura, um racista homof�bico antimulher, claramente lim�trofe, no lugar de um professor. N�o, n�o era uma escolha dif�cil. Cada vez mais me escandalizo com o apoio que de certa forma mant�m esse genocida e seus despachantes, intrinsecamente maus, caricaturas de mensageiros da morte, cafonas, rid�culos, burros, personagens ruins em um filme do Z� do Caix�o.
Me perdoe, amigo atleticano, que t�o acertadamente busca nas p�ginas dos cadernos de esportes o �pio do povo. Tamb�m preciso do meu Rivotril! Mas � que h� dias que s�o noites, e um ser humano que tenha preservado um quinh�o da sua humanidade acaba absorto diante da escalada de mortes que se deixam morrer, agora asfixiadas, enquanto os cretinos fazem lives e se riem de suas piadas escrotas, matando a gente aos poucos, de falta de ar e de esperan�a.
Preciso do meu Rivotril! S� uma dose cavalar de Atl�tico Mineiro para nos fazer levitar sobre a merda, de prefer�ncia nos levando pra bem longe, como aquele padre do bal�o, bendito seja o g�s h�lio. Acontece, por�m, que o �pio do povo tem se apresentado de qualidade duvidosa, um or�gano danado. E o efeito, bem, acaba sendo limitado.
Tiv�ssemos ganhado do Bragantino, estar�amos agora com 90% da nossa cabe�a animal ocupada de Atl�tico, e isso corresponde a uma n�voa que se aloja no c�rebro impedindo que se processem adequadamente as informa��es reservadas aos 10% restantes. A asfixia em Manaus seria asfixiada pela tabela do Brasileir�o. Infelizmente, n�o foi o caso.
Se n�o h� oxig�nio, se n�o h� governo, se n�o h� vacina, s� o Atl�tico salva! Por isso urge uma for�a-tarefa, um Gabinete de Comando – em Manaus, sem d�vida, mas falo mesmo da Cidade do Galo. Que todos se abracem (depois de um ofur� de �lcool em gel) em torno do objetivo de recuperar a intensidade e o jogo de poucas rodadas atr�s.
Estamos a seis pontos do S�o Paulo, em crise. A tr�s do Inter, hoje o grande candidato ao t�tulo. Temos um jogo a menos do que os dois, carajo! Bora ganar esta puerra, Sampaoli, hay que endurecerse pero sin perder un ponto jam�s!
Falta ao Atl�tico uma centelha que se acenda, uma qualquer coisinha que nos devolva o apetite para a luta incessante em busca do gol. Falta um pouco de Luan nesse caldo de Arana. Vou desconsiderar qualquer rumor de sabotagem a Sampaoli, qualquer suposi��o sobre um elenco rachado – j� me indigno com outras rachadinhas, motivo pelo qual preciso do meu Rivotril. E para t�-lo de volta faz-se necess�ria a prescri��o: uma centelha que se acenda para o sprint final.
� como diz o Chico C�sar em seu reggaezinho maneiro: “�, Rep�blica de Parentes, pode crer, na nova Babil�nia eu e voc� somos s� carne humana pra moer. E o amor n�o � pra n�s. Mas n�s temos a pedrada pra jogar, a bola incendi�ria est� no ar, fogo nos fascistas, fogo Jah!”. Digamos que a bola n�o pode queimar no nosso p�, mas, sim, t� faltando a bola incendi�ria. Ela est� no ar. Fogo Jah!
N�o sei o que � preciso para deflagrar a centelha. Talvez seja urgente informar aos atleticanos novos do elenco sobre a hist�ria dos nossos infort�nios, sobre o que significa, nesse contexto, ganhar o t�tulo imposs�vel, que tantas vezes nos escapou pelos dedos. Precisa botar o �der chorando pela chance de ganhar agora o que tiraram dele na m�o grande, n�o sem antes mostrar quem foi o �der na Copa de 82. Precisa botar o Reinaldo falando de 1977, o Cerezo contando sobre o torcedor que lhe presenteou com seu pr�prio dente no ano daquele vice-campeonato invicto. Precisa trazer o Kalil (sim, o Kalil) pra falar de 2013.
O Victor, o Leo Silva, o Pierre, o Tardelli. Precisa botar o Tardelli pra jogar, porque ele tem mais estrela do que dez generais Pazuellos. Precisa mostrar o v�deo daquele cara infartado no hospital comemorando nossa Libertadores. Precisa mostrar a arquibancada do Independ�ncia quando Victor pegou o p�nalti. Precisa mostrar como ca�mos cantando o hino, e como subimos. Precisa trazer o R10 pra falar da dona Miguelina e de como subiu sua bandeira na Galoucura. Temos pouco tempo, mas o neg�cio � que esse pessoal precisa se tornar atleticano. Fa�amos um intensiv�o. Esta � a nossa bola incendi�ria. Fogo Jah!