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Estado de Minas COLUNA HIT

''Feto, poeta do morro'', de Luiz Melodia, est� na se��o ''Qual � m�sica''

Pedro Lu�s, que gravou a can��o vetada na ditadura, diz que ''seria injusto destacar um verso ou estrofe de uma obra t�o inteira e intensa''


08/08/2021 04:00


Pedro Lu�s
cantor e compositor

Os 70 – sim, a d�cada de 1970 – foram anos intensos. Sendo de uma fam�lia de muitos irm�os que sempre foi emp�tica e interessada pelas causas progressistas, eu assistia, muito por conta dessa “irmanada” sagaz, uma efervesc�ncia na m�sica e nas artes, naturalmente temperada pela turbul�ncia pol�tica – aqui, especialmente, e contra-cultural – mundo afora, mas que se esparramava tamb�m por nossa terra t�o diversa e t�o complexa. J� fechando o ciclo do que seria a minha inf�ncia meus olhos �vidos e ing�nuos, com o frescor pertinente a essa idade e a excita��o particular que sempre me foi peculiar, assistiam estupefatos um furac�o caleidosc�pico de cores e acontecimentos.

Terror e beleza atravessavam a vida e a sociedade, e a trincheira onde meus pares-parentes se encontravam naturalmente era a de quem se esgueirava e protegia-se das perversidades do terror da ditadura civil-militar e se abastecia das belezas que uma arte e m�sica plurais nos ofereciam aos borbot�es: uma turba diversa de artistas da can��o, do teatro, do cinema e mais, muito mais.

Nesse cen�rio contradito, de ditadura e explos�o criativa, vi meu pai e irm�s mais velhas queimarem toda uma bibliografia marxista comprometedora em um lat�o no quintal dos fundos ao mesmo tempo que a m�sica pulsava diversa na esp�cie de fam�lia d� r� mi que �ramos: Elises, Beth�nias, Miltons, Chicos, Caetanos, Gis e tantos outros nos atravessavam a alma no melhor dos sentidos como um b�lsamo, consolo, escola livre e doses robustas de beleza.

Minhas manas traziam de suas aulas de viol�o pro nosso LoBuarque – sim, assim elas batizaram o Di Giorgio que ganharam em 1965 homenageando Chico e Edu e onde arrisquei meus primeiros acordes e autorias, toda uma imensid�o de Naras, Tons, Edus, Vandr�s, Jo�es e tantos. N�o imaginava ent�o que ali estava se formando, nessa escola-vida, o que serviria de tecido primal pra tudo o que seria meu caminho de ser cidad�o e at� minha escolha profissional.

Uma m�tica justificada daquele momento era a quantidade de can��es e textos – art�sticos ou jornal�sticos, censurados e subjugados aos crit�rios mais esp�rios e estapaf�rdios de que j� se teve not�cia. A qualquer sensa��o ou desconfian�a de ataques � moral, ao poder pol�tico, aos bons costumes decididos e guardados por um comando indecente e seus funcion�rios pat�ticos e/ou bizarros, l� ia a obra pro sacrif�cio, ganhando um ordin�rio carimbo de “VETADO”.

Quis o destino – generos�ssimo com este narrador – que uma dessas maravilhas que teve o desprivil�gio de receber o perverso carimbo viesse, por artimanhas do destino, ganhar os ouvidos atrav�s de minha voz: obra de cunho absolutamente pessoal, feita pra uma gravidez perdida de sua m�e, “Feto, poeta do morro”, de Luiz Melodia, impedida de chegar ao p�blico por um desses vetos bizarros, ficou in�dita at� que Jane Reis, companheira de Luiz por 40 anos, me desse a honra de traz�-la a p�blico em meu “Vale quanto pesa – P�rolas de Luiz Melodia” (Edi��o de Luxo), �lbum-homenagem que gravei com a obra do imenso poeta do Morro do Est�cio do nosso Brasil.

Seria injusto destacar um verso ou estrofe de uma obra t�o inteira e intensa. Ent�o, deleitem-se com a �ntegra da letra, sem vetos.


“Feto, poeta do morro”

Esta Santa
Este rosto
Esta madrugada
Esta dan�a
Esse roxo
Essa m�o gelada
Este atento
Ou�o passo pelos corredores
Este feto
Este sangue
Banha a Guanabara
Este teto
Este morro
� a minha escola
Nesse passo
Pra chegar
No Est�cio at� demora

Nesse papo
Pra chegar
No Est�cio at� demora
Deste asfalto
Pra chegar
No Est�cio at� demora

Carnaval, fantasias
S�o muitas barrigas
No nosso Brasil
Em cada barriga um poeta sorriu
� o morro do Est�cio do nosso Brasil

Ou�a em https://PedroLuis.lnk.to/FetoPoetadoMorro

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