Por esses dias, um leitor me escreveu: “Voc� foi premonit�rio no �ltimo texto antes do segundo turno de 2018”. N�o tinha pandemia. Naquele ano, 91,33% das crian�as brasileiras foram vacinadas (em 2019, o n�mero cairia a 73%; em 20, a 67%; em 21, a 59%, informa a Fiocruz). Havia em circula��o cerca de 1 milh�o de armas a menos, segundo dados dos institutos Sou da Paz e Igarap�, colhidos com Ex�rcito e Pol�cia Federal. N�o passava pela cabe�a de ningu�m a hip�tese de que, um dia, um pol�tico corrupto pudesse receber a PF com 50 tiros de fuzil e tr�s granadas.
Nos tr�s anos seguintes do novo governo, mais de 1.600 agrot�xicos seriam liberados. Apenas em 2019, 475 desses produtos passariam a ser livremente comercializados – 44% deles, de acordo com o Greenpeace, banidos na Europa e nos Estados Unidos. O pantanal pegaria fogo. O desmatamento na Amaz�nia bateria todos os recordes. O ministro do Meio Ambiente se confraternizaria com madeireiros ilegais, e depois seria eleito com vota��o estupenda. O presidente da Rep�blica incentivaria o garimpo em reservas ind�genas. Matariam Dom Phillips e Bruno Pereira.
O leitor compartilha comigo um trecho daquela coluna, de 27 de outubro de 2018.
“Esque�a o futebol. Seu voto, no domingo, pode me matar. Pode matar um filho seu, a filha da minha prima, seu neto, seu melhor amigo. J� aconteceu, juro, consultem os livros, ou�am os alertas vindos do mundo inteiro, pensem no Cristo torturado, nos judeus nas c�maras de g�s. Se eu estivesse s�o, estaria neste momento em frente a sede de um clube de futebol pedindo a cabe�a do diretor. Mas como eu devo ter enlouquecido, estou aqui pedindo seu voto. N�o precisa gostar do outro candidato. Se for o caso, tape o nariz e pense que 13 � Galo, o time da virada, o time do amor.”
At� as 16h de ontem, 687.962 pessoas morreram de Covid. Quantas estariam vivas se o presidente n�o tivesse incentivado as aglomera��es e desprezado as ofertas de vacinas? Sigo vivo. Atleticano exilado em S�o Paulo, recolho-me ao sof� para mais uma pelada daquelas. Atl�tico e Juventude, que poderoso son�fero. Prescrevo o VT aos que est�o ansiosos pelo dia 30. O calo no olho � o �nico efeito colateral.
“Amanh� ser� um lindo dia, da mais louca alegria”, informa o Guilherme Arantes quando me disperso em um novo v�deo no Whatsapp, a pelada rolando, o tik-taka dos infernos. “Amanh�, mesmo que uns n�o queiram, ser� de outros que esperam ver o dia raiar. Amanh�, �dios aplacados, temores abrandados, ser� pleno.” Eu t� chorando at� com o Guilherme Arantes, t� lascado. Acordo do transe. Persisto no arranca-toco. 1 a 0 pra n�is. T� valendo. Amanh� levo meus olhos ao dr. Scholl.
Estou imune �s emo��es do ludop�dio. O cora��o s� bate pela peleja do dia 30. A elei��o vai definir o futuro da humanidade, me diz o New York Times. Assisto inerte ao gol do Dod�. Quem se arrisca a pular e socar o ar, se est� na beira abismo? Francisco est� preocupado: papai s� pensa naquilo.
Digo que � por ele, e que o jogo do dia 30 vai decidir quem seremos n�s daqui pra frente – e que eu preciso que ele saiba de que lado eu estava em 30 de outubro de 2022.