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Estado de Minas COLUNA HIT

Mineiro conta como � ser o 'ponto' de Vera Holtz no espet�culo 'Fic��es'

Jo�o Santos diz que o mais incr�vel do trabalho da atriz, em cartaz no CCBB, � v�-la criando e descriando fic��es sem deixar de ser quem �


23/04/2023 04:00 - atualizado 23/04/2023 08:49

João Santos no fundo do palco, sentado numa cadeira, enquanto Vera Holtz atua na peça Ficções
Jo�o Santos, no canto do palco, acompanha as falas de Vera Holtz na pe�a "Fic��es", em cartaz em BH (foto: Helv�cio Carlos/EM/DA Press)

Tudo em “Fic��es”, espet�culo em cartaz no CCBB, na Pra�a da Liberdade, emociona e chama a aten��o. Da interpreta��o de Vera Holtz � intera��o da equipe em cena, nada escapa ao olhar do p�blico que vem lotando o teatro desde a estreia, no in�cio deste m�s. Ganha espa�o o “ponto”, presen�a certa no teatro do passado, uma esp�cie de seguran�a para que o artista n�o perca nada do texto. 

Na turn� em Belo Horizonte, o mineiro Jo�o Santos tem a miss�o de ser o “ponto” de Vera. Ele acompanha tudo o que a atriz fala em cena. Em pouco mais de hora e meia, Jo�o l� as 35 p�ginas do roteiro.

Graduado em comunica��o social pela UFMG e mestrando em artes da cena na mesma universidade,  Jo�o Santos come�ou sua trajet�ria no teatro trabalhando na comunica��o de grupos e produtoras culturais da capital mineira. Autor do livro “Teuda Bara: Comunista demais para ser chacrete”, recebeu da atriz do Galp�o o incentivo para iniciar o trabalho como dramaturgo e diretor, atividades �s quais hoje se dedica prioritariamente.

João Santos, vestido de preto, sentado em cadeira no cantinho do palco no CCBB, durante a peça Ficções
A cada sess�o, o "ponto" l� as 35 p�ginas da pe�a (foto: Helv�cio Carlos/EM/DA Press)

Tenho brincado com a Vera e com a equipe dizendo que este "ponto" aqui � quase cenografia, porque ela tem dom�nio do texto!

Jo�o Santos, mestrando em artes da cena



Como surgiu o convite para ser o “ponto” de Vera Holtz?
A produtora local do espet�culo, Juliana Peixoto, que foi minha colega quando trabalhei na Rubim Produ��es, me pediu, sem segundas inten��es, indica��es de pessoas que pudessem ser o “ponto” da Vera na temporada do “Fic��es” aqui em BH. Por coincid�ncia, eu estava acompanhando uma oficina da cantora Cida Moreira com o Grupo Galp�o. O cen�grafo M�rcio Medina tamb�m estava na oficina e comentou conosco sobre o “Fic��es”, completamente deslumbrado com o trabalho da Vera. Tamb�m elogiou muito a op��o de assumir tudo em cena: o m�sico, os cenot�cnicos, a camareira e at� mesmo o “ponto”, essa figura resgatada do teatro de outros tempos. Disse pra Ju que n�o ia indicar ningu�m: se pudesse, adoraria ser, eu mesmo, este “ponto” aqui em BH.

Foi a sua primeira experi�ncia na fun��o?
Tenho feito assist�ncia de dire��o em alguns trabalhos teatrais. E at� mesmo me arriscado na dire��o de outros. Ponto, nunca tinha sido antes, mas sei bem o que � bater texto com um ator. Engra�ado que uma das minhas primeiras experi�ncias como diretor foi o espet�culo “Luta” (2019), solo de Teuda Bara, a pessoa a quem devo tudo no teatro. Neste trabalho, eu e os outros diretores, Cl�o Magalh�es e Marina Viana, acabamos entrando tamb�m em cena, “dirigindo” Teuda ao vivo. N�o � igual, mas tem semelhan�as com o “ponto” que fa�o agora.

