(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas COLUNA HIT

Jeca-Tatu, personagem de Monteiro Lobato, inspirou Rolando Boldrin

A can��o '�ta pa�s da Am�rica' � lembrada por Marcela Telles, na se��o 'Qual � a m�sica?', da coluna HIT, como a cr�nica dos sem-terra durante a ditadura


22/08/2021 04:00

Marcela Telles
Escritora




1º de maio de 1971. Em cadeia nacional, o general M�dici anunciou � na��o:

“Pela primeira vez, na hist�ria deste pa�s, dar-se-� ao homem do campo aquilo que nunca lhe fora concedido: aposentadoria, aux�lio-invalidez e pens�o.”

A expans�o de direitos sociais aos trabalhadores rurais foi um dos eixos da pol�tica agr�ria adotada pelos governos militares para reduzir a tens�o em torno da quest�o agr�ria no pa�s. O outro eixo substituiu a demanda pela redistribui��o das terras por projetos de coloniza��o. Uma estrat�gia resumida no d�stico: fazer chegar o homem sem-terra a terra sem homens. A Amaz�nia era essa terra. A Transamaz�nica, o caminho para se chegar a ela.

Em cinco anos, cerca de 100 mil fam�lias foram transferidas para as agrovilas instaladas na regi�o. No in�cio dos anos 1980, muitos desses trabalhadores retornaram. Endividados por empr�stimos necess�rios para a compra de terras, ferramentas e fertilizantes, acabaram perdendo suas propriedades.

A cria��o do Programa de Polos Agropecu�rios e Agrominerais da Amaz�nia (Polamaz�nia), em 1974, e o lan�amento do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND 1975-1979), pelo general Geisel, colocaram as atividades agropecu�rias � frente dos projetos de coloniza��o. Em 1977, dos 627.038 hectares desapropriados por interesse social, somente 65,6 mil se destinavam � forma��o de col�nias.

Muitos trabalhadores se tornaram m�o de obra assalariada, empregada na derrubada da mata para forma��o de pastos e ao final dispensada. A pr�pria natureza da atividade pecu�ria dispensava m�o de obra e esvaziava territ�rios. De colonos, passaram a boias-frias, pe�es. Muitos acabaram escravizados nas fazendas dirigidas por conglomerados econ�micos e multinacionais.

Em 1980, Rolando Boldrin recorre � sonoridade caipira da viola e da sanfona para narrar a err�ncia desses homens na can��o “�ta pa�s da Am�rica”: “Eu vim l� dos cafund�s, do Judas/ E as mudas de lugar foi pra eu melhorar, de vida/ Mas que vida, que vida/ Que vida vou levar, s� Deus sabe/ Velhas estradas das milongas coloridas/ Grandes atalhos d�o num beco sem sa�da/ Se eu vim do Norte ou l� do Sul pouco importar�/ Leste ou Oeste � um faroeste pra poder chegar”.

Na constru��o do percurso tra�ado por esses homens pelo pa�s, o compositor retomou a figura do Jeca-Tatu, constru�do por Monteiro Lobato em 1914. Inseriu o personagem em meio ao �den-Eldorado que, na d�cada de 1970, foi situado pelos governos militares na floresta amaz�nica.

Frente � exuber�ncia da natureza que sustentava o Brasil dos senadores e governadores bi�nicos, como eram conhecidos os indicados aos cargos pelos generais ou eleitos pelo voto indireto, Rolando Boldrin focalizou a perman�ncia de um Brasil biot�nico, refer�ncia ao Biot�nico Fontoura, consumido principalmente no meio rural como complemento de uma dieta minguada.

Nesse pa�s subnutrido, o Jeca permanecia como descrito por Lobato: “No meio da natureza bras�lica, t�o rica de formas e cores”, s� ele “n�o fala, n�o canta, n�o ri, n�o ama. S� ele no meio de tanta vida n�o vive.”

Os versos do compositor colocaram � mostra um Brasil que se mantinha na contram�o do pa�s grandioso constru�do pelos discursos e propagandas oficiais: “�ta pa�s amaz�nico/ Harm�nico e azul/ � um pa�s biot�nico/ Do Jeca, do Jeca-Tatu”.


.A COLUNA HIT PUBLICA AOS DOMINGOS A SE��O “QUAL � A M�SICA?”. A CADA SEMANA, UM CONVIDADO ESCREVE SOBRE CAN��ES MARCANTES LAN�ADAS DURANTE A DITADURA MILITAR E A RELA��O DELAS COM O BRASIL CONTEMPOR�NEO








*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)