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Estado de Minas COLUNA HIT

Interven��o urbana que sinalizou com placas c�rregos de BH ganha livro

"Sobre o rio", da artista mineira Isabela Prado, re�ne tamb�m textos Michele Arroyo e Roberto Monte-m�r


24/10/2022 04:00 - atualizado 24/10/2022 08:51


Vestida de preto e sentada no chão, Isabela Prado olha para a câmera, rodeada pelas placas que criou
Isabela Prado � artista e professora da Escola de Belas Artes da UFMG (foto: Reprodu��o)

Por baixo das ruas centrais da cidade, rios seguem seu percurso escondidos pelo asfalto. Trabalho de pesquisa da artista Isabela Prado mapeou por onde est�o. Agora, o projeto ganha o livro “Sobre o rio”,  que registra tamb�m o hist�rico da artista e professora da Escola de Belas Artes da UFMG.

Isabel considera “Sobre o ri”o um marco na hist�ria da cidade. "Talvez Belo Horizonte seja hoje a �nica cidade do mundo que tem uma ampla sinaliza��o de seus c�rregos invisibilizados. Assim, entendo que Belo Horizonte nunca mais ser� a mesma, desde que essas placas est�o espalhadas na cidade, pois elas provocam uma mudan�a permanente na forma como percebemos o espa�o urbano", diz.

Para ela, conseguir executar essa interven��o na cidade foi uma tarefa de grande f�lego, "fruto de mais de uma d�cada de pesquisa e reflex�o sobre a quest�o dos c�rregos invisibilizados em BH". 

A artista reconhece que a publica��o do livro, por sua vez, "representa a possibilidade de fomentar a discuss�o dos temas trazidos pelo trabalho e ampliar seu alcance para um n�mero maior de pessoas, em Belo Horizonte, em outras cidades, ou at� outros pa�ses, j� que a edi��o do livro � bilingue".

O pr�ximo passo, segundo Isabela, � buscar o reconhecimento de “Sobre o rio” como um monumento da cidade, para garantir a manuten��o das placas ao longo do tempo. "Ao mesmo tempo, buscar sua amplia��o para outros bairros e cidades. Al�m disso, � importante neste momento disseminar ao m�ximo a publica��o, por isso estou fazendo doa��es para institui��es culturais, bibliotecas p�blicas, escolas, de modo a trazer essa discuss�o para um p�blico mais amplo".

capa do livro 'Sobre o rio'


De 2006, quando parte do curso do Ribeir�o Arrudas foi coberto e voc� come�ou a pesquisa Entre Rios e Ruas, at� o lan�amento do livro “Sobre o rio”, como voc� v� a rela��o da cidade com seus rios, o que mudou nesse per�odo? O poder p�blico est� mais ou menos preocupado do que h� 16 anos? O cidad�o j� enxerga os rios que cortam a cidade ou ainda acredita que a �gua surgiu por milagre? Por qu�?

O reconhecimento da import�ncia dos rios urbanos � um movimento internacional, que vem se fortalecendo nos �ltimos anos. Ent�o, hoje, existe uma consci�ncia muito maior, tanto por parte da popula��o como do poder p�blico, sobre a exist�ncia desses cursos d’�gua e a necessidade de cuidarmos deles.

No caso de BH, as fortes enchentes de 2020 colocaram esse tema ainda mais em evid�ncia. Mas ainda temos um longo caminho pela frente em termos de pol�ticas p�blicas sobre a preserva��o e o cuidado com as �guas na cidade.
 
Durante a implanta��o das 230 placas, qual o trecho foi mais importante para voc� e qual tem import�ncia na hist�ria de Belo Horizonte?

Neste primeiro momento, a sinaliza��o dos c�rregos ficou restrita ao per�metro da Av. do Contorno, porque eu tinha limita��es or�ament�rias para o projeto. Assim, a decis�o de onde instalar as placas se guiou justamente pela import�ncia dessa regi�o, que foi o n�cleo do planejamento original da cidade.

