
Se a m�sica encontrou sua solu��o, agora � hora de as pessoas entenderem que informa��o de qualidade tem custo e bons profissionais envolvidos’
Infidelidade digital
Em 11 de maio de 2015, foi publicado um artigo que eu escrevi para a vers�o digital da revista RollingStone. O assunto era sobre as mudan�as que estavam para acontecer na ind�stria da m�sica com a chegada do formato digital, incluindo a� as plataformas de streaming e como aspessoas estavam reagindo a essa transforma��o.
Passados quase cinco anos, vejo que estava certo em boa parte das minhas previs�es, mas uma delas eu n�o consegui perceber na �poca. O formato de comercializa��o da m�sica passaria de venda de produto para presta��o de servi�o. Explicando melhor: at� pouco tempo atr�s, quando se gostava de uma m�sica, compr�vamos um CD para escut�-la, principalmente no carro ou em casa. Hoje, para escutar m�sica, fazemos assinatura de um prestador de servi�o que disponibiliza um acervo gigantesco que podemos utilizar na hora em que quisermos, onde quisermos. Hoje, os carros e computadores nem v�m com dispositivos para escutarmos CD. Isso significa que estamos sendo for�ados a nos digitalizar.
Em 2015, havia muita choradeira dizendo que o futuro da m�sica era complicado e que os artistas dificilmente viveriam de seu trabalho. Todo esse pessimismo acabou, os ajustes foram feitos e novamente a roda voltou a girar. Isso gerou um imediatismo em busca de recuperar o dinheiro perdido, mas nada que o tempo n�o fizesse voltar as coisas ao ritmo normal.
A mudan�a no formato de comercializa��o mudou o comportamento das pessoas. Antes sab�amos muito de pouco artistas, pois escut�vamos os �lbuns do in�cio ao fim. Como hoje em dia temos acesso a quase todas as m�sicas, n�o ficamos mais presos a poucos nomes.
Por isso, falo que estamos passando por um per�odo de infidelidade digital. Estamos livres para escutar o que quisermos. Nossa rela��o passou a ser com as can��es. Mas isso n�o acontece somente com o mercado musical. A infidelidade digital � a pr�pria ess�ncia dos sites que fazem compara��o de pre�o. A import�ncia e a solidez de uma marca perderam muito espa�o nesse tipo de compara��o. Ainda nos prendemos a algumas marcas com que temos rela��o afetiva, mas a trai��o fica bem sedutora ao olharmos somente para os pre�os. � a velha hist�ria do anjinho e o capetinha. Um tentando te mostrar que � importante n�o mudar, e o outro dizendo que existe um mundo novo com novas op��es mais baratas.
Tivemos um aumento absurdo de informa��es dispon�veis para nos auxiliar nas decis�es e o grande trabalho agora � saber selecionar o que nos importa. Acredito que esse exagero de noticias falsas, as famosas fake news, seja a chave para a mudan�a da ind�stria da informa��o. Se a m�sica encontrou sua solu��o, agora � hora de as pessoas entenderem que informa��o de qualidade tem custo e bons profissionais envolvidos. Para isso existem os ve�culos de comunica��o e suas assinaturas.
