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Estado de Minas COLUNA HIT

''Credo', o sopro de esperan�a vindo de Milton Nascimento e Fernando Brant

Inspirada na luta estudantil pela democracia, can��o composta em 1977 desafiou a ditadura, diz Bruno Viveiros Martins, pesquisador da m�sica popular brasileira


29/08/2021 04:00 - atualizado 27/08/2021 22:46

Bruno Viveiros Martins
Professor do Centro Universit�rio Est�cio e autor do livro “Som Imagin�rio: a reinven��o da cidade nas can��es do Clube da Esquina”

Em 1979, a campanha pela anistia ampla, geral e irrestrita aos presos e exilados pol�ticos agitou o pa�s com passeatas, protestos e mobiliza��es. Nesse contexto, grande parte dos brasileiros saiu �s ruas em nome da democracia contra a ditadura militar. Isso somente foi poss�vel com a reorganiza��o dos movimentos sociais e pol�ticos que voltavam a exigir, na pra�a p�blica, o respeito �s leis constitucionais perante o poder do arb�trio a partir de meados dos anos 1970.

Dois anos antes, em 1977, Milton Nascimento e Fernando Brant reuniram-se para compor uma can��o chamada “Credo”. Fernando aproveitou a melodia criada pelo parceiro para fazer uma refer�ncia especial � juventude: a movimenta��o de jovens universit�rios, em Belo Horizonte, na tentativa de realiza��o do 3º ENE – Encontro Nacional de Estudantes, que pretendia reestruturar a Uni�o Nacional dos Estudantes (UNE). Contudo, o evento previsto para 4 de junho foi duramente reprimido. Houve confrontos em muitos pontos da cidade. V�rios estudantes foram presos e fichados pelo Dops-MG, ap�s se recusarem a deixar o Diret�rio Acad�mico da Escola de Medicina da UFMG.

Em meio � “noite pol�tica” vivida no Brasil desde o golpe de 1964 – met�fora muitas vezes utilizada para referir-se de forma obl�qua � ditadura que amorda�ava o pa�s –, o Clube da Esquina tornou-se uma esp�cie de guarda crepuscular da liberdade.

“Credo” foi gravada no ano seguinte, como faixa inicial do LP duplo “Clube da Esquina 2”, tendo “San Vicente” como m�sica incidental. Ela � uma can��o otimista, luminosa, solar. Seu t�tulo carrega o nome de uma das ora��es mais importantes da liturgia cat�lica. Em latim, a palavra significa eu creio.

Por�m, o que � primeira vista aparenta ser refer�ncia � devo��o aos preceitos crist�os se converte, nos primeiros acordes, em verdadeira f� c�vica, uma vez que a narrativa se volta para a excel�ncia do cidad�o e seu amor ao mundo: “Caminhando pela noite de nossa cidade/ Acendendo a esperan�a e apagando a escurid�o”.

Em lugar do medo e do sil�ncio impostos pelo governo dos generais, Fernando Brant e Milton Nascimento recorrem � esperan�a, princ�pio catalizador da a��o pol�tica disposta a ultrapassar os limites de uma realidade insatisfat�ria. A interpreta��o vocal forte e segura de Milton � acompanhada em coro por L� Borges, Nelson Angelo, Novelli e Toninho Horta reproduzindo o clima das grandes manifesta��es que voltavam a tomar as ruas do pa�s naquele momento.

Na grava��o, fica claro o di�logo com a can��o latina. O ritmo contagiante que varia nos compassos 3/4 e 2/4, muito utilizado pelo cancioneiro hisp�nico, imprime � letra sentido positivo, firme e decisivo. No arranjo est�o presentes instrumentos andinos, como zampona, charango e bombo leg�ero, executados pelo grupo Tacuab�. A sonoridade, pr�pria da tradi��o musical da Am�rica do Sul, recriada pelo Clube da Esquina, sugere que a esperan�a de que falam os versos seria um sentimento compartilhado pelo canto un�ssono a reunir o povo de todo o continente em uma �nica marcha disposta a ocupar, novamente, as ruas e avenidas.

Ali�s, os compositores reinventam a pr�pria ideia de cidade enquanto espa�o comum, pr�prio da atua��o de cidad�os cr�ticos, participativos e capazes de refundar, na escurid�o do momento vivido, uma democracia repleta de luz: “Caminhemos pela noite com a esperan�a/ Caminhemos pela noite com a juventude.”




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