Mas n�o identifico algum trecho como mais importante nesse trabalho. Na verdade, o que me encanta � reconhecer que os c�rregos correm por toda a cidade, indiscriminadamente. Atravessam �reas muito diversas, em termos de urbaniza��o, desde bairros considerados “nobres” at� o Hipercentro de BH.
 
Olhando sua trajet�ria, � f�cil perceber que a �gua � fonte de inspira��o. Foi assim em “Repaisagem” (2010), “Li��o: se essa rua fosse um rio” (2011-2016) e “Sobre o rio” (2018-2021). O que faz da �gua inspira��o para seu fazer art�stico? � forma de den�ncia pelo mal uso da �gua, um registro hist�rico, ou s� uma fonte de inspira��o?

Tenho um interesse n�o apenas pelas �guas, mas pelos recursos naturais de forma geral. Entendo que o ser humano � parte da natureza e que nossa sobreviv�ncia enquanto esp�cie depende da nossa capacidade de estabelecer uma rela��o mais harm�nica com o meio ambiente.

Penso meus trabalhos como a��es que apontam para as rela��es sociais, acredito que tenham a ver com a paisagem, com a cidade, mas tamb�m com as disputas territoriais, a capacidade ou n�o de conviver, de aceitar as diferen�as, de compartilhar, quest�es que configuram nosso contexto e modo de vida. 
 
O poder p�blico e o cidad�o s�o respons�veis pelo agravamento  da crise h�drica, que � uma realidade. Voc� � otimista e acredita que as coisas podem melhorar? Na sua avalia��o, o que deve ser feito para garantir �gua a todos?

Meus trabalhos partem da ideia de que a conscientiza��o � o primeiro passo. Ningu�m pensa em cuidar de algo que n�o sabe que existe. Da� a import�ncia de “revelar” nossos c�rregos canalizados, de saber que caminhamos sobre um corpo d’�gua na cidade. Assim, isso passa a fazer parte de nossas preocupa��es enquanto sociedade e chega por fim �s pol�ticas p�blicas.

Da� precisamos falar de preserva��o das nascentes, de restri��es �s �reas de minera��o, de impermeabiliza��o do solo na cidade, de coleta de lixo, de garantir rede de �gua e esgoto a todos, e assim por diante.
 
Entre Rios e Ruas est� focado apenas na capital. De alguma forma, tendo rios como premissa, voc� pensa em ampliar este trabalho para a Regi�o Metropolitana ou para o estado?

Como eu disse, a instala��o das placas de “Sobre o rio” foi limitada por uma quest�o puramente or�ament�ria. Sempre esteve no meu horizonte o desejo de que o trabalho pudesse ser ampliado para toda BH, para a regi�o metropolitana e para outras cidades, pois o cen�rio de canaliza��o e “apagamento” dos c�rregos se repete em outros locais.

Para isso, seria necess�rio estabelecer parcerias com empresas ou institui��es que pudessem financiar essa expans�o, por meio de leis de incentivo � cultura ou outras formas de apoio.
 
Para voc�, qual a emo��o na s�rie de fotos “Futuro do pret�rito”?

“Futuro do pret�rito” � uma s�rie elaborada a partir do di�logo entre fotografias antigas e atuais de Belo Horizonte. As imagens antigas foram realizadas nas d�cadas de 1920 e 1960 e mostram momentos distintos de canaliza��o dos c�rregos presentes no munic�pio.

As imagens atuais procuram replicar de forma aproximada a localiza��o e o ponto de vista das antigas, de modo a explicitar as altera��es na paisagem da cidade relacionadas ao apagamento de seus cursos d’�gua.

Esse trabalho busca uma mem�ria da cidade, fala sobre o que ela j� foi e o que ela se tornou, a partir daquilo que em algum momento representava um pensamento de “modernidade”, de “futuro”. Isso nos permite tamb�m refletir sobre qual futuro podemos construir daqui em diante.

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