
Pode pesquisar: eu cantei a bola, pelo �bvio ululante que o cen�rio estava a demonstrar. Primeiro v�o sucatear, depois v�o comprar na baixa – o cl�ssico modelo de privatiza��o da coisa p�blica pela for�a da grana que a tudo abocanha.
A nova SAF do Galo, a se confirmar a composi��o de sua propriedade, � a mais nova atualiza��o da cartilha de compra e venda dos liberais sem nenhum pudor. Ela se inscrever� como “case” a ser estudado no futuro quando se quiser compreender a voracidade e a sagacidade dos operadores do dinheiro farto. Sucateia, bota pra vender – e voc� mesmo que fez o pre�o vai l� e compra.
Antes, ao sucatear uma empresa p�blica de energia el�trica, por exemplo, o pobre do consumidor ficava sem luz – e passava maus bocados at� que se apresentasse o salvador da p�tria capaz de arremat�-la no leil�o. No caso do Galo, redescobriu-se a p�lvora: era poss�vel sucatear fazendo um est�dio novo e um time campe�o.
Quando o pr�prio processo de sucateamento leva a se atingir metas pra l� de vitoriosas, n�o h� �nus pessoal ao sucateador, o que na antiga cartilha talvez servisse de freio e contrapeso ao tamanho da destrui��o. Agora, pelo contr�rio, o destruidor pode usufruir das benesses pessoais, sociais e pol�ticas advindas do aniquilamento. Se bem executado, � golpe de mestre. Voc� quebra e, de quebra, vira �dolo e ganha musculatura como for�a pol�tica, um c�rculo virtuoso que torna ainda mais vi�vel seu objetivo final.
A nova SAF do Galo, se concretizada, n�o deixa ponto sem n�. Veja o caso do est�dio. Seu terreno seria invi�vel para o simples loteamento e constru��o de pr�dios de apartamentos. Liberar uma �rea verde daquele tamanho, com nascente de �gua e p�ssaros em extin��o, s� seria poss�vel gra�as ao interesse social da obra. Tal terreno foi “doado” ao est�dio do time da cidade. Conclu�do, ser� agora entregue ao doador, ao mesmo tempo o vendedor e o comprador do clube do qual se era t�o somente “mecenas”. Se os mecenas de Michelangelo fossem os mecenas do Galo, teriam terminado donos do Vaticano e da Igreja Cat�lica.
O est�dio foi vendido ao Conselho Deliberativo como obra assegurada contra quaisquer contratempos que pudessem encarec�-la. Quando encareceu n�o havia seguro – e nem Conselho, aparelhado que foi. Aproveitou-se para mais uma jogada de mestre: jogou-se a conta no colo do desafeto pol�tico, cuja pol�tica n�o era a mais vantajosa para os neg�cios diversos dos futuros donos do time, tamb�m donos, agora, de parte da imprensa. N�o h� fio que se tenha deixado desencapado nessa hist�ria. � um plano perfeito, executado com maestria.
O jornalista Rodrigo Capelo, especialista em finan�as de clubes, cunhou a melhor imagem sobre a SAF do Galo. O vendedor sentou-se � mesa com n�meros e pap�is. Fez sua propaganda, botou o pre�o, apresentou a proposta. Tendo terminado a exposi��o, levantou-se, deu a volta na mesa e sentou-se de novo, agora na condi��o de comprador: “Eu aceito”. Podia estar no XVideos, de t�o obsceno.
� um filme pornogr�fico em que, ao final, a gente levanta e aplaude, como se fosse uma �pera: “Pelo menos s�o atleticanos, melhor assim”. De fato. Peter Grave, o Peter T�mulo, sempre me pareceu uma op��o um tanto funesta, ainda mais que o sujeito s� tinha uma �nica foto, e era imposs�vel saber se aquilo era o avatar de algu�m mais ou apenas a estranha figura do homem de uma foto s�.
� melhor aplaudir, ou o que faremos? Torcer para a F�rmula 1? Basquete? Pular do viaduto de cabe�a l� embaixo? Melhor que sejam atleticanos! Foi um plano t�o perfeito, que eu sou capaz de escrever essa coluna e ao final dizer, de cora��o: muito obrigado, pessoal, voc�s salvaram a p�tria.
A bem da verdade, tamanha maestria me faz pensar que n�o ser� de todo inesperado se daqui 30 ou 50 anos tivermos nos transformado numa incr�vel holding internacional. N�o haver� mais Flamengo nem Corinthians, mas o Clube de Regatas do Galo e o Sport Clube Atl�tico Paulista, nossas filiais. “O mineiro vende queijos e possui bancos”, como diz o outro.