
A derrota de domingo passado n�o � um vexame. Vexame � achar que uma derrota para o arquirrival, embora arquifregu�s, seja um vexame. N�o importa se era o primeiro cl�ssico na nova arena. � do jogo ganhar ou perder um cl�ssico, tenha voc� o elenco que tiver, esteja o advers�rio em que fundo de po�o estiver.
Vexame, isso se pode dizer, � abdicar do jogo quando se tem um time melhor. Vexame � ser covarde. Armar um ferrolho mal-feito jogando na sua pr�pria casa, diante de sua pr�pria torcida. Vexame � ter Felip�o de t�cnico. Vexame s�o suas entrevistas sem nenhum respeito ao torcedor que lhe paga o sal�rio. Vexame n�o � perder um cl�ssico. Vexame � agredir familiares de jogadores porque perdeu um cl�ssico.
Vexame � retirar portas de banheiro da torcida advers�ria. Vexame � ter um diretor de marketing fazendo o marketing da arrog�ncia �s v�speras do jogo. Vexame � saber que esse pateta tem todos os predicados para se tornar presidente do clube, j� que de agora em diante tudo que os donos do Galo esperam � que um pateta seja o presidente. Se bem que o cargo est� mais para rainha da Inglaterra do que para bobo da corte.
Vexame n�o � perder para o Cruzeiro por 1 a 0, nem mesmo para um Cruzeiro querendo ser tetra da s�rie B. J� ganhamos tantas vezes com times t�o ou mais med�ocres, diante do rival francamente favorito. Vexame � perceber que agora somos n�s os arrogantes, e que o vesti�rio deles respira a ra�a e o amor de que tanto nos orgulhamos um dia. Aqui o cara entra funcion�rio e sai jogador do Flamengo.
Vexame � n�o ter ningu�m da dire��o, nenhum dos nossos donos, a colocar a cara para uma palavra ao torcedor. A n�o ser para versar sobre os rumos da economia do pa�s ou a safra de uvas na Europa. Uma coisa completamente rid�cula.
Vexame � um presidente inexistente, um Conselho de amigos, uma SAF imoral que privatizou um patrim�nio que deveria ser tombado e cujo maior ativo � a paix�o do pov�o, agora privado de conhecer o novo est�dio. Paix�o vendida na bacia das almas a espertalh�es que a colocaram eles pr�prios nesse lugar – e que, rezando na cartilha da constru��o de falsas narrativas, terceirizam a culpa de tudo a todo tempo. A culpa � do Kalil, a culpa � do Coudet. Vexame � ter tanto bobo pra acreditar. Vexame � ter tanto amansado para contribuir.
Outro dia um amigo lan�ou a ideia de uma revolu��o: um grupo de atleticanos que fosse ao coreto do parque refundar o Atl�tico. Poderia se chamar Athletico Mineiro Football Club, nosso primeiro nome. Ou Atl�tico mesmo, j� que os donos da SAF n�o gostam de Atl�tico e trabalham para mudar seu nome, pois Atl�tico h� v�rios. A ver se n�o desgostam tamb�m do compasso do hino, do escudo e das listras da camisa.
Achar�amos uma quadra de society ou um lote vago onde instalar�amos as traves. Uma dona Alice para costurar a bandeira. O nosso galo voltaria a ser um galo, e n�o o chester atual. Perder�amos em peito, ganhar�amos em alma. Tudo vale a pena quando a alma n�o � pequena.
V�o dizer que Galo � uma marca e j� pertence � safada da SAF. Mas como v�o proibir quando o Galo insistir em cantar? Com o tempo, far�amos a nossa pr�pria SAF – a Sociedade dos Atleticanos Fodidos, com t�tulos simb�licos vendidos a qualquer entusiasta da nossa pequena grande revolu��o. Comer�amos o p�o que esses caras amassaram. At� o dia em que tomar�amos de volta aquilo que sempre foi nosso.
O Galo do Felip�o tem a sorte de ser esse Robin Hood que nem ele explica (“porque � assim”): tira dos tubar�es e entrega aos cabe�as de bagre. N�o importa onde isso vai nos levar. Mesmo ganhando, como diria a Dilma, n�s j� perdemos. Esse vexame � nosso e ningu�m tasca.