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Estado de Minas HIT

Artista mineiro exp�e no Museu de Arte Contempor�nea da Universidade de SP

Lucas Bambozzi mostra quatro videoinstala��es que prop�em uma reflex�o sobre o impacto social e ambiental das atividades mineradoras no Brasil


03/07/2023 04:00 - atualizado 02/07/2023 18:44
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Imagem da mostra Solastagia
Na mostra "Solastalgia", em cartaz em S�o Paulo, Lucas Bambozzi apresenta quatro instala��es a respeito dos efeitos da minera��o (foto: Lucas Bambozzi/Divulga��o)
Exposi��o com trabalhos recentes do mineiro Lucas Bambozzi est� em cartaz desde o �ltimo s�bado (1/7), no Museu de Arte Contempor�nea da Universidade de S�o Paulo.

Em “Solastalgia”, individual do artista visual e pesquisador em novas m�dias, quatro videoinstala��es prop�em uma reflex�o sobre o impacto social e ambiental das atividades mineradoras no Brasil. A curadoria � de Fernanda Pitta.

“Solastalgia” (2023), uma instala��o que nasce do processo de realiza��o do longa-metragem “Lavra” (2022, 91 minutos), abre a exposi��o. A instala��o evidencia as trag�dias causadas pela minera��o de ferro no entorno de Belo Horizonte.  

“Extra, extra” (2023), “Paisagens rasgadas” (2021) e “Luzes” (2023) tamb�m integram a mostra.

O artista visual Lucas Bambozzi
O artista visual mineiro radicado em S�o Paulo Lucas Bambozzi (foto: Divulga��o)


As mudan�as ambientais est�o cada vez mais presentes. Voc� acredita que os cidad�os do mundo inteiro est�o realmente preocupados com isso?

Acho que existe muito desconhecimento de informa��es cruciais sobre as mudan�as ambientais. Mas existe tamb�m muita desinforma��o em curso. E essa desinforma��o �, em parte, pela ignor�ncia (no sentido de desconhecimento mesmo), mas tamb�m existe a desinforma��o ideol�gica, implantada como manuten��o das pol�ticas extrativistas que sustentam o capital.

Como pergunta Mark Fisher: “� mais f�cil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?” Parece que sim. Ent�o, para a maioria da popula��o e dos “dirigentes” do planeta, essa desinforma��o � uma forma de manuten��o das pol�ticas vigentes que impactam o planeta.

A exposi��o busca discutir, em parte, a produ��o de imagens gerada pelas cat�strofes, algumas consideradas naturais, e outras nitidamente causadas pelas a��o do extrativismo.

Em que momento surgiu a inspira��o para esse projeto?

Meu interesse pelo termo solastalgia, um neologismo, que circula h� menos de 20 anos (cunhado pelo fil�sofo Glenn Albrecht), veio a partir das pesquisas para a realiza��o do filme “Lavra”, longa-metragem lan�ado em 2022; uma produ��o mineira, iniciada em conjunto com a escritora e roteirista Christiane Tassis.

Discutimos bastante o termo “topophilia” durante o processo de roteiriza��o, tamb�m uma palavra nova, que define as instabilidades geradas nas pessoas a partir das a��es derivadas de grande impacto ambiental.

O conceito de solastalgia, um “desarranjo” gerado pela mudan�a na paisagem, ficou ecoando na minha cabe�a desde ent�o, e fui desenvolvendo outras ideias e trabalhos em torno do termo. S�o desdobramentos que acontecem de maneira espont�nea e v�o se tornando experi�ncias que podem ser compartilhadas, como � o caso agora dessa exposi��o.

Como era a sua vis�o desse tema antes desse projeto e como ela est� agora com a exposi��o?

Acredito que para a grande maioria das pessoas, a preocupa��o com o ambiente � algo novo. No meu caso, veio a partir da intersec��o com os estudos do espa�o e do lugar - algo entre geografia, arquitetura e comunica��o.

Seja como artista visual que eventualmente faz instala��es, seja como pesquisador junto � FAU-USP, onde desenvolvi, entre 2015 e 2019, trabalhos relacionados ao entendimento do nosso entorno e das materialidades e imaterialidades envolvidas nesse entendimento.

Ou seja, na condi��o de algu�m que cresceu em Minas Gerais e se viu rodeado de montanhas. E essas montanhas j� n�o s�o mais o que eram, est�o sendo devoradas pela minera��o, especialmente de ferro, que � uma minera��o em mega escala.

