Grupo Oficcina Multim�dia � mais uma v�tima da pandemia
No 'Di�rio da quarentena', Ione de Medeiros, diretora da companhia, faz seu desabafo e revela preocupa��o com o futuro das artes c�nicas em Belo Horizonte
Um dia muito triste pra n�s do Grupo Oficcina Multim�dia (GOM) nesta pandemia. O pior, desde que entramos em quarentena, em mar�o de 2020, pouco antes de estrear o espet�culo Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, programado para o m�s de maio, no CCBB BH.
Depois dessa primeira frustra��o, veio a segunda. Foi no dia 19 de julho, quando n�s, depois de 43 anos de pesquisa c�nica e 27 espet�culos montados, tivemos que abrir m�o de boa parte de nosso acervo e fechar o espa�o onde ensai�vamos e guard�vamos nosso material c�nico. Um acervo armazenado h� anos e utilizado como importante material de nossa pesquisa c�nica.
Esse material diversificado foi se juntando no processo de garimpagem feito nas ruas, demoli��es, nos topa-tudo e lojas de material de constru��o e mais um arsenal de objetos do cotidiano, como mesas, cadeiras, sof�s e poltronas usadas achados na internet, al�m de roupas, sapatos e toda a quinquilharia colhida em brech�s. Objetos abandonados que traz�amos para nosso espa�o e eram incorporados na cena desde o in�cio dos nossos processos de cria��o. Explorados em suas possibilidades de express�o, e sem que houvesse altera��es na sua forma original, a cada montagem eram ressignificados, adquirindo beleza e novos sentidos.
Soma-se a essa garimpagem o trabalho feito nos laborat�rios de cria��o do GOM, como a constru��o de m�scaras, bonecos, adere�os c�nicos e figurinos, como o das noivas de Navio-noiva e gaivotas (1989), as capas de Zaac e Zenoel (1998), os vestidos de �poca de A casa de Bernarda Alba (2001), os parangol�s de B�-a-ba Brasil (2007), os quimonos das gueixas e o labirinto de fil� de As �ltimas flores do jardim das cerejeiras (2010), as m�quinas de guerra
de Macquin�ria 21 (2016).
Foi triste perder boa parte desse acervo na desmontagem de nosso galp�o, sem que tiv�ssemos para onde ir.
N�o existe em BH um espa�o garantido para a preserva��o da mem�ria do teatro e de sua hist�ria. Aqui, tudo tende a desaparecer. E esse parece ser o futuro de muitos outros grupos de teatro, que hoje est�o mantendo seus espa�os atrav�s de crowdfundings e apoio de amigos. Mas eles � que v�o salvar a arte?
As verbas das leis de incentivo � cultura s�o insuficientes. Atingem somente alguns e por tempo limitado. Mas os grupos de teatro precisam de um apoio continuado para a produ��o de espet�culos e manuten��o de seus espa�os. Sem a garantia desse suporte, qual ser� o futuro das artes c�nicas de BH e da preserva��o de sua hist�ria?