
Como todos, fui pego de surpresa pela avalanche de acontecimentos e mudan�as – entre elas, algumas muito radicais para nossas vidas – com a chegada da COVID-19. Essa doen�a, al�m do sofrimento f�sico, trouxe muito desconforto, inseguran�a, medo e problemas graves para n�s e para o nosso pa�s, j� t�o combalido. O sofrimento fica ainda maior quando sabemos que ele � mundial.
Tentei me organizar. Adotei os protocolos e me mantive informado o mais que pude. Me concentrei para n�o entrar em p�nico e para ajudar familiares e amigos. Minha rotina de vida foi completamente alterada, com a inclus�o de mais afazeres dom�sticos do que os que j� desempenhava em casa. Sem auxiliares, mais esse trabalho passou a ser de nossa responsabilidade. Houve adapta��es de toda natureza.
Li muito e continuo lendo. Primo Levi, Philip Roth, Susan Sontag, Benjamin Moss e Clarice Lispector, entre outros, me v�m fazendo companhia di�ria. Minha esposa est� comigo desde o in�cio, e nossos dois filhos que moram fora chegaram em momentos diferentes para ficar conosco. Ambos ainda permanecem aqui, um deles trabalhando de forma remota. Ontem, chegou minha nora americana.
Outra surpresa, mas essa muito bem-vinda, foi o Di�rio da quarentena publicado pelo Helv�cio, que passei a ler diariamente. Sacada genial para substituir o cotidiano da cobertura jornal�stica feita por ele.
Cozinhei e vou cozinhar muito ainda. Tive e estou tendo muitos momentos de introspec��o. Muitas pessoas os chamariam de momentos de medita��o. O nome n�o importa, s� sei que s�o pensamentos que afloram em mim trazendo paz ou desassossego, assim como a quantidade absurda de sonhos que passei a ter desde meados de mar�o, depois de me confinar em minha ch�cara. Fiz muito mais uso do meu WhatsApp e do meu Instagram. Mantive os amigos perto de mim usando esses artif�cios.
Este v�rus que virou pandemia trouxe para todos uma quantidade enorme de palavras e express�es n�o usuais: lockdown, confinamento, cloroquina, isolamento social, hospital de campanha, fique em casa, use m�scara, lave as m�os, �lcool em gel, pandemia e mais centenas de express�es que povoam a nossa fala, recheando nossas conversas. Elas dever�o ser dissipadas com a chegada da vacina. E v�o se tornar lembran�as destes tempos terr�veis.
N�o tem sido f�cil! Muito dif�cil para muitos que perderam familiares, perderam empregos, perderam a liberdade, o conv�vio com pessoas queridas e, principalmente, perderam as esperan�as.
ISOLAMENTO SOCIAL. Esta situa��o imposta pelos protocolos p�s-v�rus significou a interrup��o dr�stica de minha atividade profissional e de muitos colegas, al�m do sem-n�mero de fornecedores e colaboradores.
Sou produtor de eventos, trabalho diretamente com a realiza��o e a materializa��o de aspira��es e sonhos das pessoas. As festas, celebra��es e comemora��es ficaram para tr�s e nas lembran�as de quem as viu, produziu e participou delas. A realiza��o de eventos se pauta pelo ac�mulo e proximidade de pessoas; abra�os e beijos fazem parte desses momentos, assim como brindes e o prazer de dan�ar numa pista “bombando de gente”. O futuro � totalmente incerto, ainda n�o h� luz no fim do t�nel.
Tenho esperan�as de que o prazer e a possibilidade da celebra��o retornem. Esperan�as que s�o muito long�nquas, mas as tenho. A vida sem isso fica sem cor.
