Not�cias gerais.
2.146 lugares vazios no teatro, no cinema, no festival da pra�a, no show na Gruta, na Aut�ntica, no Mercado. 3.789 pessoas a menos lendo esta coluna, vendo esse v�deo. 5.357 pessoas a menos no carnaval. 15.287 pessoas a menos por culpa da burrice, da estupidez, da ignor�ncia, da corrup��o. 26.788 pessoas a menos ouvindo r�dio, assistindo � novela, molhando as plantas.
Not�cias do Vale do Jequitinhonha.
Pro H�lio, pra Lena, pra Elaine, Vicen�a e Bilim l� na ro�a. Pra D�bora e pro Matheus l� em Milho. Pro Sammer l� em Minas Novas. Pro Thiago de Caratinga, pro Bruno, pra Vanessa e pro Greg�rio em Diamantina. Pro Tino e pra Marina de Montes Claros. Pra Milena e pra D�a de Almenara. Pra Lira, pra Julia, Fat�o e Marku de Pirapora. Tem uma serra praquelas bandas, chamada Serra Negra, coberta de cristais e sempre-vivas.
Eu estive l� quando crian�a. N�o sei mais agora o que foi sonho e o que � real, porque nunca mais voltei e em algum momento da vida tudo vira constru��o da mente. Pode ser tamb�m que esteja tomada por planta��es de eucaliptos. Mas era uma imensid�o fria, seca, um ch�o de areia muito branca misturada com pequenas pedras de cristal de mica. Brilhava de longe, era dif�cil enxergar, perdoem, sou meio fotof�bico desde crian�a, de forma que a descri��o pode estar um pouco prejudicada. Mas al�m da areia branca refletindo o sol e dos ma�os de sempre-vivas, havia um componente m�gico naquela paisagem quase lunar, des�rtica, surreal aos meus olhos infantis: eram, na minha vis�o, imensos blocos de cristal. Pedras enormes transparentes, brancas, cor-de-rosa, amareladas, transpondo-se umas sobre e dentro das outras, brotando da terra pelo caminho, no meio da trilha que faz�amos pra chegar at� as barracas de lona onde ficavam os que trabalhavam naquela serra. N�o parecia f�cil aquele trabalho, quem estava ali n�o tinha o aspecto do conforto.
(Ouvir Not�cias do Brasil e Itamarandiba, de Milton e Brant. Ouvir a r�dio Inconfid�ncia.)

Not�cias da Serra do Curral e arredores.
(Santos, S�o Paulo, Bogot�, Lima e Santiago. Ouro Preto, Lavras Novas, Rio de Janeiro, Recife, Bel�m, Bras�lia, Goi�nia, Macap�, Curitiba, Salvador, Sagi, Morer� e Cumuruxatiba, Palmas e Vit�ria.) Nasci na Avenida do Contorno. O filho que eu tive n�o viu esses lugares. Meus sobrinhos ainda n�o viram. Talvez eu mesmo tenha passado sem ver, sem mirar, sem guardar. Ter passado inventado ou documentado, pouco importa, corpo de teatro e de arte n�o trabalha com objetividade, transforma tudo em mat�ria pro pensamento triturar. Pedra dura como o min�rio vermelho da serra que nos foi roubada. E haja corpo que dan�a, que canta, que anda, que toca, que atravessa o viaduto debaixo do sol quente com um copo de catu�a� nu’a m�o e um punhado de beijos n’outra. O jacarand�-mimoso na ponta do Parque Municipal testemunha a trajet�ria at� o palco do Pal�cio das Artes, “eu quero � botar meu bloco na rua”.
Not�cias do Brasil.
O mergulho profundo dentro de uma caverna, sem snorkel, cilindro ou lanterna. Sem c�u pra respirar, sem sa�da aparente, �gua gelada, o perigo iminente do desmaio por falta de ar. A vis�o turva, n�o h� luz nem m�nima claridade. N�o h� caminho para a sa�da, s� para a resist�ncia eterna. Que destino esse, o de ser e estar.