
“Galera, as aulas est�o suspensas por tempo indeterminado. O v�rus est� se espalhando pelo mundo.” N�o era brincadeira ou sensacionalismo da TV. Aquele abafado m�s de mar�o avan�ava e o coment�rio mais ouvido em toda parte dava conta de que o coronav�rus era uma amea�a muito s�ria e a previs�o inicial era de ficarmos pelo menos
15 dias em casa em quarentena.
“Nossa, duas semanas sem ir � escola!” era o que mais se ouvia pelos corredores, mas mal sab�amos que aquelas duas semanas virariam seis meses e que esses seis meses seriam os mais longos e cansativos das nossas vidas
Mas o que um adolescente fazia da vida antes da pandemia? Escola pela manh�, estudos � tarde, educa��o f�sica em um dia da semana. Alguns optavam tamb�m por fazer aulas de m�sica, ingl�s ou viol�o.
"� disso que sentimos mais falta: a chegada ao col�gio, as risadas pelos corredores, aquele assunto do momento para colocar em dia"
Nos fins de semana, visitar parentes ou sair para se divertir com os amigos era algo que tirava da rotina, dando um g�s para come�ar tudo de novo na segunda-feira. S� que, de repente, uma rotina t�o comum virou do avesso.
A parte escolar foi a mais afetada, n�o nos dando chance nem escolha: o estudo on-line � uma realidade e tivemos de nos adaptar para n�o perder o ano que mal estava come�ando.
Durante as duas primeiras semanas, at� que foi “tranquilo”, mas n�o imagin�vamos que as coisas fossem tomando propor��o t�o gigantesca. Do nada, fomos ficando experts nos recursos da plataforma de ensino em que os professores iam mandando as atividades. E todo mundo – escola, colegas, pais – tentando se adaptar �quele mundo virtual.
Em casa, a televis�o n�o falava de outra coisa a n�o ser a avalanche de not�cias deixando bem claro que o momento era bastante cr�tico. O aumento dos casos e mortes dava a certeza de que aquele v�rus n�o sumiria t�o f�cil assim.
Com o passar do tempo, as aulas virtuais come�aram pra valer atrav�s das videoconfer�ncias entre os professores e os alunos. Aquela adrenalina do come�o, com certeza, vai ficar para a hist�ria.
Nas aulas presenciais, a intera��o do professor com o aluno e a turma sempre foi intensa. A mudan�a para o virtual, de maneira t�o abrupta, foi um choque. A intera��o do aluno com o professor at� que acontece, mas com os nossos colegas tem sido algo bem raro, e � disto que sentimos mais falta: a chegada ao col�gio, as risadas pelos corredores, aquele assunto do momento para colocar em dia, as trocas de experi�ncias durante as aulas e at� mesmo uma troca de lanche.
Mas a parte virtual at� que tem rendido momentos divertidos. Sempre tem alguns professores ou colegas pagando mico. �s vezes, algu�m esquece o microfone ligado por descuido e surgem algumas confiss�es inesperadas, como “ah, n�o estava a fim de fazer esta atividade”. E, claro, tem os famosos dorminhocos de plant�o, que perdem a chamada e v�m com suas desculpinhas, minutos depois de seu nome ter sido insistentemente proferido: “Foi mal, professor, a minha internet caiu”, “Opa, eu t� aqui, viu? � que tive que ir ali no banheiro”. Mas pelo menos desta vez n�o deve rolar aquela m�xima desculpa das aulas presenciais: “Poxa, meu cachorro comeu o meu trabalho”.
Agora, inesquec�vel mesmo foi o dia em que a professora de matem�tica, meio feliz, entrou cantarolando para os alunos a fim de acender os �nimos. Ih, gente, que isso? Ela n�o estava surtando, ela s� estava tentando melhorar o seu �nimo tamb�m, n�o � mesmo?
Mas a vida de um adolescente na quarentena n�o se resume somente a estudar, estudar e estudar. Com as tarefas feitas e a leitura em dia, a divers�o rola solta nos jogos on-line, com o Ludo e o Among disputando a prefer�ncia de meninos e meninas em momentos de distra��o nas chamadas de v�deos com os amigos.
Confinado, era preciso estar bem-informado, estudar direitinho, mas distrair a cabe�a ajuda muito a sa�de mental, n�o esquecendo tamb�m das m�sicas. E vamos convir: nenhum jovem consegue fazer algo sem estar ouvindo algum tipo de m�sica.
Passados seis meses, j� lemos algumas not�cias sobre a possibilidade de volta �s aulas. Ser�? A nossa cabe�a, t�o cheia de d�vidas e indaga��es, nem consegue mais pensar no que vem pela frente. S� tem espa�o para as recorda��es da vida que t�nhamos, repletas de risadas, festinhas, brincadeiras, abra�os e beijinhos. Durante todo esse tempo, atos t�o singelos passaram a ter valor muito grande.
Se daqui a alguns anos algu�m ler esta cr�nica e tiver sido adolescente em 2020, vai sentir aquele aperto no peito e entender direitinho o que estamos sentindo. Saber que estamos perdendo um ano inteiro de uma das melhores fases da nossa vida para um inimigo invis�vel n�o � f�cil. Mas quando tudo isso passar, pode ter certeza: vamos aproveitar cada segundo do tempo que vier pela frente com muita responsabilidade e amor ao pr�ximo.
* Ap�s debate on-line com o colunista Helv�cio Carlos, alunos do 9º ano dos professores Junior de Sousa (portugu�s e literatura) e Camila Marques (reda��o), do Col�gio Darwin, em Bom Despacho, escolheram este texto para represent�-los no Di�rio da quarentena. Cr�nicas publicadas no especial da Coluna Hit foram apresentadas em slides na plataforma de estudos durante as aulas virtuais da turma.