Diz-se que n�o se pode ter as duas coisas: ou se tem sorte no amor, ou se tem sorte no jogo. A conjecturar sobre o tema, vamos combinar que o dia 30 de maio de 2013 – h� quase exatos nove anos, portanto – � o marco zero de uma era em que o atleticano, esse azarado cr�nico, passa a frequentar a roda da fortuna. Nesse dia, Dia de S�o V�ctor, toda a urucubaca se desfez.
Vieram ent�o as jornadas de junho de 2013, e l� vou eu misturar a pol�tica e o futebol, me julguem. Protestos tomaram conta do pa�s, primeiro contra o aumento de 20 centavos na passagem do �nibus em S�o Paulo, depois cerrando fileiras com uma gente estranha, skinheads com a su�stica na manga da camisa, gente da Opus Dei, o MBL e a extrema direita. Sorte no jogo, azar no amor: o �dio venceu, e deu que no que deu.
Temo que n�o teremos no jogo a mesma sorte de 21. O corvo pousou em nosso umbral. Perdemos Savarino e Dylan, o Vargas machucou, o Keno, o Zaracho, o Everson j� n�o � mais covirgem. Passamos a depender da genialidade do Hulk, sem a qual a coisa n�o vai. O Turco est� sob suspeita. Na �ltima rodada, vimos o nosso roteiro filmado ao contr�rio: o time da virada levou a virada no �ltimo minuto, como se a bola do Riascos tivesse entrado. Mereceu. Recolhemo-nos sob os nossos edredons nesse frio da porra: s� nos resta o amor. Let’s do it, let’s fall in love.
O amor est� subindo nas pesquisas. O �dio � o �nico item em baixa nas g�ndolas do supermercado. O �dio estrebucha: sobe o morro, mata 26 (e contando...), bandido bom � bandido morto. No dia seguinte, inaugura mais uma obra, dessa vez uma c�mara de g�s. Morreu um inocente? E da�? Eu n�o sou coveiro. O amor sobe nas pesquisas, j� pode ganhar no primeiro turno.
E o Galo? O Galo perdeu. De novo. O azar vem rondando a casinha desde aquele empatezim safado com o Coritiba, e esse Tolima dos inferno acabou por arrombar a nossa porta na quarta-feira passada. Caiu a invencibilidade no Mineir�o, caiu a invencibilidade na Libertadores. Cai o rei de espada, cai o rei de ouro, cai o rei de paus, cai, n�o fica nada. Veja que o nosso azar j� desceu ao subsolo: o Cruzeiro amea�a subir. Falta o corvo, Edgar: nevermore...
Diante desse estado de coisas, proponho uma frente ampla – abnegados e corneteiros, macaco v�io e modinha, uni-vos! Fa�amos um pacto com o amor. Let’s do it! Nos moldes da Ora��o de S�o Francisco, que nunca fez obje��o aos galos e �s galinhas, ainda que se insista na sua predile��o por c�es, gatos e at� calopsitas: “Onde houver �dio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perd�o. Onde houver disc�rdia, que eu leve uni�o”.
Ou seja: onde houver vaia, que a Galoucura leve o sopapo, com todo respeito. Agora � a hora da uni�o sinistra que ningu�m segura. N�s vamos ficar e cantar! Em 22 o amor vai vencer o �dio, e o melhor � estar coligado com ele numa grande federa��o de afetos variados. Deixa o Turco trabalhar! Errou? Errou. “Aquele que n�o tiver pecado atire a primeira pedra”, disse Jesus, o que n�o era o Jorge.
A prop�sito do Jesus flamenguista, eis o exemplo melhor acabado do mal que faz essa fixa��o naquilo que j� foi. O Galo do Turco � um Galo em reconstru��o, mesmo que se tenha preservada a grande maioria do elenco. Cuca tamb�m n�o era unanimidade quando chegou, e apont�vamos o cucabol como um jogo ultrapassado. Que o Turco n�o seja imortal, posto que � chama. Mas que seja infinito enquanto dure. Te amo, meu Galo querido!