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Estado de Minas COLUNA HIT

B�rbara Colen: 'Os dias passaram a ser cheios de tempo'

Estrela do premiado filme Bacurau, mineira revela, no 'Di�rio da quarentena', suas ang�stias diante da pandemia


postado em 10/06/2020 04:00

Di�rio, di�rio…

Eu sabia que a vida era inst�vel, que tudo poderia mudar de repente. Muita medita��o, ensinamentos budistas da transitoriedade das coisas. Entendia e, com minha lua em G�meos, achava at� bem legal essa inconst�ncia. Mas nunca, em nenhum momento da minha limitada exist�ncia sobre a Terra, tinha pensando em viver uma pandemia.

De um dia para o outro, me avisam que aquele v�rus distante chegou e agora o neg�cio era viver dentro de casa. Dentro de casa, t� bom, mas, assim, quanto tempo? Umas tr�s semanas? N�o, acho que vai ser uns dois meses. Ah! Dois meses d�, n�? Vai ser at� bom, porque estou com umas coisas atrasadas, estava mesmo precisando de um tempo, ficar mais introspectiva, mais calma…

Parece que n�o v�o ser dois meses, parece que o Brasil est� fazendo a quarentena de qualquer jeito, parece que o pico de cont�gio ainda nem chegou, parece que o presidente � um genocida e que estamos sem ministro da Sa�de, parece que vamos at� dezembro, parece que a taxa de subnotifica��o � de 800%, parece que, na verdade, ningu�m entende esse v�rus direito, parece que v�o ser tr�s anos para voltar, parece que em tal lugar acabaram a quarentena na segunda, mas voltaram na ter�a, parece que n�o acaba n�o. Nunca mais.

Quanto tempo j�? Dois meses?

Dois meses sem gente, sem andar. Dois meses com medo de pisar na rua, medo de abrir a portaria. De repente, ir ao supermercado se transformou em uma tarefa exaustiva. Sinto os m�sculos tensos, mapeio as pessoas que est�o no ambiente, calculo dist�ncias, me irrito quando algu�m viola o meu suposto raio protetor. Ando por a� com uma m�scara at� bonitinha, mas que suspeito ser completamente ineficaz. Duvido muito da efic�cia das minhas medidas de seguran�a. Fico pensando que teria de jogar cloro nos alimentos que chegam, mas como comer uma cenoura banhada em �gua sanit�ria? E meu sapato companheiro, meu �nico sapato preto do lado de fora da porta, ser� que se tivesse um microsc�pio o veria cheio de v�rus?

Dois meses…

Agora dan�o sozinha no escuro com alguma frequ�ncia. Fico calada por horas. E os dias, que tinham tudo para ser sempre iguais, passaram a ser cheios de tempo. Aquele mesmo tempo que antes parecia um deus arrogante e faminto, devorando meu est�mago com ansiedade. Agora n�o posso ignorar minha presen�a. E talvez ela nem seja t�o inc�moda. Talvez possa fazer um filho. Mas ainda cabe vida neste mundo? Ah… precisa caber. A morte n�o pode nos encontrar t�o tristes assim.

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