Creio que uma frase como “Olhe Bem As Montanhas” (frase/obra do artista Manfredo Souzaneto, criada em 1974, e que circulou muito em Belo Horizonte nos anos 1980), tem hoje um impacto muito maior do que na �poca em que foi criada, pois � mais evidente o que acontece nas montanhas hoje. Pois podemos v�-las de cima, por drones, mapas a�reos e imagens de sat�lite.

Como artista multim�dia e pesquisador em novos meios, como voc� v� a evolu��o da tecnologia? At� que ponto, por exemplo, a intelig�ncia artificial vai contribuir com a arte?

Os sistemas de intelig�ncia artificial j� v�m sendo usados h� algum tempo (em aplicativos, em sistemas de busca, em nosso rastro on-line) e nem sempre nos demos conta sobre as decis�es que fazem por n�s. Mas, sim, parece que chegamos a um momento em que temos que nos relacionar mais diretamente com eles.

Ent�o me parece �bvio; � importante termos maior conhecimento (e menos desinforma��o) sobre a forma como funcionam e como passam a definir tend�ncias e padr�es. E da� pensar formas criativas para produzir algo com isso. Da mesma forma como �s vezes n�o utilizamos as palavras corretas para encontrar algo mais espec�fico no Google, n�o sabemos como obter resultados de sistemas como Dall-e, Midjourney ou Stable Diffusion.

Vejo-me revendo articula��es sem�nticas e de gram�tica para lidar com um chatGPT, por exemplo. � importante saber fazer as perguntas certas, treinar o sistema, para escapar das platitudes e das mesmices – que afinal s�o a reprodu��o das platitudes e padr�es espalhados no mundo digital.

Isso envolve alguma criatividade e algum envolvimento. A exposi��o “Solastalgia”, por exemplo, tem um trabalho chamado “PROMPT” que discute a rela��o entre texto e imagem. � uma proje��o de v�deo que cont�m descri��es sem�nticas (e subjetivas) das imagens, um prompt de IA reverso, um roteiro �s avessas, uma forma de redefinir o que constitui uma imagem ou sequ�ncia em um filme.

Voc� j� trabalhou com a banda mineira Virna Lisi, com Gilberto Gil, dirigiu o musical “Mug show”, produzido pela TV Minas. Como a m�sica e o rock influenciaram sua carreira? Tem saudades de trabalhar com a m�sica?

Na sua lista de um passado mais ligado � m�sica, faltou mencionar o grupo FAQ (2002-2012, grupo mineiro, derivado do Feitoam�os), que foi uma experi�ncia audiovisual que pretendia alternar os pap�is entre produ��o de imagem e produ��o de sons.

Mas � verdade que sempre me vi como uma esp�cie de m�sico frustrado, como algu�m que buscou fazer com as imagens o que n�o sabia fazer com um instrumento musical. Talvez por isso nunca tenha me isentado de colocar as pr�prias m�os nas trilhas sonoras dos trabalhos que fiz.

Esse fazer “imagem-m�sica” me faz falta, sempre. E vez por outras me lan�o em performances audiovisuais em que retomo isso. Como exemplo, as �ltimas foram “Eu n�o vou juntar tudo isso” (2016) e “Interst�cio/Fantascopia” (2020).

Al�m disso, o envolvimento com a cena audiovisual � uma constante.
Fiz por v�rios anos a curadoria do festival ON_OFF Live Images, do Ita� Cultural, e coordeno os projetos de cinema expandido do AVXLab.org junto com o Dem�trio Portugal.

Na luta em defesa do meio ambiente quem tem mais poder - o audiovisual, as artes pl�sticas, as instala��es…
Quando tivemos a ideia de fazer o "Lavra", em um formato pensado para o cinema, e sua rede de exibi��es, a ideia era fazer algo que pudesse ser uma a��o pol�tica de valor simb�lico e criativo, e que pudesse chegar a milhares de pessoas.

� um circuito mais amplo, mais aberto, democr�tico e capilarizado do que o alcance que uma instala��o no campo das artes pl�sticas normalmente tem. Isso me moveu bastante, envolvido na responsabilidade de dizer algo para
um p�blico maior e mais diversificado do que a arte contempor�nea.

Nesse sentido, sem d�vida, o campo da m�sica pop tem um poder imenso em termos de alcance. Mas tudo depende de como cada “coisa” � embalada e colocada em circula��o. Envolve linguagem, mas tamb�m verbas.

O "Lavra" foi um filme feito com baix�ssimo or�amento, mas mesmo assim, chegou, tem chegado e vai continuar chegando a um p�blico imenso, o que nos enche os olhos e a vontade de amplificar a voz das pessoas retratadas.

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