Di�rio da quarentena
O que me resta � sonhar!
Daniela Fernandes,
Diretora da mostra
Curta circuito

Minha quarentena n�o tem sido muito f�cil, s�o dias e dias de isolamento, preocupa��o (estou no grupo de risco por ser diab�tica e longe da minha fam�lia). Sem contar a solid�o, ohhh palavrinha danada! Nestes dias tristes e bizarros sem poder fazer o que mais gosto, exibir obras importantes da filmografia brasileira no Curta circuito, no Cine Humberto Mauro, tento me reinventar. E, definitivamente, n�o fazer coisas para as quais n�o tenho mais paci�ncia: aprender a cozinhar, yoga �s oito da manh�, ver lives noturnas ou retomar as aulas de italiano. Penso que meu otimismo e minha criatividade tiraram f�rias de mim. Ent�o, o que me resta fazer � sonhar!.
E como dizia Ad�lia Prado:
“O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E � dele que eu vou viver
Porque sonho n�o morre.”
E nos meus sonhos, um pouco delirante nesta quarentena, vejo a vida projetada numa tela, como uma daquelas hist�rias deliciosas do cinema brasileiro, cada sonho uma produ��o mirabolante.
Entro no Cine Humberto Mauro vazio, j� n�o existe mais o p�blico, s� ou�o o barulho do projetor.
Os cr�ditos sobem com os dizeres: “Este filme foi produzido e dirigido por Cl�o de Verberena” (pra quem nunca ouviu falar, Cl�o foi uma das mulheres mais importantes e pioneiras do cinema brasileiro. Cl�o era muito vaidosa, adorava andar sempre chique e tinha a mania de levar uma cam�lia perfumada e colorida no vestido).
Nessa produ��o ut�pica, por que n�o ter a minha vida interpretada por v�rias atrizes do cinema brasileiro, como Carmen Santos, brilhante na tela e fora dela.? Carmem defendia o cinema brasileiro com unhas e dentes. Ou Zez� Macedo, com seu tipo f�sico, magrinha, baixinha e incrivelmente engra�ada. Para finalizar esse elenco maravilhoso feminino, nossa diva Ruth de Souza com seu talento e precioso legado.
E como numa chanchada da Atl�ntica (humor quase sempre ing�nuo, �s vezes malicioso e at� picante), minha vida seria um eterno carnaval! Sem deixar de escalar Grande Otelo e Oscarito para esse grande elenco. No enredo dessas hist�rias sempre vai ter romance, a��o, intriga policial, humor e m�sica. Por falar em m�sica, j� vou acordando com o genial Mazzaropi cantando:
“Beija, beija meu doce de coco
Esperando, eu j� ando louco
Bem mais perto, chove em meu deserto
Que eu tenho tudo para te agradar.”