
Recebi ontem um PDF com as duas p�ginas impressas (isso � um colosso!) que o famoso jornal portugu�s “A Bola” dedicou a “Lutar, Lutar, Lutar”, filme sobre a hist�ria do Galo com o qual este escriba colaborou na concep��o, roteiro e produ��o – mas que, sobre todos e sobretudo, � um filme dos craques Helv�cio Marins Jr. e S�rgio Borges, cineastas mineiros radicados no mundo, atleticanos, gra�as a Deus (ou a Reinaldo, que tamb�m � deus). Pelas m�os dos dois, fez-se um �pico monumental. A mat�ria-prima, vamos convir, n�o tem melhor.
Com as salas de cinema ainda fechadas no Brasil em raz�o da pandemia, “Lutar, Lutar, Lutar” faz bela e inesperada carreira nos festivais internacionais – teve estreia em Buenos Aires, passou por Roterd�, na Holanda, e � exibido neste s�bado em Portugal. O Galo � orgulho no exterior desde 1950, quando foi o primeiro clube brasileiro a receber um convite para excursionar na Europa (e atropel�-los), parte do esfor�o de reconstru��o do continente no p�s-guerra. Agora, por onde passa o filme, o p�blico se derrete por Reinaldo, “o genial e suave matador do Galo”, segundo “A Bola”, e deseja sentir-se parte da “febre insana de sua torcida, uma das mais fi�is do Brasil, na soberba comunh�o e mais cat�rtica erup��o”.
Pois bem. Como no filme, cuja ordem cronol�gica inexiste, adiantemos os anos – estamos em julho de 2021. “Quis o destino”, assim falava o rocambolesco narrador de um LP hist�rico sobre a conquista de 1971, que Boca e Atl�tico se enfrentassem na Libertadores. O Boca, n�o importa se circunstancialmente meia boca, � a representa��o m�xima do futebol sul-americano. Tirar o Boca, me perdoe o Nacho, n�o � tirar o River. Com o Boca h� uma m�stica que se agiganta, um Maradona rodando a camisa, uma Bombonera, ainda que agora vazia. Tirar o Boca de uma Libertadores � elevar-se � nova prateleira. E � por isso que, se tenho um reparo ao Manto da Massa que venceu o concurso (j� comprei o meu!), � que n�o deveria ser o mapa de Minas – mas o mapa-m�ndi, marcado com sua quase centena de consulados espalhados, a�, sim, sobre a Terra plana.
O Galo precisa tirar o Boca em nome da sua hist�ria, marcada por tantos azares e injusti�as. A vit�ria na ter�a-feira seria mais um cap�tulo da sua extraordin�ria reden��o. O Atl�tico teria sido campe�o do mundo, n�o f�ssemos operados por Jos� Roberto Wright e o Flamengo em 1981 (� uma grande satisfa��o poder mostrar isso ao mundo inteiro), naquilo que o jornal ingl�s “The Guardian”, e agora “A Bola”, descreveram como o “maior roubo da hist�ria” do futebol. Se a gente tirar o Boca, vamos acreditar no t�tulo mais uma vez. Se vier o t�tulo, vamos pensar que d� pra ganhar o mundo. O atleticano, t� l� no filme, quando ele acredita, periga mesmo o milagre acontecer.
Tirar o Boca � essa pedra fundamental dos nossos sonhos de futuro. Somos fundados, digamos, nestas sapatas estruturantes: a dona Alice costurando a primeira bandeira, o Dario parando no ar, o Reinaldo e seu punho cerrado, o milagre primeiro de S�o Victor no p�nalti de Riascos. O Galo podia ter ganhado do Boca na ter�a passada. Mas ningu�m se lembrar� disso se a gente ganhar dos caras na ter�a que vem. O que ficar� na hist�ria, o que dar� um filme, ser�: tiramos o Boca, agora � daqui pra frente.
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Caramba, hoje tem Corinthians. A exemplo de qualquer jogo com o Flamengo, o dever c�vico da vit�ria. Vamo, Galo, pelamordedeus!