(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Vit�ria na guerra psicol�gica faz do Galo o Freud dos gramados

Com todos os ingredientes de uma Libertadores, bater o Boca nos p�naltis foi parte tamb�m de uma sess�o de descarrego


24/07/2021 04:00 - atualizado 24/07/2021 00:07

As mãos mágicas de Everson - e depois o pé - salvaram o Atlético na dramática decisão das penalidades contra Boca(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
As m�os m�gicas de Everson - e depois o p� - salvaram o Atl�tico na dram�tica decis�o das penalidades contra Boca (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)


No R�veillon de 2012, a Fabi me presenteou com um sabonete cuja glicerina supostamente inclu�a ervas com poderes para espantar urucas variadas. Com certeza, ela imaginava assim contribuir com a melhora da minha performance no casamento, na paternidade e no trabalho. Mas, at� que seu �ltimo cotoquinho escorresse pelo ralo, eu o utilizei inteiramente para o benef�cio do Atl�tico na Libertadores do ano seguinte. Com o Galo campe�o, por vias indiretas a Fabi acabaria por alcan�ar seus nobres objetivos. � �poca, este sab�o ungido ficou famoso entre os fi�is da Igreja Universal do Reino do Galo como “Sabonete da Libertadores”.

Essa hist�ria havia se perdido entre as centenas de Doves e Palmolives que se sucederam ao cotoco escorrido pelo ralo do hotel em Marrakesh, acidente que, sem d�vida, custou o t�tulo mundial. Havia toda uma t�cnica e um apurado ritual para que se garantisse a adequada ativa��o de seus efeitos. Antes do jogo, enquanto aplicado nas pernas e partes �ntimas, era preciso mentalizar nossas injusti�as do passado, em um comovente processo de vitimiza��o capaz de sensibilizar a entidade transcendental escalada para a peleja. Depois de passear pelos chacras, quando ent�o a lavagem atingia a regi�o do t�rax e, portanto, do cora��o, a epifania se dava cantando no chuveiro, a plenos pulm�es, a m�sica da Galoucura: “Ganhar Libertadores, e vamo, vamo, Galo, ganhar Libertadores…”. Por fim, guardava cuidadosamente a criptonita que viajaria comigo pelo Brasil, Paraguai e Marrocos.

Havia esquecido do Sabonete da Libertadores quando, h� uma semana, recebi um pacote em minha casa. O remetente era um certo “Kek�”. Ele fazia algumas digress�es, ali mesmo no pacote pardo, e assinava “Att, Kek�”. Em par�ntese posterior, explicava, atenciosamente, tratar-se o Att de “atleticanamente”. No interior da embalagem, dormitava um sabonete de origem russa trazido daquelas plagas pelo misterioso Kek� – que, fazendo enfim chegar o artefato ao destinat�rio, finalizava com sucesso sua primeira incurs�o no tr�fico internacional de armas.

Kek�, e apenas ele, guardava lembran�as do bem-sucedido Sabonete da Libertadores. E julgou necess�rio dar-lhe um upgrade, substituindo as ervas advindas da Tonga da Mironga do Kabulet�, plantas pra gente ficar Odara, por um artefato de guerra produzido, imagino, por prisioneiros de Putin na Sib�ria. Embora disfar�ado numa caixinha meio Natura na Amaz�nia, o que se tinha era um sab�o de coco da Uni�o Sovi�tica. Ao us�-lo uma vez, nunca mais na vida se precisa de um esfoliante, coisa de gente que cavalga ursos. Tem a vantagem de n�o precisar ser poupado, porque uma pedra r�gida e indestrut�vel – disputar� o Brasileiro, a Copa do Brasil, a Libertadores e o Mundial.

Claro que eu o utilizei antes do jogo contra o Boca. Aquela lixa me instigou a c�nticos ferozes e impublic�veis, contra a PM e a favor da morte. Falei com Ares, fi de Zeus, o deus da guerra. Gra�as ao soldado Kek�, estava preparado para o desfecho sangrento em que at� singelos bebedouros se tornariam armas letais. Pensei, assim como St�lin deve ter falado aos seus comandados quando da incurs�o dos alem�es no inverno rigoroso: “Dexezvin, s�, dexezvin”.

A guerra tamb�m se vence na psicologia dela. O Galo travava o bom combate at� o Hulk ficar putin – brasileiro n�o aprende. Com o nervo aflorando � pele (e apenas eu protegido pelo esfoliante da URSS), o meia Boca conseguiu igualar o jogo. O argentino s� n�o contava com a ast�cia do mineiro, esse povo que produz queijos e possui bancos. O VAR salvou a nossa pele, mas o vacilo do Everson fez eles pensarem que a contenda dos p�naltis era fatura ganha, ainda mais depois de o Hulk peidar na farofa.

O argentino foi pro p�nalti como quem vai na feira, e acabou por escorregar no tomate. “Mire veja”, se tivesse lido o Rosa, saberia, “o mais importante e bonito, do mundo, � isto: que as pessoas n�o est�o sempre iguais, ainda n�o foram terminadas”. Primeiro, o Everson deve ter pensado, “dexezvin”, e catou dois. Pra terminar, fez o gol da classifica��o, no que, humilde e mineiramente, podemos chamar de O P�nalti de Todos os P�naltis, jamais batido antes na hist�ria do ludop�dio com tamanha coragem, efic�cia e beleza.

Agora, temos o River, e s� penso que est�o deixando a gente sonhar: Boca, River, Palmeiras, Flamengo. A Libertadores de Todas as Libertadores! Farei a minha parte, como St�lin fez a dele: dexezvin, s�, dexezvin.
***
E l� vem o Bahia! Ainda bem que desfalcado de seus orix�s, todos em T�quio com a Sele��o. � Putin neles! Vamo, Galo, pelo amor de Ares.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)