
Que possamos lavar tamb�m os pensamentos na hora de chegar em casa, desinfetar as preocupa��es com �lcool em gel, ensaboar as frutas dos olhos, tomar um banho de gentileza antes de falar com quem amamos.
Que as conversas n�o se tornem mais atropeladas, mais aos gritos e ordens, contaminadas pelas neuroses e pelas obsess�es.
Que n�o perguntemos onde est�o as nossas coisas, que procuremos antes de reclamar.
Que n�o deixemos a rua entrar no tapete da sala, que tiremos os sapatos para reaver a sensibilidade dos p�s.
Que saibamos diferenciar o que � problema do emprego e o que � impasse da rela��o, que isolemos as frustra��es, que n�o misturemos o humor da cabe�a e do cora��o.
Que percamos o mesmo tempo do asseio f�sico com a limpeza dos afetos.
Que usemos igual paci�ncia empregada na superf�cie para mandar a tens�o embora do nosso interior.
Que coloquemos m�scaras no momento da grosseria, para n�o derramar palavras impr�prias e adoecidas.
Que mantenhamos meio metro de dist�ncia em crises de raiva e ang�stia, aprendendo a ficar sozinhos, at� nos desintoxicar do ego�smo.
Que sejamos justos ao abrir a boca e ao silenciar, n�o repassando d�vidas como certezas, medos como verdades, impress�es como fatos consumados.
Que perguntemos mais em vez de concluir apressadamente, tendo apenas parte das informa��es e a nossa vers�o da hist�ria.
Que tamb�m guardemos boas not�cias para contar, separando piadas, causos engra�ados, observa��es espirituosas de nossos contatos.
Que os elogios fa�am frente ao desgaste das cr�ticas.
Que cultivemos plantas, temperos, que cuidemos dos nossos animais de estima��o, que a vida permane�a pr�xima, pulsante, aberta �s surpresas do cheiro e do carinho.
Que recuemos ao atacar, ao criar culpa, ao encontrar respons�veis pelas nossas pr�prias distra��es e erros.
Que respiremos devagar, transformando o nosso ar em melodia, em partitura, em delicada brisa.