Como se deu a sua prepara��o para o posto? 
O primeiro passo foi me reunir com a Alessandra Reis e o Wesley Cardozo, produtores do “Fic��es”. Me explicaram que o “ponto” era a figura que estaria o tempo inteiro em cena no espet�culo, mas eles n�o estavam procurando um ator. Ainda que notada pela plateia, a presen�a do “ponto” � discreta. Achei que me encaixava bem no que eles buscavam, porque n�o sou nem tenho pretens�es de ser ator. Mas j� fiz de tudo no teatro, inclusive estar sobre o palco, vez por outra. J� n�o � um lugar estranho para mim. Depois dessa reuni�o, os produtores compartilharam comigo uma filmagem e o texto do espet�culo, que estudei at� o nosso encontro em BH.

Como foi o seu encontro com Vera Holtz?
Vera chegou um dia antes da estreia da temporada, no dia reservado para a montagem t�cnica. Me chamou para o camarim dela e fomos passando juntos o texto inteiro. Ela foi indicando mudan�as que haviam feito e, por vezes, pegava minha caneta para anotar alguma altera��o. A grande dica que ela me deu foi ficar atento, mas tranquilo. Se precisasse de mim em cena, ela ia pedir. E nas rar�ssimas vezes que precisou, foi assim mesmo.

Vera Holtz e Teuda Bara foram homenageadas no Pr�mio Shell, n�o �?
Uma coincid�ncia foi ter feito aquela primeira reuni�o, on-line, com os produtores da pe�a no dia em que eu estava no Rio de Janeiro, para onde peguei o bus�o para assistir � homenagem que o Pr�mio Shell fez para Teuda. E a Vera, que recebeu o pr�mio de melhor atriz pelo “Fic��es”, encerrou a noite puxando em coro a ora��o que faz com a equipe todas as noites: “Eu seguro a minha m�o na sua, uno meu cora��o ao seu, para que juntos possamos fazer aquilo que eu n�o posso, aquilo que eu n�o quero, aquilo que eu n�o vou fazer sozinho: arte, teatro, e muita merda!”

Voc� precisou “contracenar” com Vera? Como voc� a define como atriz?
Tenho brincado com a Vera e com a equipe dizendo que este “ponto”aqui  � quase cenografia, porque ela tem dom�nio do texto! Quando digo que ela tem dom�nio, n�o significa que n�o possa se confundir, o que ocorre muito raramente. O que ela faz � muito mais dif�cil do que meramente decorar: ela se tornou dona do que est� sendo dito. Compreende, atravessa, traz para o corpo e a voz dela. Quem j� viu a pe�a talvez tenha se perguntado: o que � que a Vera interpreta ali? Ela pode ser um f�ssil, ela pode ser Deus, ela pode ser a mulher de azul na segunda fileira. E ela pode ser a Vera Holtz. Para mim, o mais incr�vel do trabalho desta grande atriz � v�-la criando e descriando fic��es, sem deixar de ser quem �. Quando ela � f�ssil, Deus ou a mulher da segunda fileira, ela � tudo isso de Vera.

Como � a sua rotina, a cada noite?
Assisto a quase todo o espet�culo meio de canto de olho, pois devo ficar atento ao texto. Mas h� o momento em que sempre olho pra ela: a hora em que Vera toca o berrante. �s vezes o p�blico ri, �s vezes fica em sil�ncio. Eu me arrepio do dedinho do p� � cabe�a. Acho de uma sofistica��o t�o grande aquele erre marcado, quando ela fala da “morte da bezerra”. T�o linda e aut�ntica aquela dic��o. Metade DNA, metade escolha da atriz. Quando essas coisas se encontram, se confundem e se completam? Uma atriz buscando a verdade inventada no palco. � lindo ser t�o ela mesma, sendo tamb�m – e t�o bem – tantas outras. Ser� que Vera precisa mesmo do “ponto”? Aquela vez em que ela me pediu o texto, ser� que era cena?

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